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O fã de cultura pop que vai à Comic Con Experience é um cara como eu e você
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Pablo Miyazawa

A Comic Con Experience está a todo vapor.

Passei a quinta e a sexta-feira inteiras andando pelo pavilhão do Centro de Exposições Imigrantes e gostei bastante do que vi. Para quem nunca foi a esse tipo de evento, é impressionante logo de cara. E mesmo para quem já é macaco velho nesses encontros de fãs (meu caso), também é algo notável. Está tudo bem organizado, os voluntários realmente ajudam e é fácil de se encontrar em meio a tantos estandes, ruídos e multidões. Há filas (que no sábado e domingo devem piorar), mas foi perfeitamente suportável.

Mas o que mais me chamou a atenção foi a diversidade do público. Havia de tudo por ali, não apenas o típico estereótipo de geek/nerd a que estamos acostumados – não vou descrevê-lo, você sabe do que estou falando. Em seu primeiro ano, o CCXP tem como maior mérito ser um encontro democrático que agrada a todo tipo de gente, não apenas os entusiastas mais apaixonados.

Talvez seja meramente uma impressão minha, mas notei um público diferente em relação aos encontros de fãs de anime/mangá que  já existem há anos no Brasil. Também não parecia ser o tipo de consumidor que frequenta eventos de videogame, como o recente Brasil Game Show. É claro que havia os caras vestindo camisetas de “Star Wars” e de super-heróis, os cosplayers (aliás, muito mais caprichados do que o normal – quase não vi “cospobres”) e os devotos colecionadores de histórias em quadrinhos.  Esse público, típico e esperado, estava lá em peso.

E reparei também em um exemplar mais recente, surgido com o advento dos novos filmes de super-herói  e das séries televisivas de apelo cinematográfico. É o fã “Bazinga”, como bem me definiu um amigo quadrinista que expunha seus trabalhos por ali. É o cara que se identifica com o universo nerd, sem preconceitos, mas que não é assim tão dedicado, e não necessariamente lê quadrinhos ou joga games. Adora “Os Vingadores” e “Breaking Bad” tanto quanto “Game of Thrones” e “O Hobbit” – e claro, “Big Bang Theory”.

Mas também vi muitos pais e mães de família com crianças pequenas a tiracolo (um grande número, surpreendente para o horário comercial de dias de semana). E grupos de pessoas mais velhas que estavam visitando por diversão, como uma atração turística qualquer. Encontrei até um amigo que conheci em Manaus, guia turístico na Amazônia, que aproveitou férias na cidade para passar o dia experimentando as novidades. Não faltaram fãs de heavy metal cabeludos e de camisetas pretas, nem um ou outro hipster de bigode, camisa de gola e óculos de aro grosso. Havia praticantes de luta medieval com espadas de espuma, devidamente paramentados. Jogadores profissionais de games uniformizados. Garotas de vestido e salto alto. E um monte de caras absolutamente normais, impossíveis de se rotular, tirando selfies, comprando miniaturas e encarando filas para os painéis com artistas. Havia de tudo um pouco. Seja lá de que tribo você for – ou de nenhuma –, não há como se sentir deslocado.

O que me leva a pensar que essa ideia de “público geek” (a quem o evento declaradamente se destina) é algo um tanto nebuloso. Se na teoria o Comic Con Experience é dedicado aos fãs de cultura pop, então na prática ele é adequado a todo mundo. Afinal, como falei aqui desde o primeiro dia, todo mundo gosta de cultura pop, nem que seja um pouquinho – e quem não aprecia cultura pop, bom sujeito não é.

Entendo a necessidade de se vender o Comic Con Experience como “a maior convenção geek”, pelo menos nesse primeiro ano. Mas gostaria de crer que tal definição não será mais necessária nas próximas edições. Em um mundo ideal, as pessoas cada vez mais se assumirão como interessadas em algum aspecto da cultura pop – seriados, filmes, super-heróis, jogos eletrônicos, e por aí vai –, de forma natural e sem para isso serem rotuladas como parte de uma “tribo”.

