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Joe Cocker tornou os nossos “anos incríveis” ainda mais memoráveis
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Pablo Miyazawa

Joe Cocker morreu.

O cantor britânico de rock e blues se foi hoje, aos 70 anos, vítima de um câncer no pulmão. A notícia foi confirmada pelo empresário dele.

Dono de uma voz gutural inconfundível (que muitos cantores de karaokê adoram tentar imitar) e uma performance de palco energética, sempre à flor da pele, John Robert Cocker brilhou principalmente entre o fim dos anos 60 e a década de 1980, com suas interpretações apaixonadas e covers emblemáticos – muitas vezes obtendo mais sucesso do que as versões originais. No Brasil, inclusive, talvez ele seja mais conhecido por cantar o tema da série “Anos Incríveis” (“Wonder Years”), que passou aqui durante anos na TV Cultura. Dá até para dizer que “With a Little Help From My Friends” é mais famosa hoje com o timbre emocionado de Cocker do que recitada por Ringo Star na versão original do quarteto de Liverpool.

Por causa de entraves no licenciamento, a música cantada por Cocker ficou de fora da versão de “Anos Incríveis” que está disponível em home video e serviços de streaming. Hoje, é impossível encontrar a abertura original no YouTube, mas essa vídeo-montagem acima estimulará a sua memória. Eu desafio você a se lembrar de Kevin Arnold, Winnie Copper e Paul Pfeifer sem também escutar o cantor sussurrando ao fundo, meio embriagado, como que pedindo desculpas: “What would you do if I sang out of tune…?”. Pode tentar, é impossível. Se hoje temos tanta memória afetiva em relação a “Anos Incríveis”, muito é porque a voz rasgada de Joe Cocker continua a ecoar e embalar nossas lembranças televisivas.

Mas, para muitos brasileiros de gerações anteriores a “Wonder Years”, a primeira vez que Joe Cocker surgiu e marcou foi décadas antes: no filme “Woodstock – Três Dias de Paz, Amor e Música”, documentário sobre o mítico festival que passou nos cinemas em 1970. Logo nos minutos iniciais, Cocker foi o responsável por uma das sequências mais memoráveis, despedaçando com toda emoção “With a Little Help…”, que meses antes tinha alcançado o topo da parada norte-americana. Meu pai me contou que assistiu ao filme na época, e que o trecho que mais o marcou foram os sete minutos catárticos oferecidos por aquele cantor enlouquecido de costeletas e camiseta tie-dye. Se o Brasil até então ignorava o que acontecia no remoto universo da contracultura, tudo mudou logo após a exibição de “Woodstock” – e Joe Cocker veio junto nessa bagagem lisérgica.

Cocker cantou no Brasil em 1977, mas a aparição de que todo mundo se lembra foi em 1991, como a primeira atração internacional do primeiro dia de Rock in Rio II. Foi um show curto, mas que quem assistiu, ao vivo ou pela TV, não esquece. A performance impressionante dele de camisa colorida, botões abertos, todo suado e botando os bichos para fora, foi considerada um dos momentos do festival. O baladão “Up Where We Belong” (tema do filme “A Força do Destino”) foi um ponto alto da noite. Depois disso, ele só voltou para uma turnê de quatro shows em 2012.

E se foi nas trilhas sonoras que Joe Cocker brilhou tanto, como esquecer a versão dele para “You Can Leave Your Hat On” (de Randy Newman)? Favorita absoluta das casas de strip-tease, a faixa ficou famosa por embalar a cena mais polêmica do soft porn “Nove Semanas e Meia de Amor” (veja abaixo por sua conta). Só lembrando que Kim Basinger inspirou muita gente com sua performance “dançante”, mas é claro que a voz de Cocker deu uma bela ajuda ao clima.

E para citar outra de minhas favoritas, destaco por último “Unchain My Heart”, de Ray Charles. Na interpretação intensa de Cocker, é inevitável não se sentir arrebatado pelo grito de liberdade que a letra propõe.

Seja lembrando os bons tempos que não voltam, dançando sensualmente ou libertando o coração, hoje é dia de celebrar o vozeirão eterno e confortável de Joe Cocker. Coloque o volume no máximo, que é assim que ele preferia ser escutado.


As 7 melhores músicas que Paul McCartney não tocará no Brasil (mas deveria)
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Pablo Miyazawa

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Paul no Brasil: cada show deverá ter 39 músicas, das quais 26 dos Beatles. (Foto: Pablo Miyazawa)

Paul McCartney faz hoje o primeiro de uma série de cinco shows no Brasil.

Este é o quarto ano seguido em que o eterno beatle se apresenta por aqui. E hoje, em Cariacica (região metropolitana de Vitória), ele fará o décimo-sexto show em palcos do país: foram dois em 1990 (Rio de Janeiro), dois em 1993 (São Paulo e Curitiba), três em 2010 (Porto Alegre e São Paulo), dois em 2011 (Rio), três em 2012 (Recife, Florianópolis) e três em 2013 (Belo Horizonte, Goiânia e Fortaleza). E além do Espírito Santo, ainda tocará no Rio (12/11), Brasília (23) e São Paulo (25 e 26).

