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Entrevista: o ano perfeito do Boogarins (e o que 2015 promete para a banda)
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Pablo Miyazawa

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“Dinho” Almeida (à esq.) e Ynaiã Benthroldo, metade do Boogarins. (Foto: Mídia Ninja/Divulgação)

O Boogarins foi uma das unanimidades da música brasileira em 2014.

E não está errado quem acha que eles surgiram “do nada”. Há pouco mais de um ano, o grupo formado em Goiânia jamais tinha feito shows fora do próprio estado. Mas graças a um bem executado espírito de “do it yourself” potencializado pela internet, a banda conseguiu lançar seu primeiro disco nos Estados Unidos antes mesmo de ter qualquer registro oficial no Brasil.

O grupo começou as atividades em 2012, ainda como uma dupla. Sozinhos, os guitarristas Fernando “Dinho” Almeida e Benke Ferraz gravaram as dez faixas que formam o disco  “As Plantas que Curam”. O título é uma homenagem à avó de Benke, adepta da medicina natural. Já o nome da banda veio de uma flor, o bogarim, da família do jasmim, que significa o “amor vivo e puro que existe dentro da pessoa”.

A repercussão positiva do disco rendeu à banda convites para se apresentar em festivais internacionais (foram mais de 100 shows fora do Brasil), boas críticas em grandes publicações e certo barulho na imprensa brasileira. No final de outubro, a banda venceu a categoria Artista Revelação do Prêmio Multishow, recebendo o prêmio das mãos de Ivete Sangalo. Semanas depois, apareceu na escalação do primeiro dia do festival Lollapalooza Brasil 2015. Para encerrar o ano perfeito, o quarteto foi uma das atrações do Popload Festival, que aconteceu na semana passada.

Escrevi uma reportagem sobre a trajetória do Boogarins para o UOL Música, que pode ser lida aqui. E abaixo, você confere mais trechos inéditos da entrevista com o guitarrista Benke Ferraz.

***

Ao longo de 2014, vocês fizeram muitos shows para plateias estrangeiras que desconheciam vocês. Daí, o “As Plantas que Curam” passou a repercutir e o público foi respondendo de modo diferente às músicas. Como vocês acompanharam a evolução da recepção ao trabalho da banda? 
Benke Ferraz: Nós tocamos muito pouco fora de Goiânia, antes da turnê internacional. Basicamente alguns shows pelo estado de São Paulo, em Recife e em Uberlândia. Em Goiânia, já tínhamos um publico cativo desde as primeiras apresentações, o que era a única coisa que esperávamos lançando as músicas antes de fazer shows. Após passar seis meses fora do país, tocando em todo canto, era de se imaginar que aumentaria a procura para que tocássemos em novos lugares aqui no Brasil e de certa forma, muita gente já conheceu as músicas. Mas o show é uma experiência totalmente diferente do disco, né? Nos Estados Unidos, pudemos tocar para platéias que nos desconheciam totalmente, caso dos shows de abertura pra atos maiores, como o Guided By Voices.
Mas, como o disco foi lançado oficialmente lá, também encontramos platéias bem familiarizadas com nossas músicas – mesmo que não cantando as letras por motivos óbvios [risos]. Ele esteve na lista dos 10 melhores de 2013 pelo “Chicago Tribune” e tocou bastante nas rádios de música alternativa de alguns estados. Coube a nós cumprir uma rota de turnê que, como diz o Raphael [Vaz, baixista], “plantasse a sementinha” em cidades que estivessem entre as cidades onde nós já tínhamos algum respaldo do público.

Você andam experimentando músicas novas nos shows recentes. Como o público está reagindo a elas? Chegaram a modificar as músicas antes de gravá-las para o disco, levando em consideração a recepção a elas ao vivo?
Para mim, é só maravilha [risos]. Tentamos sempre manter o primeiro disco como base do repertório, mas quando podemos fazer sets mais longos, gostamos de mostrar as coisas novas. Com certeza mudamos bastante coisa na hora de gravar. Tem coisa que funciona na energia do show, mas que gravado, com a pessoa podendo escutar aquilo nas mais diversas situações, não vai bater tão forte. Temos isso bem claro pra gente: palco e estúdio são ambientes diferentes, e como banda, procuramos coisas bem distintas em cada um. Mesmo que o disco tenha sido gravado ao vivo, não é pra ser um registro de como a banda soa ao vivo. É para ser qualquer coisa.

