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Joe Cocker tornou os nossos “anos incríveis” ainda mais memoráveis
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Pablo Miyazawa

Joe Cocker morreu.

O cantor britânico de rock e blues se foi hoje, aos 70 anos, vítima de um câncer no pulmão. A notícia foi confirmada pelo empresário dele.

Dono de uma voz gutural inconfundível (que muitos cantores de karaokê adoram tentar imitar) e uma performance de palco energética, sempre à flor da pele, John Robert Cocker brilhou principalmente entre o fim dos anos 60 e a década de 1980, com suas interpretações apaixonadas e covers emblemáticos – muitas vezes obtendo mais sucesso do que as versões originais. No Brasil, inclusive, talvez ele seja mais conhecido por cantar o tema da série “Anos Incríveis” (“Wonder Years”), que passou aqui durante anos na TV Cultura. Dá até para dizer que “With a Little Help From My Friends” é mais famosa hoje com o timbre emocionado de Cocker do que recitada por Ringo Star na versão original do quarteto de Liverpool.

Por causa de entraves no licenciamento, a música cantada por Cocker ficou de fora da versão de “Anos Incríveis” que está disponível em home video e serviços de streaming. Hoje, é impossível encontrar a abertura original no YouTube, mas essa vídeo-montagem acima estimulará a sua memória. Eu desafio você a se lembrar de Kevin Arnold, Winnie Copper e Paul Pfeifer sem também escutar o cantor sussurrando ao fundo, meio embriagado, como que pedindo desculpas: “What would you do if I sang out of tune…?”. Pode tentar, é impossível. Se hoje temos tanta memória afetiva em relação a “Anos Incríveis”, muito é porque a voz rasgada de Joe Cocker continua a ecoar e embalar nossas lembranças televisivas.

Mas, para muitos brasileiros de gerações anteriores a “Wonder Years”, a primeira vez que Joe Cocker surgiu e marcou foi décadas antes: no filme “Woodstock – Três Dias de Paz, Amor e Música”, documentário sobre o mítico festival que passou nos cinemas em 1970. Logo nos minutos iniciais, Cocker foi o responsável por uma das sequências mais memoráveis, despedaçando com toda emoção “With a Little Help…”, que meses antes tinha alcançado o topo da parada norte-americana. Meu pai me contou que assistiu ao filme na época, e que o trecho que mais o marcou foram os sete minutos catárticos oferecidos por aquele cantor enlouquecido de costeletas e camiseta tie-dye. Se o Brasil até então ignorava o que acontecia no remoto universo da contracultura, tudo mudou logo após a exibição de “Woodstock” – e Joe Cocker veio junto nessa bagagem lisérgica.

Cocker cantou no Brasil em 1977, mas a aparição de que todo mundo se lembra foi em 1991, como a primeira atração internacional do primeiro dia de Rock in Rio II. Foi um show curto, mas que quem assistiu, ao vivo ou pela TV, não esquece. A performance impressionante dele de camisa colorida, botões abertos, todo suado e botando os bichos para fora, foi considerada um dos momentos do festival. O baladão “Up Where We Belong” (tema do filme “A Força do Destino”) foi um ponto alto da noite. Depois disso, ele só voltou para uma turnê de quatro shows em 2012.

E se foi nas trilhas sonoras que Joe Cocker brilhou tanto, como esquecer a versão dele para “You Can Leave Your Hat On” (de Randy Newman)? Favorita absoluta das casas de strip-tease, a faixa ficou famosa por embalar a cena mais polêmica do soft porn “Nove Semanas e Meia de Amor” (veja abaixo por sua conta). Só lembrando que Kim Basinger inspirou muita gente com sua performance “dançante”, mas é claro que a voz de Cocker deu uma bela ajuda ao clima.

E para citar outra de minhas favoritas, destaco por último “Unchain My Heart”, de Ray Charles. Na interpretação intensa de Cocker, é inevitável não se sentir arrebatado pelo grito de liberdade que a letra propõe.

Seja lembrando os bons tempos que não voltam, dançando sensualmente ou libertando o coração, hoje é dia de celebrar o vozeirão eterno e confortável de Joe Cocker. Coloque o volume no máximo, que é assim que ele preferia ser escutado.


Entrevista: o ano perfeito do Boogarins (e o que 2015 promete para a banda)
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Pablo Miyazawa

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“Dinho” Almeida (à esq.) e Ynaiã Benthroldo, metade do Boogarins. (Foto: Mídia Ninja/Divulgação)

O Boogarins foi uma das unanimidades da música brasileira em 2014.

E não está errado quem acha que eles surgiram “do nada”. Há pouco mais de um ano, o grupo formado em Goiânia jamais tinha feito shows fora do próprio estado. Mas graças a um bem executado espírito de “do it yourself” potencializado pela internet, a banda conseguiu lançar seu primeiro disco nos Estados Unidos antes mesmo de ter qualquer registro oficial no Brasil.

O grupo começou as atividades em 2012, ainda como uma dupla. Sozinhos, os guitarristas Fernando “Dinho” Almeida e Benke Ferraz gravaram as dez faixas que formam o disco  “As Plantas que Curam”. O título é uma homenagem à avó de Benke, adepta da medicina natural. Já o nome da banda veio de uma flor, o bogarim, da família do jasmim, que significa o “amor vivo e puro que existe dentro da pessoa”.

A repercussão positiva do disco rendeu à banda convites para se apresentar em festivais internacionais (foram mais de 100 shows fora do Brasil), boas críticas em grandes publicações e certo barulho na imprensa brasileira. No final de outubro, a banda venceu a categoria Artista Revelação do Prêmio Multishow, recebendo o prêmio das mãos de Ivete Sangalo. Semanas depois, apareceu na escalação do primeiro dia do festival Lollapalooza Brasil 2015. Para encerrar o ano perfeito, o quarteto foi uma das atrações do Popload Festival, que aconteceu na semana passada.

Escrevi uma reportagem sobre a trajetória do Boogarins para o UOL Música, que pode ser lida aqui. E abaixo, você confere mais trechos inéditos da entrevista com o guitarrista Benke Ferraz.

