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Há 40 anos morria Nick Drake, o homem mais triste da música
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Pablo Miyazawa

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Como será que Nick Drake (à esq.) lidaria hoje com o sucesso? (Foto: Reprodução/Facebook Oficial)

A tragédia musical de Nick Drake. Talvez você conheça muito bem essa história. Ou talvez nunca tenha ouvido falar dela. A segunda opção é a mais provável, ainda que aos poucos a situação esteja mudando. E é por isso que vale a pena falar a respeito.

Essa trama real pode ser resumida em poucas linhas. Nick Drake foi um excepcional cantor e compositor de origem britânica que lançou três belos discos de folk music em meados da década de 70 e permaneceu desconhecido até morrer jovem demais, em 1974. Décadas depois, tem sido redescoberto e vem ganhando cada vez mais fãs devotos. Hoje, ele é uma espécie de herói cult da música indie.

E se é para falar em hipóteses, talvez também seja injustiça chamar de “azarada” a trajetória da carreira de Nick Drake. Ele morreu na madrugada de 24 para 25 de novembro de 1974, há exatos 40 anos, vítima de uma overdose de remédios que usava para tratar um quadro agudo de depressão.

Essa saga se torna mais triste quando sabemos que Drake era morbidamente introspectivo, um tímido incorrigível, que não conseguia lidar com o fato de sua carreira ter sido um fracasso de público. De tão outsider que foi em vida, a ironia quis que ele nem pudesse entrar no mítico “clube dos 27”, que engloba ícones caídos como Jim Morrison, Janis Joplin, Jimi Hendrix, Brian Jones e, mais recentemente, Kurt Cobain e Amy Winehouse. Nick Drake morreu aos 26 anos, sete meses antes de completar os fatídicos 27.

pinkmoonEm 1969, quando tinha 20 anos e nenhuma experiência, Drake assinou contrato com a gravadora Island. Lançou três discos em um período de quatro anos, “Five Leaves Left”, “Bryter Layter” e “Pink Moon”. Nenhum vendeu mais de 5 mil cópias na época. Como artista emergente que era, ele também pouco facilitava: quase nunca dava entrevistas, não fazia shows e nem aparecia em programas de TV. Simplesmente não há cenas em video dele adulto (pode buscar no YouTube). Tudo isso contribuiu para reforçar a aura de mistério em torno de sua figura tão sombria e desconectada. Tudo o que existe de registro visual da existência dele são fotos de infância e poucas fotografias a que se permitiu posar para promover os discos. Sonoramente, porém, Drake deixou um material vasto e maravilhoso.

Nick Drake nasceu na Birmânia (ou Burma na época, hoje Myanmar), filho de pais ingleses, e se mudou para a Inglaterra em 1950, quando tinha apenas 2 anos. Começou a tocar piano ainda criança, por influência da mãe, que cantava e compunha não-profissionalmente. Formou bandas na adolescência, passou a tocar violão, morou fora para (mal) frequentar a faculdade, usou drogas e começou a tocar composições próprias na cena noturna de Londres. Foi descoberto por um produtor e gravou “Five Leaves Left”, um disco solo que não deu em nada. O mesmo aconteceu com o álbum do ano seguinte.

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“Fácil” não é uma boa medida para definir a música de Nick Drake. Mas “melancolia” é certamente a palavra que melhor representa o trabalho dele que se tornou simbólico mais tarde, o nublado “Pink Moon”. Com alto grau de sensibilidade e lirismo cru, o disco é construído apenas com um violão belamente dedilhado que faz a única cama para a voz, contida, sussurrada e reflexiva. É de doer de tão triste, e bonito como poucas canções de voz e violão já conseguiram ser.

Não faça comparações com o antigo Bob Dylan: Nick Drake não cantava sobre política e sociedade, nem queria mudar o mundo com suas canções. Ele também não sabia falar sobre sentimentos profundos e pessoais, e utilizava simbolismos ligados à natureza e ao bucolismo para se expressar como um observador remoto e pessimista. Suas músicas não tinham refrão e eram normalmente conduzidas por alguma frase de violão repetida à exaustão. Além disso, Drake cantava lindamente, ainda que em um estilo pouco melódico, e as habilidades com dedilhados e as afinações alternativas ainda hoje são consideradas impressionantes. A influência de bossa nova nunca foi oficialmente comprovada, mas pode ser sentida na soturna utilização do silêncio e no modo sutil como a voz e o violão percorriam caminhos distintos.

