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Arquivo : Matt Mondanile

Entrevista: Real Estate apresenta no Brasil um dos melhores discos de 2014
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Pablo Miyazawa

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Real Estate (e Mondanile ao centro): apenas uns caras normais. (Reprodução/Facebook Oficial)

Hoje, 20 de novembro, tem show do Real Estate em São Paulo.

Para quem não conhece, é um grupo formado em Nova Jersey que lançou um dos melhores (e mais tranquilos) discos de 2014, “Atlas”. Dá para chamar de indie, dream pop, jangle pop, do que quiser (eu pessoalmente detesto rótulos). Eu só consigo definir a música do Real Estate como fácil de agradar a qualquer um que aprecie melodias tranquilas, guitarras dedilhadas e  um clima etéreo e de constante calmaria. Sem dúvidas, é música para baixar a bola, e não para estimular a adrenalina.

Hoje, quatro dos cinco integrantes vivem no Brooklyn (Nova York), enquanto um deles vive em Los Angeles. Conversei exatamente com esse cara, Matt Mondanile, guitarrista e um dos fundadores do Real Estate. Transcrevo a seguir trechos da entrevista que fiz no último sábado, dias antes dos caras pousarem aqui para dois três shows no Brasil – além de São Paulo (hoje, no Beco 203), tocam também na sexta (21) em Porto Alegre (Beco 203) e no domingo (23) no Rio de Janeiro (Circo Voador). (o show do Rio foi cancelado, desculpe a falha). Corra, que ainda tem ingressos.

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“Atlas” é um dos discos mais celebrados de 2014. É interessante a naturalidade com que ele soa, traz uma sensação de amplitude, de disco ao vivo. Como funcionou o processo de composição?
Matt Mondanile: Bom, começamos a gravá-lo no começo do ano passado. Martin [Courtney], o vocalista, escreveu a maioria das músicas, e aí eu inventei as partes de guitarra pra elas, e o baixista [Alex Bleeker] veio e fez as dele. Nós ensaiamos muito até chegar ao ponto em que começamos a tocar com a banda toda, com o teclado e a bateria. Quando chegou a hora de entrar no estúdio, estávamos muito preparados e foi mais fácil de gravá-las. E sim, gravamos tudo ao vivo, e essa é a razão para o disco soar tão natural, o que é legal.

Quando vocês gravavam, chegaram a pensar: “Esse disco está saindo bom”? Ou não dava para saber o que esperar?
Um pouco dos dois. Algumas músicas, a gente não sabia no que ia dar. Mas você vai lá e faz o melhor que pode. Acho que todo mundo estava bem empolgado durante as gravações. Não dava para saber como sairia pelo menos até o finalzinho, então…

Algumas músicas são mais curtas do que deveriam ser. Aliás, o disco como um todo é muito curto, nem chega a 40 minutos.
Eu acho que só queríamos soar concisos. Se você nos assistir ao vivo, verá versões mais longas das músicas, com improvisos. Mas no disco nós fizemos uma versão concisa. Decidimos isso enquanto gravávamos: não queríamos que as coisas durassem muito ao ponto de ficar chato.

Você vive na Costa Oeste e o resto da banda vive do outro lado do país. Como funciona essa dinâmica para você? Não dá para ter uma vida lá muito normal.
É muito verdade. É super difícil ter uma vida normal estando na banda. Acho que mudar para a Costa Oeste foi bom para mim, porque eu queria muito morar aqui. E quando pego o avião para encontrar o grupo, a gente se junta na mesma cidade em que vamos tocar, já que não precisamos mais ensaiar. Então, é frenético – viajar quase toda semana, vivendo para voar. Mas gosto de viver em Los Angeles porque o clima é ótimo e o custo de vida é bem mais em conta para mim.

O Real Estate apresentou todas as faixas de “Atlas” em Nova York, em março passado. Veja o vídeo abaixo:

Você tem outro projeto, o Ducktails. Como faz para conciliar o Real Estate com seus negócios próprios? É difícil fazer algo seu enquanto se está viajando tanto com a banda principal?
É interessante, porque notei que é difícil mesmo balancear as duas coisas. Eu comecei a trabalhar em umas músicas no fim do ano passado, quando me mudei pra L.A., e só agora estou as terminando porque ando viajando muito. Então leva bem mais tempo do que antes, e faz você pensar: “Putz, o que estou fazendo não é bom.“ Eu percebi que não é bem assim – é difícil mesmo. E só agora estou conseguindo terminar umas faixas no estúdio. A ideia é finalizar o disco até o fim do ano ou começo do ano que vem e lançá-lo em maio. Mas é muito bom quando enfim se consegue equilibrar as coisas.