***

Ao longo de 2014, vocês fizeram muitos shows para plateias estrangeiras que desconheciam vocês. Daí, o “As Plantas que Curam” passou a repercutir e o público foi respondendo de modo diferente às músicas. Como vocês acompanharam a evolução da recepção ao trabalho da banda? 
Benke Ferraz: Nós tocamos muito pouco fora de Goiânia, antes da turnê internacional. Basicamente alguns shows pelo estado de São Paulo, em Recife e em Uberlândia. Em Goiânia, já tínhamos um publico cativo desde as primeiras apresentações, o que era a única coisa que esperávamos lançando as músicas antes de fazer shows. Após passar seis meses fora do país, tocando em todo canto, era de se imaginar que aumentaria a procura para que tocássemos em novos lugares aqui no Brasil e de certa forma, muita gente já conheceu as músicas. Mas o show é uma experiência totalmente diferente do disco, né? Nos Estados Unidos, pudemos tocar para platéias que nos desconheciam totalmente, caso dos shows de abertura pra atos maiores, como o Guided By Voices.
Mas, como o disco foi lançado oficialmente lá, também encontramos platéias bem familiarizadas com nossas músicas – mesmo que não cantando as letras por motivos óbvios [risos]. Ele esteve na lista dos 10 melhores de 2013 pelo “Chicago Tribune” e tocou bastante nas rádios de música alternativa de alguns estados. Coube a nós cumprir uma rota de turnê que, como diz o Raphael [Vaz, baixista], “plantasse a sementinha” em cidades que estivessem entre as cidades onde nós já tínhamos algum respaldo do público.

Você andam experimentando músicas novas nos shows recentes. Como o público está reagindo a elas? Chegaram a modificar as músicas antes de gravá-las para o disco, levando em consideração a recepção a elas ao vivo?
Para mim, é só maravilha [risos]. Tentamos sempre manter o primeiro disco como base do repertório, mas quando podemos fazer sets mais longos, gostamos de mostrar as coisas novas. Com certeza mudamos bastante coisa na hora de gravar. Tem coisa que funciona na energia do show, mas que gravado, com a pessoa podendo escutar aquilo nas mais diversas situações, não vai bater tão forte. Temos isso bem claro pra gente: palco e estúdio são ambientes diferentes, e como banda, procuramos coisas bem distintas em cada um. Mesmo que o disco tenha sido gravado ao vivo, não é pra ser um registro de como a banda soa ao vivo. É para ser qualquer coisa.

E o que você pode falar sobre o disco novo? Nome, faixas, estilo, influências, produtor… Tem previsão de lançamento?
Assim como o “As Plantas que Curam”, vejo esse novo trabalho como um disco de canção. As influências são muito soltas em estilo e estética, mas tudo aquilo feito com fluidez e verdade acaba nos inspirando a criar e a elaborar, não importa se é lo-fi ou high definition [risos]. O disco foi produzido pela banda. Gravado pelo Jorge Explosión, no Circo Perrotti, em Gijon, na Espanha. A nossa expectativa é ter o disco lançado no primeiro semestre de 2015. Mas sem pressão [risos].

O Ynaiã Benthroldo, ex-Macaco Bong, entrou na banda com a saída do Hans Castro, baterista anterior, que virou pai. Ele é um integrante fixo agora? E no disco, quem tocou a bateria?
Já está rolando muito bem. Pouco mais de um mês tocando com o Ynaiã e temos a impressão de tocar juntos há tempos. O disco foi gravado pelo Hans. Ele ainda fez outros dois meses de turnê com a gente após isso. Praticamente não pôde acompanhar a gravidez. Foi um momento complicado pra gente, mas agora tudo está nos eixos, inclusive as nenês já vieram ao mundo.

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Raphael Vaz (baixo) e Benke Ferraz (guitarra) em ação. (Foto: Mídia Ninja/Divulgação)

Os últimos 12 meses foram intensos para o Boogarins. Vocês surgiram do nada e alcançaram muito em pouco tempo. Quem os vê no palco não imagina que a banda é tão recente, nem que vocês são tão novos (Benke tem 21 anos e Dinho, 22). Como estão fazendo para manter os pés no chão? Há pressões, internas ou externas?
As coisas mudaram demais nesse ano realmente. Por mais que o contato da Other Music [selo que lançou “As Plantas que Curam” nos EUA] tenha acontecido no inicio do ano passado, tudo ainda estava no campo das ideias, não sabíamos o que iria acontecer de verdade.
Acho que a pressão sempre foi muito mais interna por causa disso. A gente sempre quis fazer isso, tocar e tocar e tocar. Mas se ano passado nos falassem que faríamos quase 150 shows em um ano, provavelmente ficaríamos amedrontados [risos] Tendo vivenciado essa rotina aprendemos muito, muito mesmo. Acredito que isso nos fez fincar os pés no chão ainda mais. Esse é o jeito de se fazer as coisas. Ansiosidade, impaciência, vaidade, são tipos de coisas que não podem tomar espaço. O Dinho me ajuda muito nesse trabalho diário do “despreocupar”.

Quais foram os melhores momentos desses últimos meses – viagens, prêmios, consagração? Alguma coisa que não deu certo, mas que vocês queriam que tivesse rolado?
Aconteceu muita coisa doida, né? Tocamos com muita gente massa, e com certeza não daria pra eu citar um momento em especial para a banda como um todo. Cada um dos meninos deve ter algo pra dizer. Eu fiquei muito feliz quando o Neil Halstead, do Slowdive, veio falar comigo após um show nosso em Oslo. Fiquei em choque. Sorte que uma norueguesa bonita se ofereceu pra tirar uma foto nossa, caso contrario nem teria como provar isso. Ver nosso disco e “Lucifernandis” na lista dos melhores de 2013 da “Rolling Stone” foi uma doideira também. Quando o Black Drawing Chalks conseguiu o primeiro lugar com “My Favorite Way” [em 2009], fiquei muito admirado. Estava no primeiro ano e começando a escrever canções com o Dinho e outros amigos e não via esse tipo de meta no horizonte [risos]. Engraçado como que no meio da correria a gente nem acaba comemorando tais conquistas, mas agora mesmo estou bem feliz.

