dave grohl – Blog do Pablo Miyazawa http://pablomiyazawa.blogosfera.uol.com.br Uma visão jornalística (e um tanto pessoal) sobre tudo o que ecoa e importa na cultura pop mundial: atualidades e obscuridades da música, cinema, videogames, televisão, quadrinhos, literatura e internet. Mon, 01 Oct 2018 19:38:08 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 O novo do Foo Fighters chegou; ouça as oito faixas de “Sonic Highways” http://pablomiyazawa.blogosfera.uol.com.br/2014/11/07/o-novo-disco-do-foo-fighters-vem-ai-ouca-as-cinco-musicas-ja-disponiveis/ http://pablomiyazawa.blogosfera.uol.com.br/2014/11/07/o-novo-disco-do-foo-fighters-vem-ai-ouca-as-cinco-musicas-ja-disponiveis/#respond Fri, 07 Nov 2014 19:10:45 +0000 http://pablomiyazawa.blogosfera.uol.com.br/?p=486 foofighters

O novo disco do Foo Fighters, “Sonic Highways”, saiu nesta segunda-feira, 10 de novembro. Semanas antes, a banda de Dave Grohl havia desvendado mais da metade do trabalho, em singles lançados todas as sextas-feiras desde a metade de outubro. Tudo faz parte da caprichada estratégia de lançamento do álbum, que também inclui um documentário em forma de seriado exibido atualmente no canal HBO (no Brasil, “Sonic Highways” será exibido no canal BIS a partir do fim do mês).

“Sonic Highways” é um álbum conceitual que homenageia as chamadas “capitais da música” dos Estados Unidos. A banda escolheu a dedo oito cidades e compôs canções sobre cada uma delas, gravando em estúdios locais e contando com participações especiais de músicos relevantes das respectivas cenas. O resultado é interessante e diversificado, ainda que não seja exatamente o disco mais conciso já produzido pelo grupo. Mas como experimento artístico e jogada de marketing, é bastante válido. Grohl prometeu algo surpreendente para o próximo passo do Foo Fighters, e não estava exagerando.

Se preferir, escute o disco inteiro clicando aqui. Ou vá ouvindo pelos vídeos abaixo.

“Something from Nothing”
O primeiro single é uma homenagem a Chicago e foi gravado no estúdio Electrical Audio, do mítico produtor Steve Albini (de “In Utero” do Nirvana). Conta com a participação do guitarrista Rick Nielsen, do Cheap Trick.

“The Feast and the Famine”
O single número dois celebra a capital americana Washington D.C., onde Dave Grohl passou a adolescência e se envolveu com a cena hardcore local. Foi gravada no Inner Ear Studios com a participação dos veteranos do Bad Brains.

“Congregation”
Nashville, ou melhor, a rica cena country da capital do Tennessee, foi a inspiração do terceiro single de “Sonic Highways”. Gravado no estúdio Southern Ground, contou com a participação vocal do astro local Zac Brown.

“What Did I Do? / God as My Witness”
O quarto single foi gravado em Austin, cidade texana que se intitula a capital da música e que abriga o cultuado festival South by Southwest. Gravada no KLRU-TV Studio 6A, teve a participação do guitar hero Gary Clark Jr.

“Outside”
O quinto single de “Sonic Highways” é uma celebração a Los Angeles. A faixa foi gravada em Rancho De La Luna, em Joshua Tree, e tem como convidado o guitarrista Joe Walsh, do The Eagles.

“In the Clear”
Dedicada a Nova Orleans, teve participação da big band Preservation Hall Jazz Band e foi gravada em um estúdio improvisado no próprio Preservation Hall.

“Subterranean”
Gravada no Robert Lang Studios, em Seattle, conta com a voz e a guitarra de Ben Gibbard, líder do Death Cab for Cutie/Postal Service.

“I Am a River”
Exaltando Nova York e fechando o disco, a faixa traz a guitarra extra (e quase inaudível) da musa Joan Jett e foi gravada no estúdio The Magic Shop.

E você, como recebeu “Sonic Highways”? Em breve eu digo o que achei do disco completo.

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Dave Grohl é provavelmente o cara mais legal do rock – goste você ou não http://pablomiyazawa.blogosfera.uol.com.br/2014/10/17/dave-grohl-e-provavelmente-o-cara-mais-legal-do-rock-goste-voce-ou-nao/ http://pablomiyazawa.blogosfera.uol.com.br/2014/10/17/dave-grohl-e-provavelmente-o-cara-mais-legal-do-rock-goste-voce-ou-nao/#respond Fri, 17 Oct 2014 15:00:48 +0000 http://pablomiyazawa.blogosfera.uol.com.br/?p=102 davegrohl Getty

Para Dave Grohl, a vida está sempre jóia. Foto: Frederick M. Brown/Getty Images

Ontem o Foo Fighters apresentou uma música nova.