Terceiro e derradeiro álbum, “Pink Moon” foi produzido em 1971, durante um estado crescente da depressão, quando Drake já vivia isolado em Londres e pouco se comunicava com o mundo ao redor. Ele terminou a gravação em dois dias, apenas com ajuda de um engenheiro de som, sem overdubs ou outros instrumentos além do violão e um piano martelado que faz o solo da faixa-título. Lançado em fevereiro de 1972, com 11 faixas e apenas 28 minutos, é um dos mais sublimes trabalhos já registrados por um músico sozinho. Clique no vídeo abaixo para escutá-lo (e faça o favor de usar fones de ouvido e não se distrair com qualquer outra coisa).

Mesmo com um impulso promocional da gravadora, “Pink Moon” também fracassou. Com mais uma frustração nas costas, Drake desistiu da carreira e passou a morar na casa de campo dos pais no norte da Inglaterra. O comportamento era cada vez mais errático e introvertido, com a depressão chegando a níveis perigosos – alienado e infeliz, Drake vagava como um zumbi e deixava em estado de alerta quem o conhecia. Só no inicio de 1974, mostrou ter recuperado um pouco do gosto pela vida e chegou a voltar a compor. Parecia animado a tentar mais uma vez. Mas não deu tempo. Após uma noite aparentemente normal, a mãe o encontrou morto na cama. Jamais ficou comprovado se Nick se suicidou, ou se a morte por overdose de medicamentos prescritos foi mesmo acidental.

Há alguns anos, a irmã, Gabrielle Drake, declarou que prefere acreditar que a morte não foi causada por um erro de cálculo. “Eu pessoalmente prefiro achar que Nick cometeu suicídio. Prefiro que ele tenha morrido porque quis do que pelo resultado de um erro trágico. Isso para mim teria sido terrível..

Demorou anos para que o nome de Nick Drake viesse à tona pelos motivos certos. Compilações ressuscitaram a música perdida, e aos poucos os discos originais foram relançados. No auge da era do CD, um séquito de fãs dedicados começou a despontar. Artistas consagrados passaram a citá-lo como influência. No universo da música alternativa, Drake era o segredo bem guardado que aos poucos começava a se espalhar. Reportagens e biografias foram publicadas. E em 1999, a melhor de suas canções foi usada como tema de uma premiada propaganda de carro.

No comercial, intitulado “Milky Way” (veja acima), quatro jovens passeiam em um Volkswagen Cabrio sob um céu estrelado ao som de “Pink Moon”. O resultado é incrível, e além de angariar novos admiradores ao finado artista, ajudou a modificar as opiniões de alguns críticos sobre a utilização de músicas para fins promocionais. Foi o sucesso tão tardio, repentino e merecido de “Pink Moon” que consolidou Drake como um gênio a ser redescoberto, consumido e decifrado.

É algo triste imaginar que hoje Nick Drake seria tão venerado e seus shows seriam considerados verdadeiros rituais religiosos, como já aconteceu com tantos artistas injustiçados e tirados do limbo. Ainda mais se pensarmos que durante a curta carreira de pouco mais de cinco anos, ele adquiriu uma crescente aversão a se apresentar, por conta da timidez e do desconforto causado pela depressão que sempre o acompanhou. Não há dúvidas de que essa circunstância, entre outras, resultaram no fato de Nick Drake ser ignorado em vida para só receber os aplausos merecidos quando já não estava mais aqui para recebê-los. Se ainda estivesse vivo, será que ele estaria confortável com tanta adulação? E se a trajetória dele não tivesse contornos tão trágicos, será que um dia a música que criou seria valorizada?

Nada disso importa mais. Ainda que tenha demorado tanto, o mundo continua a redescobrir Nick Drake. E não tenho dúvidas de que ele finalmente teria ficado feliz. Antes tarde do que nunca.