Você nasceu em 1985, então tem 29 anos. Que tipo de música você cresceu ouvindo? Deu tempo de escutar o Nirvana enquanto o Kurt Cobain ainda estava vivo?
Sim, eu cresci ouvindo essas bandas. As primeiras coisas de música que ouvi foram Ace of Base, Green Day, Beach Boys, Van Halen, eu era muito novo. Daí entrei no rock clássico, Led Zeppelin, coisas assim. Daí no ensino médio comecei a ouvir Weezer, Radiohead, Built to Spill, Modest Mouse, música indie. E no fim da escola eu só ouvia coisas experimentais e obscuras, noise, free jazz, John Cage, coisas esquisitas. Foi sair da escola para a voltar para o rock que eu gostava. Atualmente euouço todo tipo de música.

Você sente que, para a geração atual, os pré-adolescentes de hoje, as referências ainda são as bandas antigas dos anos 70 a 90? Não acha que as bandas de hoje não estão se tornando referências para a molecada?
Eu não acho. O que tenho visto recentemente é que, quando encontro gente nos shows do Real Estate, muitos garotos chegam e dizem: “Vocês são o motivo para eu ter começado a tocar guitarra”. Isso é muito legal e inspirador, e é o tipo de coisa que eu diria para, tipo, o Weezer, quando eu era mais novo. Às vezes você encontra uma banda que te faz querer fazer sua própria música. E essa é a única coisa que posso esperar dos fãs do Real Estate – inspirá-los a criar sua própria música. Com certeza ainda existem bandas de rock que inspiram a molecada.

Qual a idade média do público no show de vocês?
Acho que é uma gama diferente. Vai de 18 a 30 e poucos, até os 40 anos. Então temos um público bem diversificado. Outros artistas indie como o Mac Demarco tem um público mais jovem, mas nós temos todo tipo de gente.

É a sua primeira vez no Brasil, certo? Não sei se você imagina o que esperar daqui, o tipo de gente que vai ver, os lugares que irá conhecer. Qual é a sua ideia do país?
Não sei, não tenho nenhuma ideia. Nunca estive aí, mas quero ir. Estou empolgado para conhecer a América do Sul de um modo geral.

Como é ser o cara solteiro da banda? Os outros são casados, mas você não é, certo?
Não sou casado. Para falar a verdade, eu me mudei para Los Angeles para ficar com alguém, e nós terminamos recentemente. Ela é uma artista da [gravadora] Domino, a Julia Holter.

Desculpe, eu não sabia disso.
Sem problemas. Você pode publicar isso, é interessante. O negócio é que eu queria realmente estar num relacionamento com alguém que tivesse uma rotina parecida, que viajasse… Que tivesse um estilo de vida parecido com o meu. Mas aí você percebe que isso é mais difícil, porque você nunca vê a pessoa, já que estão os dois sempre viajando. Então é muito difícil estar em um relacionamento quando se viaja tanto.
Mas é legal ver que o Martin está numa relação há tanto tempo. Ele conheceu a esposa na época da escola, então já se conheceram antes de começarmos a fazer turnês com a banda. Eles passam muito tempo juntos e se entendem muito bem. É uma situação única. Agora que estou solteiro, está tudo bem. É divertido, eu gosto.

Você conhece seus parceiros de banda, Martin e Alex, desde a adolescência. Como está a relação de vocês hoje, que todos são crescidos, têm responsabilidades? Como a amizade evoluiu?
É ótima. Nós trabalhamos juntos, mas continuamos amigos. Eu gosto de viver em Los Angeles porque me dá a distância do lugar onde os caras vivem e de onde vivi a vida toda. A minha família é de Nova Jersey, então… É bom ter essa distância.

Então o fato de viver longe é bom para não se aborrecer com seus companheiros. Porque a vida na estrada pode ser um porre, não?
Pode ser um porre, mas na verdade é divertida se você fizer ela ficar divertida. Quando é um porre, fica difícil viajar. Mas é legal.

E como você a faz ficar divertida?
Você conversa com as pessoas, mantém o bom humor e não leva qualquer coisa para o lado pessoal. E tenta fazer a música o melhor que puder.

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E veja aqui o Real Estate convidar Rivers Cuomo do Weezer ao palco de um festival em Los Angeles na terça-feira passada, para uma versão fiel até demais de “No Other One”, do clássico disco “Pinkerton”.

(Aliás, foi com esse cover que o Real Estate encerrou o show de hoje em São Paulo).


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