E o que você pode falar sobre o disco novo? Nome, faixas, estilo, influências, produtor… Tem previsão de lançamento?
Assim como o “As Plantas que Curam”, vejo esse novo trabalho como um disco de canção. As influências são muito soltas em estilo e estética, mas tudo aquilo feito com fluidez e verdade acaba nos inspirando a criar e a elaborar, não importa se é lo-fi ou high definition [risos]. O disco foi produzido pela banda. Gravado pelo Jorge Explosión, no Circo Perrotti, em Gijon, na Espanha. A nossa expectativa é ter o disco lançado no primeiro semestre de 2015. Mas sem pressão [risos].

O Ynaiã Benthroldo, ex-Macaco Bong, entrou na banda com a saída do Hans Castro, baterista anterior, que virou pai. Ele é um integrante fixo agora? E no disco, quem tocou a bateria?
Já está rolando muito bem. Pouco mais de um mês tocando com o Ynaiã e temos a impressão de tocar juntos há tempos. O disco foi gravado pelo Hans. Ele ainda fez outros dois meses de turnê com a gente após isso. Praticamente não pôde acompanhar a gravidez. Foi um momento complicado pra gente, mas agora tudo está nos eixos, inclusive as nenês já vieram ao mundo.

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Raphael Vaz (baixo) e Benke Ferraz (guitarra) em ação. (Foto: Mídia Ninja/Divulgação)

Os últimos 12 meses foram intensos para o Boogarins. Vocês surgiram do nada e alcançaram muito em pouco tempo. Quem os vê no palco não imagina que a banda é tão recente, nem que vocês são tão novos (Benke tem 21 anos e Dinho, 22). Como estão fazendo para manter os pés no chão? Há pressões, internas ou externas?
As coisas mudaram demais nesse ano realmente. Por mais que o contato da Other Music [selo que lançou “As Plantas que Curam” nos EUA] tenha acontecido no inicio do ano passado, tudo ainda estava no campo das ideias, não sabíamos o que iria acontecer de verdade.
Acho que a pressão sempre foi muito mais interna por causa disso. A gente sempre quis fazer isso, tocar e tocar e tocar. Mas se ano passado nos falassem que faríamos quase 150 shows em um ano, provavelmente ficaríamos amedrontados [risos] Tendo vivenciado essa rotina aprendemos muito, muito mesmo. Acredito que isso nos fez fincar os pés no chão ainda mais. Esse é o jeito de se fazer as coisas. Ansiosidade, impaciência, vaidade, são tipos de coisas que não podem tomar espaço. O Dinho me ajuda muito nesse trabalho diário do “despreocupar”.

Quais foram os melhores momentos desses últimos meses – viagens, prêmios, consagração? Alguma coisa que não deu certo, mas que vocês queriam que tivesse rolado?
Aconteceu muita coisa doida, né? Tocamos com muita gente massa, e com certeza não daria pra eu citar um momento em especial para a banda como um todo. Cada um dos meninos deve ter algo pra dizer. Eu fiquei muito feliz quando o Neil Halstead, do Slowdive, veio falar comigo após um show nosso em Oslo. Fiquei em choque. Sorte que uma norueguesa bonita se ofereceu pra tirar uma foto nossa, caso contrario nem teria como provar isso. Ver nosso disco e “Lucifernandis” na lista dos melhores de 2013 da “Rolling Stone” foi uma doideira também. Quando o Black Drawing Chalks conseguiu o primeiro lugar com “My Favorite Way” [em 2009], fiquei muito admirado. Estava no primeiro ano e começando a escrever canções com o Dinho e outros amigos e não via esse tipo de meta no horizonte [risos]. Engraçado como que no meio da correria a gente nem acaba comemorando tais conquistas, mas agora mesmo estou bem feliz.