E que tal a responsabilidade de ser uma das bandas nacionais no elenco do festival Lollapalooza 2015?
Acho demais. Gostamos mesmo de tocar em locais pequenos, mas sempre é legal ter a oportunidade de tocar pra tanta gente assim. O que esperamos é fazer quem assistir nosso show pela primeira vez no Lolla, voltar a nos assistir em algum evento mais intimista, onde podemos extrapolar mais e ter certeza de que o som está alto.

 


Ele vendeu pulseirinhas por Paul McCartney. E conheceu o ídolo em pessoa
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Pablo Miyazawa

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Acenando, Paul mostra a pulseirinha de Matheus no punho esquerdo. (Foto: Marcos Hermes/Divulgação)


O menino Matheus Bustamante Battiato conseguiu tudo o que sonhava – e mais.

O começo da história você leu antes aqui: o garoto paulistano de 10 anos produziu pulseirinhas de plástico e as vendeu pela internet para levantar dinheiro para ir ao show de Paul McCartney. Após arrecadar a verba e comprar os ingressos, Matheus foi mais longe ainda. Conheceu Paul McCartney e entregou pessoalmente ao beatle uma das pulseirinhas. Para fechar a história surreal com chave de ouro, Paul usou o enfeite verde e amarelo no punho esquerdo durante todo o show de quarta (26), o último da turnê no Brasil.

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A inconfundível mão de Paul (Marcos Hermes)

A saga de Matheus teve final feliz graças à persistência da tia dele, Danila Bustamante. Utilizando uma rede de contatos e um tanto de insistência, ela conseguiu que a campanha do sobrinho chegasse aos ouvidos da equipe de produção dos shows. Minutos antes da apresentação, Paul recebeu a dupla empreendedora no camarim. Matheus presenteou o músico com uma de suas pulseirinhas. O ídolo já os esperava e agradeceu, os abraçou e conversou com o jovem fã por cinco minutos. Após o show, Danila me fez um relato exclusivo de todo o acontecimento, que publico abaixo:

“É engraçado que falávamos de conhecê-lo, como seria, o que podíamos dizer de legal, mas sempre foi um sonho. Quando surgiu a possibilidade através da produção dele no Brasil e dele de fora, nós congelamos. Não pensamos direito como seria, o que falaríamos, como reagir.

Esperamos super umas duas horas, e quando faltavam 15 minutos para o show começar, o produtor veio e disse: “You are a lucky boy!” e falou que entregaríamos as pulseirinhas em mãos. Fomos levados para uma salinha no backstage, estavam lá o fotógrafo oficial e a equipe. Todos disseram: ‘Calma que ele é calmo’. Num piscar, ele chegou e disse: ‘Hum, Matheus, you are the bracelet boy! And you?’. Eu disse: ‘I´m the aunt’. E ele: ‘The super aunt!’. Emoção total!

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Danila e Matheus, antes do show e do encontro com Paul. (Foto: Carolina Bustamante)

Paul parabenizou o Matheus pela iniciativa, e eu falei que ele trabalhou duro para conseguir produzi-las e vendê-las. Paul disse: ‘Very smart, very intelligent. Continue fazendo e não pare, não podemos parar’. Entregamos as pulseirinhas, ele escolheu a verde-amarela e colocou na hora. Perguntei se cabia no braço dele, e ele, super tranquilo: ‘Ah, super cabe’. Conversamos mais e o Matheus disse: ‘I love you, Paul’. Eles se abraçaram, fizeram um ‘joinha’ para a foto [que foi tirada pelo fotógrafo oficial MJ Kim e que gostaríamos muito de ter] e desejamos ‘good luck’ para o show. Ele agradeceu e disse pra gente mandar bala sempre!

Ele sabia de tudo antes de chegarmos. Sabia que nós tínhamos vendido muitas pulseirinhas e que tínhamos trabalhado muito, que o Matheus tinha aparecido em vários veículos. Ele se sensibilizou porque disse que é preciso trabalhar muito pra se conseguir o que quer. O plus foi ele ter usado a pulseirinha o show inteiro! Ele foi um lord, com certeza. Poderia ter deixado de lado o presente, ter dado pra produção.. Mas ele colocou na hora e fez o show todo com ela.”

E emocionado como não poderia deixar de estar, Matheus declarou em seguida que foi “o momento mais incrível da minha vida”. Realizar uma proeza dessas não é mesmo algo que acontece todos os dias quando se tem 10 anos de idade…


Um adeus a Paul McCartney (já esperando que ele volte em breve)
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Pablo Miyazawa

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Paul em São Paulo, em 25 de novembro. A chuva foi só um detalhe. (Foto: Marcos Hermes/Divulgação)

Foi-se o “Hello”, chegou a hora do “Goodbye”. Paul McCartney está indo embora.

Na noite de terça, 25 de novembro, o incansável beatle fez em São Paulo seu décimo-nono show em território brasileiro. Mesmo com a chuva insistente, foi ótimo, completo e emocionante. Como sempre.

Assistir Paul ao vivo é um espetáculo que não tem erro. Ele nunca me decepcionou. O show de ontem marcou a quinta vez em que vi o ao vivo (sexta, se contar a vez que ele apareceu de surpresa em um evento da Microsoft em Los Angeles, para anunciar o game “Beatles: Rock Band”). E continuo a achar que não é o suficiente. Conheço gente que já viu uns 20 shows dele nos últimos cinco anos. Não acho que seja exagero.

Na noite dessa quarta, ele completa vinte shows no Brasil e finaliza aqui a turnê nacional que passou antes por Espírito Santo, Rio de Janeiro e Brasília. Desde 2010, Paul tem vindo ao país todos os anos. Nada mal para quem ficou 17 anos sem dar as caras. Nenhum artista do porte e longevidade dele foi visto tantas vezes por tantos brasileiros. Há uma exceção torta: os Rolling Stones de Mick Jagger e Keith Richards fizeram oito apresentações por aqui, mas somente em São Paulo e no Rio, sendo que a última, gratuita e na Praia de Copacabana, foi vista por mais de um milhão de pessoas. Detalhes, detalhes.