A faixa “Something From Nothing” é uma homenagem a Chicago, uma das oito cidades celebradas no disco-série-experimento “Sonic Highways”. Basicamente, Dave Grohl e seus comparsas criaram um lançamento multimídia robusto que deveria ensinar algo aos marqueteiros do U2 sobre como fazer barulho em cima de um novo disco. O single foi lançado oficialmente nesta sexta-feira, enquanto o disco completo chega às lojas em 10 de novembro.

Só que “Sonic Highways” não é só um álbum. O Foo Fighters escolheu cidades marcantes para a música norte-americana e gastou uma semana em cada uma. Instalou-se em um estúdio para ensaiar trechos de música e fazer jams. Entre as sessões, Grohl visitou e entrevistou figuras importantes da música local. O material em vídeo se transformou em uma série de oito episódios que começa a ser exibida hoje nos EUA, no canal HBO. No Brasil, “Sonic Highways” será exibida pelo canal pago BIS a partir de 30 de novembro.

As entrevistas de Grohl também inspiraram anotações que se tornavam versos para a música que era ensaiada. O próprio vocalista organizou e escreveu as letras e as gravou na hora com a banda. E isso se repetiu por mais sete semanas. “Sonic Highways” tem oito faixas, escritas e finalizadas cada uma em Chicago, Washington D.C., Nashville, Nova Orleans, Los Angeles, Austin, Seattle e Nova York.

Além disso, ao longo dessa semana, a banda promoveu a empreitada em cinco apresentações seguidas no programa de David Letterman.

Musicalmente, “Something For Nothing” é aquele Foo Fighters de sempre: introdução silenciosa, múltiplos riffs, guitarras altas e independentes, bateria pesada em meio-tempo e Grohl aproveitando para soltar a garganta como bem sabe fazer. Dada a natureza experimental de todo processo de composição do álbum, acho difícil encontrarmos entre as outras faixas algum hit persistente como “Everlong” ou “Learn to Fly”. Mas isso não seria novidade, visto que o Foo Fighters segue uma incômoda tradição de fazer discos irregulares, com metade de canções muito boas e a outra metade não tão inspirada (a exceção é o perfeito “The Colour and the Shape”, de 1997).

Do ponto de vista mercadológico, entretanto, o Foo Fighters dificilmente erra. O interessante é notar que um plano de lançamento tão bem calculado e ambicioso poderia impulsionar um efeito contrário: o de muita gente ficar de bode do Foo Fighters antes mesmo de o novo disco sair. Conheço muitos fãs incondicionais de Dave Grohl, mas me impressiona como tem gente que ouve rock e não simpatiza com o sujeito – e, consequentemente, com a atual banda dele. Seriam problemas o bom humor e o otimismo que ele exibe publicamente? Ou a sua onipresença constante na cena roqueira?

Capa completa de “Sonic HIghways”, previsto para 10 de novembro. (Reprodução)

Por outro lado, não há quem não respeite a trajetória dele como baterista do Nirvana. Concordo que são trabalhos diferentes e circunstancialmente únicos, e que ninguém é obrigado a achar o Foo Fighters maravilhoso só porque é a banda do sujeito que gravou o “Nevermind”. Mas creio que desde que recomeçou a carreira após a morte de Kurt Cobain, Grohl sempre trabalhou duro, foi eficiente e fez por merecer os muitos fãs que tem – além do título de “cara mais legal do rock”.

Sou daqueles que respeita e gosta do Foo Fighters, mas que prefere Dave Grohl na bateria. De qualquer forma, o considero um artista diferenciado e verdadeiro no que diz respeito ao esforço com que vende seu peixe. É um cara devoto à música e que ama o que faz, um guitarrista competente, um baterista excelente e o dono de uma das vozes mais marcantes do rock nos últimos 15 anos. Respeita seus mestres e se orgulha de compartilhar o palco com eles. Se Grohl é o grande “arroz de festa” do rock, é porque fez por merecer tocar com Paul McCartney, Jimmy Page, Robert Plant, Ozzy Osbourne, Tony Iommi e Bob Mould, só citando alguns.