Quer “ressuscitar” um artista morto? Assista e ouça uma entrevista inédita
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Pablo Miyazawa

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Discutir assuntos do presente por meio de vozes do passado. Essa é a proposta ambiciosa do site Blank on Blank.

O slogan define o objetivo melhor ainda: “Famous Names, Lost Interviews”. O projeto existe desde 2012 e é uma parceria entre o PBS Digital Studios e o Quoted Studios, uma produtora de conteúdo sem fins lucrativos cuja missão é “preservar e reimaginar a entrevista norte-americana”. A ideia é desenvolver soluções digitais diferenciadas para reformular conteúdos perdidos, empoeirados ou inéditos, utilizando, nas palavras dos produtores, “nossas raízes jornalísticas e sensibilidade”.

Como isso funciona na prática? A equipe do Blank on Blank entra em contato com jornalistas, estações de rádio e emissoras de TV, buscando gravações de entrevistas antigas, principalmente com personalidades que já morreram. Além disso, eles também pedem colaborações a jornalistas independentes dispostos a ceder seus arquivos pessoais. De posse do áudio, eles analisam o material, editam os melhores trechos do papo entre o entrevistador e o entrevistado e entregam o conteúdo nas mãos de um animador, que dá uma nova linguagem visual à conversa.

O resultado, como dá para imaginar, é fascinante. Já pedindo desculpas pelo trocadilho, os astros mortos ganham vida com as novas roupagens que embalam suas palavras Por mais estranho que seja, é possível enxergar e ouvir os artistas por um ponto de vista mais exposto e humanizado, mesmo que estejam escondidos por trás das animações. E mesmo que algumas dessas entrevistas sejam muito antigas e não sejam exatamente inéditas, a sensação que os vídeos proporcionam é de frescor e novidade. Ao menos por cinco minutos, é como se aqueles caras ainda andassem sobre a Terra e fizessem as coisas que costumavam fazer tão bem.

E a parte boa é que o Blank on Blank continua a postar novos vídeos religiosamente a cada duas semanas. Selecionei a seguir os meus sete favoritos, mas o site tem algumas dezenas mais para você aproveitar.

***

John Lennon e Yoko Ono – Por Howard Smith
No auge dos conflitos internos entre os Beatles, o casal mais famoso do rock cai na cama e nos ensina que tudo o que precisamos é mesmo de amor.

Kurt Cobain – Por John Savage
O mito do Nirvana fala sobre a inadequação que sentia na época de estudante e revela que chegou a se questionar se seria ou não gay.

Philip Seymour Hoffman – Por Simon Critchley
Em um bate-papo diante de fãs em 2012, o ator discute o significado da palavra felicidade e se questiona sobre seu perturbado estado de espírito.

Michael e Janet Jackson – Por John Pidgeon
Na entrevista conjunta (em que o repórter se dirige a Janet, que então faz a pergunta a Michael), os irmãos Jackson vislumbram a existência de Deus.

Jim Morrison – Por Howard Smith
Para o mito do The Doors, beleza era algo relativo. Nessa conversa surreal, ele fala sobre excesso de peso e relata seus hábitos alimentares da época da faculdade.

Jimi Hendrix – Por Keith Altham
As palavras do maior guitarrista de todos os tempos ganham contornos mórbidos quando sabemos que essa foi a última conversa gravada antes de sua morte.

Heath Ledger – Por Christine Spines
Falando do set de “O Segredo de Brokeback Mountain”, o melhor Coringa da história fala sobre a arte de interpretar e a vida a dois com a atriz Michelle Williams.


Dave Grohl é provavelmente o cara mais legal do rock – goste você ou não
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Pablo Miyazawa

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Para Dave Grohl, a vida está sempre jóia. Foto: Frederick M. Brown/Getty Images

Ontem o Foo Fighters apresentou uma música nova.

A faixa “Something From Nothing” é uma homenagem a Chicago, uma das oito cidades celebradas no disco-série-experimento “Sonic Highways”. Basicamente, Dave Grohl e seus comparsas criaram um lançamento multimídia robusto que deveria ensinar algo aos marqueteiros do U2 sobre como fazer barulho em cima de um novo disco. O single foi lançado oficialmente nesta sexta-feira, enquanto o disco completo chega às lojas em 10 de novembro.

