Blog do Pablo Miyazawa

Quem não aprecia cultura pop bom sujeito não é

Pablo Miyazawa

Quando fui convidado para fazer um blog neste UOL, o pedido do editor não poderia ser mais específico: “Quero que você seja o nosso colunista de cultura pop.”

O problema é que esse termo – cultura pop – sempre me deixou com o pé atrás. É algo tão amplo, significa tanta coisa ao mesmo tempo, que acabou banalizado, distorcido e incompreendido. Sempre que o assunto surge, eu me pego com problemas para definir essa história direito.

Vejamos o que diz a busca do Google. A indagação em inglês “what is pop culture?” traz 326 mil resultados. Em português, “o que é cultura pop?” retorna pouco mais de 75 mil páginas. Ou seja, não é exatamente uma pergunta atípica, muito menos o tipo de dúvida que fica sem resposta na atual era da informação.

Dá para explicar de muitos jeitos, alguns mais acadêmicos, outro mais coloquiais. Eu particularmente gostei do meio-termo desta definição aqui: “(…) é uma coleção de pensamentos, ideias, atitudes, perspectivas e imagens preferidas pela população mainstream”. Resumindo, cultura pop seria “uma espécie de denominador comum”, que engloba não só o entretenimento, mas as notícias e fatos envolvendo pessoas públicas (as tais “celebridades”), o esporte, a tecnologia e a moda, além da política e as relações sociais e suas ferramentas.

Também é aceitável definir a cultura pop como “o grupo de práticas e costumes reconhecido e aceito por um enorme grupo de indivíduos”. E inclusive é certo compreendê-la como “tudo que é produzido em massa para o consumo, com difusão na mídia e com intenção de atingir o grande público”. E interpretando matematicamente, cultura pop também é aquilo que sobra após descontarmos tudo o que for considerado “alta cultura”.

A cultura pop existe para ser reproduzida, consumida, apreciada e discutida. São temas que geram conversas, paixões e controvérsias, e nem sempre tratam de acontecimentos da vida real. Ela existe com os jovens em mente, mas pode ser recebida por adultos e pela “melhor idade”, sem restrições a gêneros e minorias. Ela é para todos, e todos deveriam aproveitá-la. Reinterpretando aqui um ditado popular, afirmo que quem não demonstra carinho por qualquer aspecto da cultura pop um bom sujeito não é.

O lado bom é que, apesar de ter um conceito tão amplo, a cultura pop pode representar ideias diferentes para cada pessoa. Para mim, que trabalhei a vida inteira transitando por esse universo, cultura pop é principalmente algo divertido sobre o qual sempre terei prazer e curiosidade em explorar e compreender melhor.

Costumo dizer que sou um jornalista de sorte, porque nunca consegui me distanciar da cultura pop na minha profissão. Durante oito anos editei revistas para o público infanto-juvenil na Conrad, uma editora cujo slogan orgulhoso era “a mais legal do Brasil”. Ali, escrevi sobre videogames, tecnologia pessoal, desenhos, filmes blockbusters, séries de TV e histórias em quadrinhos, tanto as de super-heróis ocidentais quanto os mangás lidos de trás para frente. Naquela época, entre o fim da década de 1990 e o começo do século, todos esses assuntos eram considerados “coisa de nerd”, sob um olhar longe do positivo por parte da grande mídia. Graças à democratização gerada pela internet, hoje, ser nerd é cool. Quem diria?

Em 2006, entrei na equipe da revista “Rolling Stone”, que estava prestes a ser lançada no Brasil. Apesar de a música ser meu assunto favorito, eu jamais havia trabalhado como jornalista nesse segmento. Mas fui lá para cuidar da “cultura pop” da publicação (e lá fiquei por quase oito anos, até junho passado). Apesar de ser conhecida por seu apelo musical, a “Rolling Stone” é um produto essencialmente dedicado à investigação da cultura pop – ou como bem definia o primeiro slogan, “tudo o que importa”. E esse “tudo” nada mais é essa cultura pop que sempre permeou meu trabalho e minha vida.

Nesse espaço, pretendo escrever sobre todas as coisas que considero interessantes, mas que acho que irão interessar a você também. Fazer um blog sobre um assunto tão amplo e divertido parece algo fácil – e é mesmo. O difícil é começar. Agora que o momento difícil já passou, que venha só a parte fácil e divertida. Espero você aqui comigo.