Capa da “Rolling Stone Brasil” com Dave Grohl, de março de 2012. (Reprodução)

Capa da “Rolling Stone Brasil” com Dave Grohl, de março de 2012. (Reprodução)

Comprovei pessoalmente essa mítica simpatia quando o Foo Fighters foi a atração principal do festival Lollapalooza, em 2012. Eu havia entrevistado Grohl por telefone um mês antes, para a matéria de capa da “Rolling Stone Brasil”. Os 15 minutos programados se tornaram 30 apenas porque ele quis contribuir mais para o material. Foi simpático desde a primeira saudação e solícito durante todo o tempo. Bem preparado, rendeu frases fortes e não fugiu dos temas, falando inclusive sobre o Nirvana (que supostamente era um tema proibido da conversa). A revista vendeu bem, apesar da imagem da capa – Grohl oferecendo gentilmente o dedo do meio ao leitor, em uma foto não tão recente.

Em 7 de abril de 2012, dia do show, os produtores do festival avisaram que a banda me receberia. Às 19h, fui levado para a tenda atrás do palco onde eles atendiam executivos de gravadora (e suas famílias). Era a tradicional cerimônia de “meet and greet” a que os headliners em turnê mundial são obrigados a enfrentar – receber discos de ouro, apertar mãos e posar para fotos com convidados.

Após o assédio se dissipar, fui apresentado a um Grohl jovial e animado, vestindo camiseta preta da banda Mastodon, bermuda verde-oliva e o sorriso cheio de dentes. “Hey, man! How are you doing?”, saudou com um abraço e um “thanks” aparentemente sincero pela reportagem publicada. Encarando incredulamente seu próprio desaforo na capa da “Rolling Stone” que lhe entreguei, gargalhou e lamentou a falta de tempo desde o pouso no Brasil. “E já vamos embora amanhã!”, disse, ainda recebendo tapinhas nas costas e acenos à distância.

Nessa viagem, minha esposa veio comigo”, ele continuou, apontando para Jordyn, sentada em uma poltrona próxima. Ela se aproximou e Grohl nos apresentou. “Não trouxemos nossos filhos, deixamos as crianças em casa, com a minha mãe e a mãe dela. Estão com as avós, então somos só nós dois aqui na viagem toda, curtindo. No Chile fomos a uma vinícola, fizemos um jantar incrível…”.

E em São Paulo, conseguiram ver alguma coisa?

Fizemos porra nenhuma! Porque chegamos aqui ontem à noite”, ele faz careta, fingindo resignação. “É, eu sei. Então, da próxima vez, nós vamos chegar antes.”

E por que levaram tanto tempo para voltar aqui?

Honestamente? Eu estou feliz de termos demorado tanto para vir.” Ao perceber que poderia ser mal interpretado, ele fez questão de consertar: “Quero dizer, vou pensar em um bom exemplo. Ok: Espanha e Itália. Nós tocamos muitas vezes nesses países entre 1995 e 1998. Depois disso, a gente meio que parou de ir, porque havia outras partes do mundo pedindo para irmos fazer shows.”

O baixista Nate Mendel se juntou à roda enquanto o guitarrista Pat Smear folheava atentamente a revista. “Você a conheceu?”, Smear perguntou, apontando para uma foto de página inteira de Joan Jett. “Você deveria. Ela é maravilhosa!” Por coincidência, a TV ligada no canto da tenda indicava o exato início do show da cantora, no palco oposto. Algumas horas depois, ela estaria novamente em ação, dividindo duas músicas com o próprio Foo Fighters.

Grohl prossegue em sua tese. “Basicamente, voltamos à Espanha e à Itália no ano passado, porque não fizemos show nenhum lá em 12 anos. E foram do caralho. Todo mundo cantou as músicas. Já que não aparecíamos nesses países há tanto tempo, a ausência fez com que as pessoas quisessem muito aquilo. E daí fomos lá e ‘uhn!’”, ele bate na palma de uma mão com os dedos da outra. “Resultado: Foi o melhor show de todos os tempos. Agora, nós vamos retornar em breve. E será a mesma coisa com a América do Sul”, prometeu.

Acostumado a encarar multidões em caldeirões, Dave Grohl parecia genuinamente empolgado com a missão de entreter 75 mil brasileiros ansiosos. Inclusive, tinha pronto o plano para reverter a pressão e conquistar o controle logo de cara.

“A gente vai começar o show com ‘All My Life’”, ele disse em um sussurro, como se revelasse um truque sujo. “Espere só para ver o que acontece. É uma puta loucura!”

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Bob Mould completa 54 anos. Sem ele não haveria Pixies, Nirvana e Green Day http://pablomiyazawa.blogosfera.uol.com.br/2014/10/16/bob-mould-faz-54-anos-vida-longa-a-bob-mould/ http://pablomiyazawa.blogosfera.uol.com.br/2014/10/16/bob-mould-faz-54-anos-vida-longa-a-bob-mould/#respond Thu, 16 Oct 2014 18:18:27 +0000 http://pablomiyazawa.blogosfera.uol.com.br/?p=78 Bob Mould se apresenta no Riot Fest, em Denver, em 21 de setembro último. Crédito: AP

Bob Mould se apresenta no Riot Fest, em Denver, em 21 de setembro último. Crédito: AP

Hoje, 16 de outubro, Bob Mould completa 54 anos.