Dá para falar que quem já viu um show recente de Paul McCartney viu todos? Dá. Eles são tecnicamente idênticos, salve umas músicas trocadas e alguns acidentes de percurso. Era esse o assunto na sala de imprensa ontem: a gente fica torcendo para que alguma coisa diferente aconteça, já que tudo segue o script à risca. Até as frases antes de cada música, as poses e as caretas são parecidas. Não que estejamos reclamando.

Às vezes, acidentes ou surpresas até acontecem. Em 2010, no final do show em São Paulo, o astro tropeçou e caiu de ombro no chão. Quem acompanhava o telão percebeu e teve dó. Em 2013, em Fortaleza, um casal de noivos foi abençoado por Macca de cima do palco. No mesmo ano, a apresentação de Goiânia foi invadida por uma nuvem de gafanhotos que decidiram fazer parte do cenário. Paul não se abalou e tocou diversas músicas com um inseto pendurado no ombro, a quem batizou de “Harold”. Consegui registrar o momento sublime e único com minha câmera de bolso.

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Em Goiânia (2013), Paul cantou e fez amigos – repare no ombro direito dele. (Foto: Pablo Miyazawa)

Um amigo jornalista resumiu bem a situação: “Paul nunca é demais”. E como disse um outro amigo, Paul McCartney não é apenas carismático – ele inventou o carisma. Nenhum músico se dá tanto ao trabalho de parecer simpático e grato por estar lá em cima, apresentando sua arte e recebendo aplausos. Não tem tempo ruim com ele, literalmente – não foram os poucos shows que fez por aqui debaixo de chuva forte. É claro que ele pouco se molha estando em cima do palco coberto, mas assim mesmo, nada parece abalar a energia do homem. Lembrando que estamos falando de um cara de 72 anos de idade que se apresenta em público desde antes de completar 18 anos de idade. São pelo menos 55 anos de vida batendo cabeça e gastando dedos em cordas de aço e a garganta diante de um microfone.

E por falar em voz, o que dizer da voz de Paul McCartney? Ele continua cantando como se o tempo não tivesse passado para ele. A sonoridade é potente e característica, e engrossou pouco com o passar dos anos. Ele ainda arrisca agudos sem jamais perder a afinação nem fazer feio. A banda é muito competente e segura as pontas, mas a performance de Paul, seja no baixo, na guitarra, no piano ou no violão (e até no ukelele), ainda é irrepreensível. Ele faz tudo aquilo parecer fácil.

E ele ainda apresenta as mesmas músicas de sempre sem demonstrar preguiça, porque ele sabe que é o que a maioria quer ouvir. Quantas vezes Paul já tocou faixas do início dos Beatles como “All My Loving”, “I Saw Her Standing There” e “Paperback Writer”? Milhares? E outras mais épicas e emocionais como “Let it Be”, “Hey Jude” e “Yesterday”? Podemos ouvi-las sempre que jamais envelhecem nem ficam cafonas demais. Com um repertório desse a disposição, realmente Macca não precisaria se preocupar com coisa alguma. Poderia bem passar mais 50 anos repassando as mesmas coisas, que os estádios continuariam lotados e a adulação seria a mesma. Os fãs mais chatos até adorariam presenciar outras músicas, mas não temos o direito de reclamar. Em se tratando de artistas clássicos ainda em plena atividade, não existe melhor setlist na história do rock, e provavelmente nunca haverá.

Há quem diga que está foi a última vez que vimos Paul McCartney ao vivo no Brasil. Teria sido esta a última grande turnê mundial do roqueiro mais eterno a ainda caminhar sobre a Terra? Eu não quero crer nisso. Prefiro imaginar que ele sempre estará por aí, se esgoelando em “Helter Skelter”, chacoalhando o baixo Hofner em “Back in the U.S.S.R.”, martelando o piano em “Let it Be”, tudo como se fosse a primeira vez. Volte em breve, Paul. Já estamos prontos para outra visita.


O retorno do “cavaleiro de Jedi” Edu K; escute a nova música “Valley Girl”
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Pablo Miyazawa

Edu K contra-ataca.

O músico gaúcho mais camaleônico da música brasileira sempre esteve por aí, fazendo de tudo um pouco e sem nenhuma fidelidade a estilos ou tradições. Ele surgiu liderando a maldita e esquizofrênica banda Defalla, na Porto Alegre dos anos 1980. Quem não se lembra dos shows no Hollywood Rock, em 1993, em que ele cantou pelado e com mechas de lã cor de rosa coladas na cabeça?

Nos anos seguintes, Edu K investiu em uma carreira solo de batidas dançantes, teve um hit nonsense em 2005 novamente com o Defalla (“Popozuda Rock N’ Roll”, da insuperável estrofe “eu tenho a Força, Cavaleiro de Jedi, então vem, popozuda, vai, vai”) e tem atacado de DJ e produtor (trabalhou nos discos mais recentes dos também gaúchos Cachorro Grande e Comunidade Nin-Jitsu). Ele também está na televisão, apresentando o reality show “Breakout Brasil”, do canal Sony.

Agora, para se reinventar mais uma vez, é a vez do EP “Boy Lixo”, que Edu K lança no fim da tarde desta terça-feira. O disco feito para dançar investe no trap, a vertente recente mais esquisita e eletrônica do hip-hop (pense no onipresente meme “Harlem Shake” para ter uma vaga ideia). Ouça a seguir – e exclusivamente neste blog – “Valley Girl”, uma das quatro faixas do mini-álbum. E mais tarde entre aqui para escutar o restante do trabalho.


Entrevista: Real Estate apresenta no Brasil um dos melhores discos de 2014
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Pablo Miyazawa

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Real Estate (e Mondanile ao centro): apenas uns caras normais. (Reprodução/Facebook Oficial)

Hoje, 20 de novembro, tem show do Real Estate em São Paulo.