E mesmo já frequentando esses eventos há anos, sempre é possível absorver novidades. Em dois dias, posso dizer que aprendi algumas coisas, pelo menos do ponto de vista estético:

– “Star Wars” está forte como nunca – talvez mais do que estava em 2005, ano em que o último filme foi lançado. De longe, a franquia é a que mais aparece nas camisetas dos visitantes. E os cosplayers capricharam – vi várias Princesas Leia (em trajes do “Episódio IV” e como a escrava sexy de Jabba the Hutt), alguns Han Solo, um outro Luke Skywalker, soldados imperiais e até uma bem equipada soldada mandaloriana ao estilo Boba Fett. Se está assim agora, imagino como será na próxima CCXP, que ocorrerá de 3 a 6 de dezembro de 2015, dias antes do “Episódio VII” estrear nos cinemas.

– Outros cosplays muito bem cotados na CCXP: Doctor Who, Wolverine (e ocasionais Magnetos), Coringa, Robin, Homem-Aranha (sem máscara), Gandalf, Harry Potter, Chaves & Chapolin, Watchmen e muitos bonés de Mario e Luigi. E vi um Wally (Waldo), que dessa vez não estava nada escondido.

– Quase não vi: cosplays de figuras de animes como “Dragon Ball” , “Cavaleiros do Zodíaco” e “Naruto”. Mas vi alguns personagens de “Pokémon”. Heróis japoneses, aliás, foram mais raros nos primeiros dois dias. Será que os universos do pop japonês e das HQs ocidentais realmente não se misturam tanto?

– Sobre as camisetas: nem Batman, nem Superman, muito menos Homem-Aranha. O símbolo de super-herói mais constante das estampas era o do Capitão América. Provavelmente ajudou o fato dos dois filmes estrelados por Steve Rogers serem muito bons, mas nem isso deveria justificar a enorme quantidade de escudos tricolores com a estrela branca no meio. Uma em cada cinco camisetas com logotipos de heróis era essa. Mas também vi muitos raios do The Flash, perdidos entre morcegos, aranhas e o “S” de Krypton.

E ainda tem dois dias de Comic Con Experience. Corra para lá porque vai lotar.


Existe espaço para duas Comic Cons no Brasil?
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Pablo Miyazawa

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Logotipos dos eventos concorrentes BCC e CCXP. (Montagem UOL/Reprodução)

Amanhã, 15 de novembro, começa a batalha das Comic Cons no Brasil.

Para quem é nerd das antigas, a briga entre eventos de fãs não é novidade. No começo desse século, Animecon e Anime Friends disputaram a atenção e o tempo dos aficionados por animes, mangás e cultura japonesa. Quem detinha os direitos sobre a marca “Anime”, afinal de contas? Pelo visto, o público, que manteve a febre viva e em alta durante os últimos 20 anos – ainda que de uma maneira diferente de antigamente.

Agora essa briga amplificou por toda a cultura pop. Os eventos são maiores, falam sobre mais assuntos e consequentemente atraem mais pessoas. Ainda se dirigem a uma espécie de “gueto” do entretenimento, mas já expandem seus tentáculos e se aproximam cada vez mais daquilo que ainda é chamado de mainstream. O Brasil Game Show, no mês passado, atraiu 250 mil interessados por videogame e cultura digital. Não é pouca coisa.

E o Brasil, mais especificamente São Paulo, abriga dois novos encontros de fãs. Carregam nomes semelhantes – ambas chamam-se “Comic Con” – e trazem propostas parecidas: celebrar a cultura pop e proporcionar ao público experiências semelhantes às dos visitantes da já tradicional San Diego Comic-Con. Cada uma tem suas qualidades e peculiaridades e visam conquistar um mercado volumoso e apaixonado, mas que ainda não é bem atendido no país.

Nesse fim de semana, acontece a Brasil Comic Con. Já de 4 a 7 de dezembro, é a vez da Comic Con Experience. Leia aqui minha reportagem que compara esses encontros e coloca em questão a confusão de haver dois eventos parecidos em tão curto espaço de tempo. Será que o fã brasileiro de cultura pop está pronto e disposto a consumir tamanha variedade? A pergunta ainda não tem resposta, mas já se sabe quem irá decifrá-la: os próprios fãs.


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