Só que “Sonic Highways” não é só um álbum. O Foo Fighters escolheu cidades marcantes para a música norte-americana e gastou uma semana em cada uma. Instalou-se em um estúdio para ensaiar trechos de música e fazer jams. Entre as sessões, Grohl visitou e entrevistou figuras importantes da música local. O material em vídeo se transformou em uma série de oito episódios que começa a ser exibida hoje nos EUA, no canal HBO. No Brasil, “Sonic Highways” será exibida pelo canal pago BIS a partir de 30 de novembro.

As entrevistas de Grohl também inspiraram anotações que se tornavam versos para a música que era ensaiada. O próprio vocalista organizou e escreveu as letras e as gravou na hora com a banda. E isso se repetiu por mais sete semanas. “Sonic Highways” tem oito faixas, escritas e finalizadas cada uma em Chicago, Washington D.C., Nashville, Nova Orleans, Los Angeles, Austin, Seattle e Nova York.

Além disso, ao longo dessa semana, a banda promoveu a empreitada em cinco apresentações seguidas no programa de David Letterman.

Musicalmente, “Something For Nothing” é aquele Foo Fighters de sempre: introdução silenciosa, múltiplos riffs, guitarras altas e independentes, bateria pesada em meio-tempo e Grohl aproveitando para soltar a garganta como bem sabe fazer. Dada a natureza experimental de todo processo de composição do álbum, acho difícil encontrarmos entre as outras faixas algum hit persistente como “Everlong” ou “Learn to Fly”. Mas isso não seria novidade, visto que o Foo Fighters segue uma incômoda tradição de fazer discos irregulares, com metade de canções muito boas e a outra metade não tão inspirada (a exceção é o perfeito “The Colour and the Shape”, de 1997).

Do ponto de vista mercadológico, entretanto, o Foo Fighters dificilmente erra. O interessante é notar que um plano de lançamento tão bem calculado e ambicioso poderia impulsionar um efeito contrário: o de muita gente ficar de bode do Foo Fighters antes mesmo de o novo disco sair. Conheço muitos fãs incondicionais de Dave Grohl, mas me impressiona como tem gente que ouve rock e não simpatiza com o sujeito – e, consequentemente, com a atual banda dele. Seriam problemas o bom humor e o otimismo que ele exibe publicamente? Ou a sua onipresença constante na cena roqueira?

Capa completa de “Sonic HIghways”, previsto para 10 de novembro. (Reprodução)

Por outro lado, não há quem não respeite a trajetória dele como baterista do Nirvana. Concordo que são trabalhos diferentes e circunstancialmente únicos, e que ninguém é obrigado a achar o Foo Fighters maravilhoso só porque é a banda do sujeito que gravou o “Nevermind”. Mas creio que desde que recomeçou a carreira após a morte de Kurt Cobain, Grohl sempre trabalhou duro, foi eficiente e fez por merecer os muitos fãs que tem – além do título de “cara mais legal do rock”.

Sou daqueles que respeita e gosta do Foo Fighters, mas que prefere Dave Grohl na bateria. De qualquer forma, o considero um artista diferenciado e verdadeiro no que diz respeito ao esforço com que vende seu peixe. É um cara devoto à música e que ama o que faz, um guitarrista competente, um baterista excelente e o dono de uma das vozes mais marcantes do rock nos últimos 15 anos. Respeita seus mestres e se orgulha de compartilhar o palco com eles. Se Grohl é o grande “arroz de festa” do rock, é porque fez por merecer tocar com Paul McCartney, Jimmy Page, Robert Plant, Ozzy Osbourne, Tony Iommi e Bob Mould, só citando alguns.