Para quem não conhece, é um grupo formado em Nova Jersey que lançou um dos melhores (e mais tranquilos) discos de 2014, “Atlas”. Dá para chamar de indie, dream pop, jangle pop, do que quiser (eu pessoalmente detesto rótulos). Eu só consigo definir a música do Real Estate como fácil de agradar a qualquer um que aprecie melodias tranquilas, guitarras dedilhadas e  um clima etéreo e de constante calmaria. Sem dúvidas, é música para baixar a bola, e não para estimular a adrenalina.

Hoje, quatro dos cinco integrantes vivem no Brooklyn (Nova York), enquanto um deles vive em Los Angeles. Conversei exatamente com esse cara, Matt Mondanile, guitarrista e um dos fundadores do Real Estate. Transcrevo a seguir trechos da entrevista que fiz no último sábado, dias antes dos caras pousarem aqui para dois três shows no Brasil – além de São Paulo (hoje, no Beco 203), tocam também na sexta (21) em Porto Alegre (Beco 203) e no domingo (23) no Rio de Janeiro (Circo Voador). (o show do Rio foi cancelado, desculpe a falha). Corra, que ainda tem ingressos.

***

“Atlas” é um dos discos mais celebrados de 2014. É interessante a naturalidade com que ele soa, traz uma sensação de amplitude, de disco ao vivo. Como funcionou o processo de composição?
Matt Mondanile: Bom, começamos a gravá-lo no começo do ano passado. Martin [Courtney], o vocalista, escreveu a maioria das músicas, e aí eu inventei as partes de guitarra pra elas, e o baixista [Alex Bleeker] veio e fez as dele. Nós ensaiamos muito até chegar ao ponto em que começamos a tocar com a banda toda, com o teclado e a bateria. Quando chegou a hora de entrar no estúdio, estávamos muito preparados e foi mais fácil de gravá-las. E sim, gravamos tudo ao vivo, e essa é a razão para o disco soar tão natural, o que é legal.

Quando vocês gravavam, chegaram a pensar: “Esse disco está saindo bom”? Ou não dava para saber o que esperar?
Um pouco dos dois. Algumas músicas, a gente não sabia no que ia dar. Mas você vai lá e faz o melhor que pode. Acho que todo mundo estava bem empolgado durante as gravações. Não dava para saber como sairia pelo menos até o finalzinho, então…

Algumas músicas são mais curtas do que deveriam ser. Aliás, o disco como um todo é muito curto, nem chega a 40 minutos.
Eu acho que só queríamos soar concisos. Se você nos assistir ao vivo, verá versões mais longas das músicas, com improvisos. Mas no disco nós fizemos uma versão concisa. Decidimos isso enquanto gravávamos: não queríamos que as coisas durassem muito ao ponto de ficar chato.

Você vive na Costa Oeste e o resto da banda vive do outro lado do país. Como funciona essa dinâmica para você? Não dá para ter uma vida lá muito normal.
É muito verdade. É super difícil ter uma vida normal estando na banda. Acho que mudar para a Costa Oeste foi bom para mim, porque eu queria muito morar aqui. E quando pego o avião para encontrar o grupo, a gente se junta na mesma cidade em que vamos tocar, já que não precisamos mais ensaiar. Então, é frenético – viajar quase toda semana, vivendo para voar. Mas gosto de viver em Los Angeles porque o clima é ótimo e o custo de vida é bem mais em conta para mim.

O Real Estate apresentou todas as faixas de “Atlas” em Nova York, em março passado. Veja o vídeo abaixo:

Você tem outro projeto, o Ducktails. Como faz para conciliar o Real Estate com seus negócios próprios? É difícil fazer algo seu enquanto se está viajando tanto com a banda principal?
É interessante, porque notei que é difícil mesmo balancear as duas coisas. Eu comecei a trabalhar em umas músicas no fim do ano passado, quando me mudei pra L.A., e só agora estou as terminando porque ando viajando muito. Então leva bem mais tempo do que antes, e faz você pensar: “Putz, o que estou fazendo não é bom.“ Eu percebi que não é bem assim – é difícil mesmo. E só agora estou conseguindo terminar umas faixas no estúdio. A ideia é finalizar o disco até o fim do ano ou começo do ano que vem e lançá-lo em maio. Mas é muito bom quando enfim se consegue equilibrar as coisas.

Você nasceu em 1985, então tem 29 anos. Que tipo de música você cresceu ouvindo? Deu tempo de escutar o Nirvana enquanto o Kurt Cobain ainda estava vivo?
Sim, eu cresci ouvindo essas bandas. As primeiras coisas de música que ouvi foram Ace of Base, Green Day, Beach Boys, Van Halen, eu era muito novo. Daí entrei no rock clássico, Led Zeppelin, coisas assim. Daí no ensino médio comecei a ouvir Weezer, Radiohead, Built to Spill, Modest Mouse, música indie. E no fim da escola eu só ouvia coisas experimentais e obscuras, noise, free jazz, John Cage, coisas esquisitas. Foi sair da escola para a voltar para o rock que eu gostava. Atualmente euouço todo tipo de música.

Você sente que, para a geração atual, os pré-adolescentes de hoje, as referências ainda são as bandas antigas dos anos 70 a 90? Não acha que as bandas de hoje não estão se tornando referências para a molecada?
Eu não acho. O que tenho visto recentemente é que, quando encontro gente nos shows do Real Estate, muitos garotos chegam e dizem: “Vocês são o motivo para eu ter começado a tocar guitarra”. Isso é muito legal e inspirador, e é o tipo de coisa que eu diria para, tipo, o Weezer, quando eu era mais novo. Às vezes você encontra uma banda que te faz querer fazer sua própria música. E essa é a única coisa que posso esperar dos fãs do Real Estate – inspirá-los a criar sua própria música. Com certeza ainda existem bandas de rock que inspiram a molecada.

Qual a idade média do público no show de vocês?
Acho que é uma gama diferente. Vai de 18 a 30 e poucos, até os 40 anos. Então temos um público bem diversificado. Outros artistas indie como o Mac Demarco tem um público mais jovem, mas nós temos todo tipo de gente.