Verdade seja dita, apesar de algumas surpresas ocasionais, McCartney tem feito shows bastante previsíveis no que diz respeito ao repertório. Tirando as faixas mais famosas da época do Wings e algumas dos discos solo mais recentes (dessa vez ele apresenta o álbum “New”, de 2013), ele concentra a maior parte do set list de quase 40 músicas – cerca de 65%! – para músicas dos Beatles. Veja a provável lista aqui. Bem, ele pode. Você não faria o mesmo se fosse um dos compositores da maior banda de todos os tempos?

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Macca curte o Brasil em Goiânia, em 2013: o país virou porto obrigatório. (Foto: Pablo Miyazawa)

Mesmo quem já viu outros shows de McCartney espera pelos clássicos óbvios. E é claro que ele é praticamente obrigado a tocar “Yesterday”, “Hey Jude”, “Let it Be”, “Back in the U.S.S.R.” e “The Long and Winding Road” até o fim da vida – e essas nunca faltaram por aqui. Mas se quiser variar um pouco e demonstrar um carinho extra pelo fã brasileiro, Macca poderia nos reservar umas surpresinhas diferentes. Fica abaixo minha sugestão de sete faixas que pouco (ou nunca) aparecem no repertório do beatle, e que certamente deixariam os shows ainda mais interessantes.

***

“Here, There and Everywhere” (“Revolver”, 1966)
Nem é preciso ser fã radical para considerar esta uma das músicas mais bonitas escritas por Paul McCartney (que já declarou que esta é uma das favoritas dele). Ainda assim, a bela balada aparece esporadicamente no repertório desde 2003 – segundo o site colaborativo Setlist.fm, a última vez que ele a tocou em um show foi em 2008. Os brasileiros ainda tiveram a chance de conferi-la nos dois shows que Macca fez no Brasil em 1993, e nunca mais.


“Fixing a Hole”
(“Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, 1967)
Outra faixa não convencional da era psicodelica dos Beatles que pode ser identificada de longe como típica obra de McCartney. Ele a apresentou diversas vezes nas turnês de 1993 e 2005, mas nunca mais a tirou da gaveta. O que significa que os brasileiros ainda não presenciaram a música ao vivo – é difícil que ele faça isso dessa vez, mas quem aí se arrisca a levar um cartaz com o pedido?


“Maxwell’s Silver Hammer”
(“Abbey Road”, 1969)
“Why Don’ We Do it in the Road” (“Álbum Branco”, 1968)
Duas realmente “inéditas”: McCartney jamais as tocou ao vivo em suas turnês pós-Beatles. A primeira, do último álbum gravado pelo Fab Four, é composição solitária dele, e ficou de fora do “Álbum Branco” provavelmente por ser muito complicada (os parceiros assumidamente não gostavam da faixa). Já ‘Why Don’t We Do it…” foi escrita e gravada inteiramente por Paul, que apenas chamou Ringo Starr para adicionar a bateria (John Lennon não foi avisado previamente, e jamais perdoou o ex-parceiro por isso). Talvez pela natureza controversa dessas músicas, Paul prefere não relembrá-las hoje em dia. Mas há um consolo: ele já recitou as letras de ambas em um evento em Nova York, em 2001 (veja o vídeo).


“You Won’t See Me”
(“Rubber Soul”, 1965)
Faixa de mais longa duração gravada pela banda até 1965 (três minutos e vinte segundos), esta é outra das composições de McCartney que não foram tocadas ao vivo pelos Beatles originais, mas que ganharam vida quando o baixista começou a revisitar a carreira nas turnês mais recentes. Porém, já se vão 10 anos desde que ele a apresentou em um palco. Se decidir tocá-la em algum dos shows no Brasil, será um fato inédito. Pode ser difícil de acontecer, mas não custa nada pedir.


“Hello Goodbye”
(“Magical Mystery Tour”, 1967)
Das canções emblemáticas de Paul que não fazem parte da turnê atual, esta talvez seja a menos rara e mais frequente: ele já a tocou por aqui um punhado de vezes (duas no Rio na primeira turnê, em 1990, no Rio novamente em 2011, e em Recife em 2012). Mas já faz dois anos que a faixa, que fez sucesso quando lançada em compacto duplo no Brasil em 1967, foi excluída do repertório padrão de McCartney. Será que poderia voltar em algum dos shows por aqui?


“She’s Leaving Home”
(“Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, 1967)
É uma das músicas mais belas da história dos Beatles, e também uma das últimas escritas em conjunto pela dupla Lennon e McCartney. Mas talvez pelo arranjo orquestrado da versão original (há instrumentos de corda, inclusive uma harpa) e andamento lento, Paul raramente a apresenta nos shows – a última vez ocorreu na turnê de 2003. O vídeo abaixo mostra uma emocionante performance na Praça Vermelha, em Moscou, que deixa claro que nenhum fã brasileiro reclamaria se pudesse enfim conferi-la ao vivo.


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