E que tal a responsabilidade de ser uma das bandas nacionais no elenco do festival Lollapalooza 2015?
Acho demais. Gostamos mesmo de tocar em locais pequenos, mas sempre é legal ter a oportunidade de tocar pra tanta gente assim. O que esperamos é fazer quem assistir nosso show pela primeira vez no Lolla, voltar a nos assistir em algum evento mais intimista, onde podemos extrapolar mais e ter certeza de que o som está alto.

 


Que tipo de público o elenco principal do Lollapalooza conseguirá atrair?
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Pablo Miyazawa

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Artistas da edição 2015 do Lollapalooza Brasil, que ocorrerá em 28 e 29 de março. (Reprodução/Site Oficial)

A imagem acima mostra o elenco do Lollapalooza 2015, marcado para março do ano que vem, em São Paulo.

Ainda não está confirmado, mas dá para presumir que os dois primeiros artistas da lista são aqueles que fecharão cada dia de evento no palco principal 1. Sendo assim, pergunto: um festival que tem Jack White e Pharrell Williams como headliners (e Calvin Harris, Robert Plant, Skrillex, Smashing Pumpkins e Foster the People como co-headliners) está convidando exatamente que tipo de público?

Dá para entender a dificuldade cada vez maior de ser criar um festival de sucesso no Brasil. Muito porque o que rola aqui é diferente do que ocorre em eventos gringos: lá fora, a maior parte do público comparece mais por causa da experiência (como dizem por aí, “pela balada”) do que pela música em si. É por isso que o californiano Coachella sempre tem ingressos esgotados desde 2002. É por isso também que os 150 mil ingressos da edição 2015 do britânico Glastonbury foram vendidos em menos de meia hora, nove meses antes do festival acontecer – e a programação só sairá daqui uns meses. Quais bandas vão tocar em cada dia, ou quais serão os headliners, isso tudo é mero detalhe para o consumidor típico desses grandes festivais nos EUA e Europa.

É verdade que um fenômeno semelhante tem ocorrido no Brasil com o Rock in Rio, no qual a pré-venda de ingressos se esgota muitos meses antes de se anunciar a programação final. Mas o RIR não é apenas a exceção, como também a principal referência desse tipo de evento para o público mainstream.

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Coachella em 2014: a música é importante, mas o restante é fundamental (Divulgação/Coachella.com)

A lógica por aqui ainda é diferente. Assim como qualquer produto de entretenimento, grandes shows internacionais custam caro demais para grande parte do público-alvo. Mesmo quem ama música mais do que qualquer coisa precisa refletir antes de gastar dinheiro com ingressos. Muita gente do Brasil inteiro adoraria comparecer ao Lollapalooza, mas a maioria dos consumidores potenciais (que não possuem carteirinha de estudante) precisaria de um ótimo motivo para gastar quase um salário mínimo em um único fim de semana (os ingressos para os dois dias saem por R$ 660).

Concluo que para um festival no Brasil esgotar os ingressos (e é esse o objetivo de quem produz um evento desses), é preciso oferecer atrações de peso e tradição, com uma base de fãs consistente e fiel. Sempre espera-se que o artista principal do maior palco seja um grande carregador de público, que sozinho consiga convencer as pessoas a comparecer, independentemente do preço da entrada e da qualidade do restante da programação. Dessa forma, esse tipo de fã vai ao evento porque não pode perder por nada desse mundo o grande show de sua banda do coração. O que vier antes (e nos outros palcos) é lucro.

Essa máxima se aplicou nas edições anteriores do Lollapalooza Brasil, e deu certo na metade das vezes. Ou seja, artistas que o senso comum presume que possuem muitos fãs apaixonados realmente atraem um público mais volumoso ao festival.

No primeiro ano do Lollapalooza, em 2012, as atrações principais foram Foo Fighters (que em janeiro tocará em quatro capitais) e Arctic Monkeys (que tocou nesse final de semana em São Paulo e Rio). A noite liderada pela banda de Dave Grohl estava abarrotada (o muito popular FF jamais havia se apresentado na cidade); a noite fechada pelo AM (um grupo relativamente novato) não esgotou os ingressos. Era de se esperar.

Em 2013, com um dia de festival a mais, os headliners do palco 1 foram nomes mais jovens e efêmeros como The Killers e Black Keys, além do “veterano” Pearl Jam. O único dia de ingressos esgotados foi mesmo o último, cuja atração principal foi… a banda de Eddie Vedder, que tem mais história, mais de 20 anos de carreira e um fã-clube dedicado.