Capa da “Rolling Stone Brasil” com Dave Grohl, de março de 2012. (Reprodução)

Capa da “Rolling Stone Brasil” com Dave Grohl, de março de 2012. (Reprodução)

Comprovei pessoalmente essa mítica simpatia quando o Foo Fighters foi a atração principal do festival Lollapalooza, em 2012. Eu havia entrevistado Grohl por telefone um mês antes, para a matéria de capa da “Rolling Stone Brasil”. Os 15 minutos programados se tornaram 30 apenas porque ele quis contribuir mais para o material. Foi simpático desde a primeira saudação e solícito durante todo o tempo. Bem preparado, rendeu frases fortes e não fugiu dos temas, falando inclusive sobre o Nirvana (que supostamente era um tema proibido da conversa). A revista vendeu bem, apesar da imagem da capa – Grohl oferecendo gentilmente o dedo do meio ao leitor, em uma foto não tão recente.

Em 7 de abril de 2012, dia do show, os produtores do festival avisaram que a banda me receberia. Às 19h, fui levado para a tenda atrás do palco onde eles atendiam executivos de gravadora (e suas famílias). Era a tradicional cerimônia de “meet and greet” a que os headliners em turnê mundial são obrigados a enfrentar – receber discos de ouro, apertar mãos e posar para fotos com convidados.

Após o assédio se dissipar, fui apresentado a um Grohl jovial e animado, vestindo camiseta preta da banda Mastodon, bermuda verde-oliva e o sorriso cheio de dentes. “Hey, man! How are you doing?”, saudou com um abraço e um “thanks” aparentemente sincero pela reportagem publicada. Encarando incredulamente seu próprio desaforo na capa da “Rolling Stone” que lhe entreguei, gargalhou e lamentou a falta de tempo desde o pouso no Brasil. “E já vamos embora amanhã!”, disse, ainda recebendo tapinhas nas costas e acenos à distância.

Nessa viagem, minha esposa veio comigo”, ele continuou, apontando para Jordyn, sentada em uma poltrona próxima. Ela se aproximou e Grohl nos apresentou. “Não trouxemos nossos filhos, deixamos as crianças em casa, com a minha mãe e a mãe dela. Estão com as avós, então somos só nós dois aqui na viagem toda, curtindo. No Chile fomos a uma vinícola, fizemos um jantar incrível…”.

E em São Paulo, conseguiram ver alguma coisa?

Fizemos porra nenhuma! Porque chegamos aqui ontem à noite”, ele faz careta, fingindo resignação. “É, eu sei. Então, da próxima vez, nós vamos chegar antes.”

E por que levaram tanto tempo para voltar aqui?

Honestamente? Eu estou feliz de termos demorado tanto para vir.” Ao perceber que poderia ser mal interpretado, ele fez questão de consertar: “Quero dizer, vou pensar em um bom exemplo. Ok: Espanha e Itália. Nós tocamos muitas vezes nesses países entre 1995 e 1998. Depois disso, a gente meio que parou de ir, porque havia outras partes do mundo pedindo para irmos fazer shows.”

O baixista Nate Mendel se juntou à roda enquanto o guitarrista Pat Smear folheava atentamente a revista. “Você a conheceu?”, Smear perguntou, apontando para uma foto de página inteira de Joan Jett. “Você deveria. Ela é maravilhosa!” Por coincidência, a TV ligada no canto da tenda indicava o exato início do show da cantora, no palco oposto. Algumas horas depois, ela estaria novamente em ação, dividindo duas músicas com o próprio Foo Fighters.

Grohl prossegue em sua tese. “Basicamente, voltamos à Espanha e à Itália no ano passado, porque não fizemos show nenhum lá em 12 anos. E foram do caralho. Todo mundo cantou as músicas. Já que não aparecíamos nesses países há tanto tempo, a ausência fez com que as pessoas quisessem muito aquilo. E daí fomos lá e ‘uhn!’”, ele bate na palma de uma mão com os dedos da outra. “Resultado: Foi o melhor show de todos os tempos. Agora, nós vamos retornar em breve. E será a mesma coisa com a América do Sul”, prometeu.

Acostumado a encarar multidões em caldeirões, Dave Grohl parecia genuinamente empolgado com a missão de entreter 75 mil brasileiros ansiosos. Inclusive, tinha pronto o plano para reverter a pressão e conquistar o controle logo de cara.

“A gente vai começar o show com ‘All My Life’”, ele disse em um sussurro, como se revelasse um truque sujo. “Espere só para ver o que acontece. É uma puta loucura!”


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