É a sua primeira vez no Brasil, certo? Não sei se você imagina o que esperar daqui, o tipo de gente que vai ver, os lugares que irá conhecer. Qual é a sua ideia do país?
Não sei, não tenho nenhuma ideia. Nunca estive aí, mas quero ir. Estou empolgado para conhecer a América do Sul de um modo geral.

Como é ser o cara solteiro da banda? Os outros são casados, mas você não é, certo?
Não sou casado. Para falar a verdade, eu me mudei para Los Angeles para ficar com alguém, e nós terminamos recentemente. Ela é uma artista da [gravadora] Domino, a Julia Holter.

Desculpe, eu não sabia disso.
Sem problemas. Você pode publicar isso, é interessante. O negócio é que eu queria realmente estar num relacionamento com alguém que tivesse uma rotina parecida, que viajasse… Que tivesse um estilo de vida parecido com o meu. Mas aí você percebe que isso é mais difícil, porque você nunca vê a pessoa, já que estão os dois sempre viajando. Então é muito difícil estar em um relacionamento quando se viaja tanto.
Mas é legal ver que o Martin está numa relação há tanto tempo. Ele conheceu a esposa na época da escola, então já se conheceram antes de começarmos a fazer turnês com a banda. Eles passam muito tempo juntos e se entendem muito bem. É uma situação única. Agora que estou solteiro, está tudo bem. É divertido, eu gosto.

Você conhece seus parceiros de banda, Martin e Alex, desde a adolescência. Como está a relação de vocês hoje, que todos são crescidos, têm responsabilidades? Como a amizade evoluiu?
É ótima. Nós trabalhamos juntos, mas continuamos amigos. Eu gosto de viver em Los Angeles porque me dá a distância do lugar onde os caras vivem e de onde vivi a vida toda. A minha família é de Nova Jersey, então… É bom ter essa distância.

Então o fato de viver longe é bom para não se aborrecer com seus companheiros. Porque a vida na estrada pode ser um porre, não?
Pode ser um porre, mas na verdade é divertida se você fizer ela ficar divertida. Quando é um porre, fica difícil viajar. Mas é legal.

E como você a faz ficar divertida?
Você conversa com as pessoas, mantém o bom humor e não leva qualquer coisa para o lado pessoal. E tenta fazer a música o melhor que puder.

***

E veja aqui o Real Estate convidar Rivers Cuomo do Weezer ao palco de um festival em Los Angeles na terça-feira passada, para uma versão fiel até demais de “No Other One”, do clássico disco “Pinkerton”.

(Aliás, foi com esse cover que o Real Estate encerrou o show de hoje em São Paulo).


Que tipo de público o elenco principal do Lollapalooza conseguirá atrair?
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Pablo Miyazawa

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Artistas da edição 2015 do Lollapalooza Brasil, que ocorrerá em 28 e 29 de março. (Reprodução/Site Oficial)

A imagem acima mostra o elenco do Lollapalooza 2015, marcado para março do ano que vem, em São Paulo.

Ainda não está confirmado, mas dá para presumir que os dois primeiros artistas da lista são aqueles que fecharão cada dia de evento no palco principal 1. Sendo assim, pergunto: um festival que tem Jack White e Pharrell Williams como headliners (e Calvin Harris, Robert Plant, Skrillex, Smashing Pumpkins e Foster the People como co-headliners) está convidando exatamente que tipo de público?

Dá para entender a dificuldade cada vez maior de ser criar um festival de sucesso no Brasil. Muito porque o que rola aqui é diferente do que ocorre em eventos gringos: lá fora, a maior parte do público comparece mais por causa da experiência (como dizem por aí, “pela balada”) do que pela música em si. É por isso que o californiano Coachella sempre tem ingressos esgotados desde 2002. É por isso também que os 150 mil ingressos da edição 2015 do britânico Glastonbury foram vendidos em menos de meia hora, nove meses antes do festival acontecer – e a programação só sairá daqui uns meses. Quais bandas vão tocar em cada dia, ou quais serão os headliners, isso tudo é mero detalhe para o consumidor típico desses grandes festivais nos EUA e Europa.

É verdade que um fenômeno semelhante tem ocorrido no Brasil com o Rock in Rio, no qual a pré-venda de ingressos se esgota muitos meses antes de se anunciar a programação final. Mas o RIR não é apenas a exceção, como também a principal referência desse tipo de evento para o público mainstream.

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Coachella em 2014: a música é importante, mas o restante é fundamental (Divulgação/Coachella.com)

A lógica por aqui ainda é diferente. Assim como qualquer produto de entretenimento, grandes shows internacionais custam caro demais para grande parte do público-alvo. Mesmo quem ama música mais do que qualquer coisa precisa refletir antes de gastar dinheiro com ingressos. Muita gente do Brasil inteiro adoraria comparecer ao Lollapalooza, mas a maioria dos consumidores potenciais (que não possuem carteirinha de estudante) precisaria de um ótimo motivo para gastar quase um salário mínimo em um único fim de semana (os ingressos para os dois dias saem por R$ 660).

Concluo que para um festival no Brasil esgotar os ingressos (e é esse o objetivo de quem produz um evento desses), é preciso oferecer atrações de peso e tradição, com uma base de fãs consistente e fiel. Sempre espera-se que o artista principal do maior palco seja um grande carregador de público, que sozinho consiga convencer as pessoas a comparecer, independentemente do preço da entrada e da qualidade do restante da programação. Dessa forma, esse tipo de fã vai ao evento porque não pode perder por nada desse mundo o grande show de sua banda do coração. O que vier antes (e nos outros palcos) é lucro.

Essa máxima se aplicou nas edições anteriores do Lollapalooza Brasil, e deu certo na metade das vezes. Ou seja, artistas que o senso comum presume que possuem muitos fãs apaixonados realmente atraem um público mais volumoso ao festival.

No primeiro ano do Lollapalooza, em 2012, as atrações principais foram Foo Fighters (que em janeiro tocará em quatro capitais) e Arctic Monkeys (que tocou nesse final de semana em São Paulo e Rio). A noite liderada pela banda de Dave Grohl estava abarrotada (o muito popular FF jamais havia se apresentado na cidade); a noite fechada pelo AM (um grupo relativamente novato) não esgotou os ingressos. Era de se esperar.