Para quem sempre acompanhou a carreira dele, as próximas linhas poderão soar redundantes. Mould foi um dos fundadores do trio Hüsker Dü, que existiu de 1979 a 1988 e ajudou a abrir as portas do mainstream para o rock underground. Chame de punk, hardcore, pós-punk, power pop ou como quiser: o Hüsker Dü fez de tudo e influenciou quem estivesse por perto, e o frontman-guitarrista Mould era o seu enfurecido porta-voz (dividindo as funções de composição e vocais com o baterista ripongo Grant Hart). É mais do que certo decretar que se não fosse por eles, aquilo que um dia chamamos de “rock alternativo” soaria bastante diferente. O Pixies não seria daquele jeito, o Nirvana talvez nem existisse, o Green Day muito menos, e por aí vai.

Depois de uma dissolução amarga e mal-resolvida, Mould seguiu carreira solo e liderou outro trio de apelo mais adocicado, o Sugar. Se não experimentou tanta aclamação crítica quanto sua banda anterior, Mould se manteve em alta e gerou um dos discos fundamentais do rock noventista – “Copper Blue”. Dois álbuns e um EP depois, Mould seguiu experimentando, flertou com a música eletrônica e caiu em um ligeiro ostracismo. Chegou a desentender-se com o rock, mas fez as pazes em definitivo com o ótimo “The Silver Age” (2011). No mesmo ano, participou de uma faixa do Foo Fighters (“Rosemary”) e ganhou um show-tributo a sua carreira, com as participações de Ryan Adams e Dave Grohl. Aliás, foi Grohl quem declarou na ocasião, soando muito sincero: “Se não fosse por ele, eu não estaria fazendo música desse jeito, ou tocando guitarra como eu toco”. É justo.

Capa de “Beauty & Ruin”, disco mais recente de Bob Mould. Crédito: Reprodução

Capa de “Beauty & Ruin”, disco mais recente de Bob Mould. Crédito: Reprodução

Mould já havia se entendido como um roqueiro grisalho em “The Silver Age” e confirmou sua reconexão com o passado em “Beauty & Ruin”, desde já um dos melhores discos de 2014. Além de combinar com destreza os recursos musicais típicos de toda sua carreira – as guitarras ferozes, a velocidade do hardcore, a pureza acústica e as densas melodias –, ele finalmente se sente em paz com a época áurea do Hüsker Dü: na capa, uma foto de um Bob jovem, fumante e descabelado contrasta mesclada a uma imagem recente, sóbria, de óculos, touca e barba branca.

Do ponto de vista musical, a importância de Mould para o rock é inestimável. Mas existe um outro aspecto da vida pessoal dele que também merece atenção. No auge do sucesso do Sugar, em 1994, ele se assumiu homossexual em uma entrevista para a revista “Spin”. Apesar de aliviado, passou anos lidando com o tema de modo comedido, sem saber como agir e abordar a questão publicamente. Sentia-se desconectado da comunidade gay e pouco à vontade no papel de ícone. Somente em 2004, após o fim de um relacionamento estável de 14 anos, passou a se enxergar melhor resolvido e confortável na própria pele. Antes tarde do que nunca, Bob Mould finalmente está em paz. Essa história é contada sem meias palavras e com sinceridade tocante na biografia “See a Little Light: The Trail of Rage and Melody”, lançada em 2011 (inédita no Brasil).

“See a LIttle LIght”, a biografia de Mould, ainda está inédita no Brasil. Crédito: Reprodução

“See a LIttle LIght”, a biografia de Mould, ainda está inédita no Brasil. Crédito: Reprodução

Escrito em parceria com o jornalista Michael Azerrad, o livro percorre a infância brilhante e a adolescência confusa de Mould, enquanto oferece detalhes preciosos sobre a cena do hardcore norte-americano e a extenuante vida de uma banda na estrada. Mas é quando mergulha na autocritíca, já na meia idade, que a narrativa realmente comove: “Tive muita tristeza e arrependimento por não ter me assumido antes – minha vida teria sido tão diferente. Mas ficava tão preocupado sobre como assimilariam o meu trabalho que eu não considerava o impacto que teria nas pessoas por ser um roqueiro gay assumido”. Um personagem raro em um universo tão machista como o do rock de guitarras, Bob Mould talvez nunca irá obter a atenção que merece pelos tantos serviços prestados à música. Mas ele merece ser aplaudido ainda mais pela bravura de abrir o coração e dividir suas incertezas e convicções com o mundo.

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