No ano passado, novamente em dois dias, tocaram por último o Muse e o Arcade Fire. O primeiro dia, comandado pelo trio britânico, sensação entre o público jovem, teve ingressos esgotados (80 mil, o maior da história do festival). O segundo, com o Arcade Fire, respeitado na cena indie, estava bem menos lotado. É possível alegar que o dia 1 teve ótimo público não apenas por causa do headliner, mas por outras atrações valiosas e emergentes da programação, como Lorde e Imagine Dragons – ambos, aliás, acabaram tocando equivocadamente em palcos secundários, muito aquém de seus potenciais.

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Jack White deve ser o headliner do dia 1 do Lolla 2015, em 28 de março. (Divulgação)

Este ano, dá para sentir uma diferença brutal entre os gêneros que vão imperar em um dia e no outro: Jack White é do rock. Já Pharrell Williams, nesse momento está mais próximo do pop. Nenhum dos dois pode ser considerado um artista enorme no Brasil, mas sendo otimista, dá para imaginar que ambos lotariam seus respectivos shows solo.

Puxado pelo insistente hit “Happy” e pelas participações em músicas recentes do Daft Punk e Robin Thicke, Pharrell até poderia lotar uma Arena Anhembi esse ano. Já Jack White, que para muita gente no Brasil ainda é “aquele cara do White Stripes”, talvez enchesse um Espaço das Américas e olhe lá. Em ambos os casos, não enxergo neles um artista de massa capaz de lotar estádios (ou no caso, um Autódromo de Interlagos), como foi o caso de Foo Fighters, Pearl Jam e Muse. E o mesmo pode ser dito dos outros headliners do ano: Calvin Harris, Robert Plant, Skrillex, Smashing Pumpkins e Foster The People atraem públicos numerosos por aqui, mas será que o bastante para esgotar ingressos?

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Pharrell deveria estar mais “happy” por fechar a segunda noite do Lolla BR. (Divulgação)

No que diz respeito ao line-up, variedade e contemporaneidade das atrações que apresenta, o Lollapalooza é o melhor festival do país. Não há outro modo de se ver ao vivo tantos artistas modernos ao mesmo tempo em que estão estourando nos grandes mercados estrangeiros. Mas não é só de bandas novas carregadas de hype e hits recentes que se faz um festival 100% lucrativo no Brasil. É preciso agradar a massa – e é por essas e outras que o Rock in Rio sempre faz muito sucesso.

É óbvio que a organização do Lollapalooza quis reunir o melhor elenco possível. Deve ter tentado outros nomes de peso, e se não conseguiu trazê-los, provavelmente foi por uma razão burocrática qualquer – indisponibilidade de data, conflito de agenda, valor de cachê etc. E quais poderiam ser os headliners mais certeiros de um festival que se propõe a atrair 80 mil pessoas por dia? Infelizmente, são poucos os nomes grandes, tradicionais, disponíveis e que ainda sejam novidade em nossos palcos. Mas quem aí falou que o brasileiro só gosta de novidade? Por isso reuni de cabeça sete nomes (em ordem alfabética) que talvez funcionassem bem em um evento tão eclético e ambicioso como o Lolla. Será que alguém aí reclamaria de ver algum desses caras novamente?

1. Beyoncé
Lotou estádios em cinco capitais em 2013. Está no topo da cadeia alimentar do pop.

2. Black Sabbath
Os quatro shows que o grupo fez por aqui em 2013 não supriram a demanda.

3. Coldplay
Já faz três anos que não aparece e especulava-se que viria dessa vez.

4. Metallica
Tem aparecido aqui com frequência – foram seis shows desde 2010.

5. Paul McCartney
Macca já é brasileiro: até o final de 2014, serão 16 shows no país em cinco anos.

6. Radiohead

Não faz shows desde 2012 (e só veio para cá em 2009), mas não custa sonhar.

7. Red Hot Chili Peppers

São carne de vaca: foram headliners de dois Rock in Rio e um Hollywood Rock.

Quem tiver mais alguma sugestão, é só comentar abaixo.


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