Em 2013, com um dia de festival a mais, os headliners do palco 1 foram nomes mais jovens e efêmeros como The Killers e Black Keys, além do “veterano” Pearl Jam. O único dia de ingressos esgotados foi mesmo o último, cuja atração principal foi… a banda de Eddie Vedder, que tem mais história, mais de 20 anos de carreira e um fã-clube dedicado.

No ano passado, novamente em dois dias, tocaram por último o Muse e o Arcade Fire. O primeiro dia, comandado pelo trio britânico, sensação entre o público jovem, teve ingressos esgotados (80 mil, o maior da história do festival). O segundo, com o Arcade Fire, respeitado na cena indie, estava bem menos lotado. É possível alegar que o dia 1 teve ótimo público não apenas por causa do headliner, mas por outras atrações valiosas e emergentes da programação, como Lorde e Imagine Dragons – ambos, aliás, acabaram tocando equivocadamente em palcos secundários, muito aquém de seus potenciais.

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Jack White deve ser o headliner do dia 1 do Lolla 2015, em 28 de março. (Divulgação)

Este ano, dá para sentir uma diferença brutal entre os gêneros que vão imperar em um dia e no outro: Jack White é do rock. Já Pharrell Williams, nesse momento está mais próximo do pop. Nenhum dos dois pode ser considerado um artista enorme no Brasil, mas sendo otimista, dá para imaginar que ambos lotariam seus respectivos shows solo.

Puxado pelo insistente hit “Happy” e pelas participações em músicas recentes do Daft Punk e Robin Thicke, Pharrell até poderia lotar uma Arena Anhembi esse ano. Já Jack White, que para muita gente no Brasil ainda é “aquele cara do White Stripes”, talvez enchesse um Espaço das Américas e olhe lá. Em ambos os casos, não enxergo neles um artista de massa capaz de lotar estádios (ou no caso, um Autódromo de Interlagos), como foi o caso de Foo Fighters, Pearl Jam e Muse. E o mesmo pode ser dito dos outros headliners do ano: Calvin Harris, Robert Plant, Skrillex, Smashing Pumpkins e Foster The People atraem públicos numerosos por aqui, mas será que o bastante para esgotar ingressos?

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Pharrell deveria estar mais “happy” por fechar a segunda noite do Lolla BR. (Divulgação)

No que diz respeito ao line-up, variedade e contemporaneidade das atrações que apresenta, o Lollapalooza é o melhor festival do país. Não há outro modo de se ver ao vivo tantos artistas modernos ao mesmo tempo em que estão estourando nos grandes mercados estrangeiros. Mas não é só de bandas novas carregadas de hype e hits recentes que se faz um festival 100% lucrativo no Brasil. É preciso agradar a massa – e é por essas e outras que o Rock in Rio sempre faz muito sucesso.

É óbvio que a organização do Lollapalooza quis reunir o melhor elenco possível. Deve ter tentado outros nomes de peso, e se não conseguiu trazê-los, provavelmente foi por uma razão burocrática qualquer – indisponibilidade de data, conflito de agenda, valor de cachê etc. E quais poderiam ser os headliners mais certeiros de um festival que se propõe a atrair 80 mil pessoas por dia? Infelizmente, são poucos os nomes grandes, tradicionais, disponíveis e que ainda sejam novidade em nossos palcos. Mas quem aí falou que o brasileiro só gosta de novidade? Por isso reuni de cabeça sete nomes (em ordem alfabética) que talvez funcionassem bem em um evento tão eclético e ambicioso como o Lolla. Será que alguém aí reclamaria de ver algum desses caras novamente?

1. Beyoncé
Lotou estádios em cinco capitais em 2013. Está no topo da cadeia alimentar do pop.

2. Black Sabbath
Os quatro shows que o grupo fez por aqui em 2013 não supriram a demanda.

3. Coldplay
Já faz três anos que não aparece e especulava-se que viria dessa vez.

4. Metallica
Tem aparecido aqui com frequência – foram seis shows desde 2010.

5. Paul McCartney
Macca já é brasileiro: até o final de 2014, serão 16 shows no país em cinco anos.

6. Radiohead

Não faz shows desde 2012 (e só veio para cá em 2009), mas não custa sonhar.

7. Red Hot Chili Peppers

São carne de vaca: foram headliners de dois Rock in Rio e um Hollywood Rock.

Quem tiver mais alguma sugestão, é só comentar abaixo.


O novo Arctic Monkeys é ótimo, mas tragam o velho Arctic Monkeys de volta
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Pablo Miyazawa

O desfecho do ótimo show do Arctic Monkeys na noite de sexta (14), em São Paulo, me trouxe algumas conclusões.

A primeira: apesar de admitir que a banda atual é muito competente no que faz, eu pessoalmente prefiro muito mais aquela dos dois primeiros discos, suja, barulhenta e que sentia um prazer febril em incomodar.

A segunda conclusão é igual a anterior: nem tudo o que é novo é necessariamente melhor. No caso dos Arctic Monkeys, eles cresceram e envelheceram. São quase balzaquianos. E agora se levam mais a sério e fazem mais questão de agradar uma maioria. Isso é quase sempre bom. Mas nem sempre.

Leia minha crítica sobre o show na Arena Anhembi aqui.


Ele tem 10 anos, sonha em ver o Paul McCartney ao vivo e quer a sua ajuda
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Pablo Miyazawa

Vale tudo para conferir um Beatle ao vivo? Vale. Até vender artesanato.

O garoto Matheus, de São Paulo, criou uma maneira interessante de arrecadar dinheiro para um ingresso do show do Paul McCartney. Veja o vídeo abaixo.

E o apelo do jovem fã é dos mais singelos: “Sou Matheus, tenho 10 anos. Um dos meus sonhos é ver um Beatle de perto, ouvir ele e curtir um show. Comecei a fazer essas pulseirinhas de plástico (todo mundo usa) pra juntar um dindin e ir no show com a minha titia. Precisamos de R$ 500, ou seja, muitas pulseirinhas pra vender. Poderia nos ajudar? Toda ajuda é bem-vinda.”

Quem quiser ajudá-lo, clique aqui.


As 7 melhores músicas que Paul McCartney não tocará no Brasil (mas deveria)
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Pablo Miyazawa

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Paul no Brasil: cada show deverá ter 39 músicas, das quais 26 dos Beatles. (Foto: Pablo Miyazawa)

Paul McCartney faz hoje o primeiro de uma série de cinco shows no Brasil.

Este é o quarto ano seguido em que o eterno beatle se apresenta por aqui. E hoje, em Cariacica (região metropolitana de Vitória), ele fará o décimo-sexto show em palcos do país: foram dois em 1990 (Rio de Janeiro), dois em 1993 (São Paulo e Curitiba), três em 2010 (Porto Alegre e São Paulo), dois em 2011 (Rio), três em 2012 (Recife, Florianópolis) e três em 2013 (Belo Horizonte, Goiânia e Fortaleza). E além do Espírito Santo, ainda tocará no Rio (12/11), Brasília (23) e São Paulo (25 e 26).

Verdade seja dita, apesar de algumas surpresas ocasionais, McCartney tem feito shows bastante previsíveis no que diz respeito ao repertório. Tirando as faixas mais famosas da época do Wings e algumas dos discos solo mais recentes (dessa vez ele apresenta o álbum “New”, de 2013), ele concentra a maior parte do set list de quase 40 músicas – cerca de 65%! – para músicas dos Beatles. Veja a provável lista aqui. Bem, ele pode. Você não faria o mesmo se fosse um dos compositores da maior banda de todos os tempos?

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Macca curte o Brasil em Goiânia, em 2013: o país virou porto obrigatório. (Foto: Pablo Miyazawa)

Mesmo quem já viu outros shows de McCartney espera pelos clássicos óbvios. E é claro que ele é praticamente obrigado a tocar “Yesterday”, “Hey Jude”, “Let it Be”, “Back in the U.S.S.R.” e “The Long and Winding Road” até o fim da vida – e essas nunca faltaram por aqui. Mas se quiser variar um pouco e demonstrar um carinho extra pelo fã brasileiro, Macca poderia nos reservar umas surpresinhas diferentes. Fica abaixo minha sugestão de sete faixas que pouco (ou nunca) aparecem no repertório do beatle, e que certamente deixariam os shows ainda mais interessantes.

***

“Here, There and Everywhere” (“Revolver”, 1966)
Nem é preciso ser fã radical para considerar esta uma das músicas mais bonitas escritas por Paul McCartney (que já declarou que esta é uma das favoritas dele). Ainda assim, a bela balada aparece esporadicamente no repertório desde 2003 – segundo o site colaborativo Setlist.fm, a última vez que ele a tocou em um show foi em 2008. Os brasileiros ainda tiveram a chance de conferi-la nos dois shows que Macca fez no Brasil em 1993, e nunca mais.


“Fixing a Hole”
(“Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, 1967)
Outra faixa não convencional da era psicodelica dos Beatles que pode ser identificada de longe como típica obra de McCartney. Ele a apresentou diversas vezes nas turnês de 1993 e 2005, mas nunca mais a tirou da gaveta. O que significa que os brasileiros ainda não presenciaram a música ao vivo – é difícil que ele faça isso dessa vez, mas quem aí se arrisca a levar um cartaz com o pedido?


“Maxwell’s Silver Hammer”
(“Abbey Road”, 1969)
“Why Don’ We Do it in the Road” (“Álbum Branco”, 1968)
Duas realmente “inéditas”: McCartney jamais as tocou ao vivo em suas turnês pós-Beatles. A primeira, do último álbum gravado pelo Fab Four, é composição solitária dele, e ficou de fora do “Álbum Branco” provavelmente por ser muito complicada (os parceiros assumidamente não gostavam da faixa). Já ‘Why Don’t We Do it…” foi escrita e gravada inteiramente por Paul, que apenas chamou Ringo Starr para adicionar a bateria (John Lennon não foi avisado previamente, e jamais perdoou o ex-parceiro por isso). Talvez pela natureza controversa dessas músicas, Paul prefere não relembrá-las hoje em dia. Mas há um consolo: ele já recitou as letras de ambas em um evento em Nova York, em 2001 (veja o vídeo).


“You Won’t See Me”
(“Rubber Soul”, 1965)
Faixa de mais longa duração gravada pela banda até 1965 (três minutos e vinte segundos), esta é outra das composições de McCartney que não foram tocadas ao vivo pelos Beatles originais, mas que ganharam vida quando o baixista começou a revisitar a carreira nas turnês mais recentes. Porém, já se vão 10 anos desde que ele a apresentou em um palco. Se decidir tocá-la em algum dos shows no Brasil, será um fato inédito. Pode ser difícil de acontecer, mas não custa nada pedir.


“Hello Goodbye”
(“Magical Mystery Tour”, 1967)
Das canções emblemáticas de Paul que não fazem parte da turnê atual, esta talvez seja a menos rara e mais frequente: ele já a tocou por aqui um punhado de vezes (duas no Rio na primeira turnê, em 1990, no Rio novamente em 2011, e em Recife em 2012). Mas já faz dois anos que a faixa, que fez sucesso quando lançada em compacto duplo no Brasil em 1967, foi excluída do repertório padrão de McCartney. Será que poderia voltar em algum dos shows por aqui?


“She’s Leaving Home”
(“Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, 1967)
É uma das músicas mais belas da história dos Beatles, e também uma das últimas escritas em conjunto pela dupla Lennon e McCartney. Mas talvez pelo arranjo orquestrado da versão original (há instrumentos de corda, inclusive uma harpa) e andamento lento, Paul raramente a apresenta nos shows – a última vez ocorreu na turnê de 2003. O vídeo abaixo mostra uma emocionante performance na Praça Vermelha, em Moscou, que deixa claro que nenhum fã brasileiro reclamaria se pudesse enfim conferi-la ao vivo.


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