Blog do Pablo Miyazawa

Arquivo : mac demarco

2014 foi um grande ano para o rock – e essas 14 músicas são a prova disso
Comentários Comente

Pablo Miyazawa

best of

St. Vincent, S. Malkmus, Sam Herring, Mac Demarco e Dylan Baldi cantaram no meu 2014 (Reprodução)

Dá tempo de mais uma retrospectiva?

Melhores músicas do ano. Confesso que o trabalho de recordar é algo bem mais fácil com os novos serviços de streaming disponíveis. É só começar janeiro acrescentando as faixas favoritas em uma playlist, repetir a dose todos os meses e conferir o resultado no fim do ano. Pelo repertório que acumulei, baseado apenas e somente no meu gosto pessoal, percebi que foi um ano interessante para o rock convencional de guitarras – mesmo que às vezes a banda nem precise da guitarra propriamente dita, como no caso do Future Islands e do Royal Blood.

Tentando decifrar isso que compreendo como “rock”, separei 14 entre as músicas estrangeiras que mais escutei esse ano. É uma lista idiossincrática e específica, com a intenção de mencionar artistas mais obscuros que mereciam atenção. Por isso mesmo não incluí nomes óbvios como U2, Black Keys, Coldplay, Pink Floyd, Foo Fighters, Weezer, Lana del Rey, Jack White e Beck. Não que alguns não merecessem ser citados, mas é porque você provavelmente já ouviu a maioria desses discos. A presença deles aqui atrapalharia o “fator novidade” da proposta.

Então aí estão, minhas 14 músicas internacionais favoritas de 2014, acompanhadas, quando for o caso, de seus respectivos videoclipes oficiais. Conecte um fone de ouvido e reserve uns bons 45 minutos para apreciá-las (de preferência fazendo a digestão da ceia ou após o almoço de Natal).

***

“14. Shelter Song” – Temples
Esses ingleses estilosos viajaram de 1966 para o tempo atual e perderam a passagem de volta. Essa música é de 2012 e também está no primeiro disco deles, “Sun Structures”, um dos melhores desse ano (e que ao vivo funciona muito bem).

“13. Pearly Gates” – The Men
The Men é o casamento perfeito entre o punk e o noise com o rock clássico norte-americano do início dos anos 1970. Esta apresentação dá mais pistas do que essa ótima banda do Brooklyn sabe fazer.

“12. Thought of Sound” – The Rentals
Barulhento, denso e deliciosamente pop, o Rentals de Matt Sharp é tudo o que o Weezer não consegue mais ser. E talvez a culpa disso seja mesmo a ausência de Sharp, baixista nos saudosos dois primeiros discos do Weezer.

“11. Check Your Bones” – My Goodness
Assim como o Royal Blood aí embaixo, o My Goodness é um duo – guitarra e bateria. Mas é de Seattle, então espere algo mais intenso do que o Black Keys.

“10. Figure it Out” – Royal Blood
Um baixo, uma bateria e nenhuma guitarra… bem, você provavelmente já conhece as credenciais dessa dupla dinâmica britânica que estourou em 2014.

“9. Let Her Go” – Mac Demarco
Do músico canadense mais chapado da cena indie, um tema de desapego que soaria bem em qualquer verão. “Salad Days”, o ótimo disco que Demarco lançou em 2014, é a mais pura alegria embriagada.

“8. I Don’t Know You Anymore” – Bob Mould
O patrono do rock indie não tem mais nada a provar, mas nem por isso ele perde a mão. Na verdade, Mould fica melhor e mais pesado a cada novo disco – no caso, o excelente “Beauty & Ruin”, que o ex-líder do Hüsker Dü e Sugar lançou esse ano.

“7. Budapest” – George Ezra
Quando funcionam, baladas com vozeirão e violão grudam na cabeça que é uma beleza. Se era esse o objetivo desse cantor/compositor britânico boa-praça de apenas 21 anos, então deu certo.

“6. Had to Hear” – Real Estate
Uma canção de fossa conformada, mas com pique de recomeço e esperança – ela abre muito bem e dá o clima do terceiro disco desse quinteto do Brooklyn, “Atlas”, um dos melhores de 2014.

“5. Red Eyes” – The War On Drugs
Se o clipe nonsense o distrair do clima pesado e magnético dessa música (algo como uma mistura certeira de Bruce Springsteen, Dire Straits e Arcade Fire), tente apreciar essa banda incrível ao vivo aqui.

4. “Lariat” – Stephen Malkmus & the Jicks
O charmoso clipe não tem a ver com a letra, mas… do que se trata a letra, afinal de contas? Importa? Desde os tempos que conduzia o Pavement, Malkmus nunca fez muita questão de ser compreendido.

“3. Prince Johnny” – St. Vincent
Annie Clark, que quando está no palco prefere ser chamada de St. Vincent, é hoje a mulher mais interessante do rock (Já  viu ela tocando guitarra? Deveria). Seja lá qual for o caminho que ela seguirá no futuro, só uma coisa é certa: o reinado está apenas começando.

2. “I’m Not Part of Me” – Cloud Nothings
Se o Cloud Nothings de Dylan Baldi é uma das melhores bandas a surgir nos últimos anos, muito é por causa de músicas como essa. E se o vídeo bizarro abaixo te impedir de prestar atenção à música, veja o trio tocá-la em um show.

1. “Seasons (Waiting on You”) – Future Islands
Tente não se emocionar com esta que para mim é sem dúvidas a melhor música de 2014. Em seguida, veja aqui porque Samuel Herring é um dos frontman mais improváveis e autênticos do rock atual.


Entrevista: Real Estate apresenta no Brasil um dos melhores discos de 2014
Comentários Comente

Pablo Miyazawa

realestate2

Real Estate (e Mondanile ao centro): apenas uns caras normais. (Reprodução/Facebook Oficial)

Hoje, 20 de novembro, tem show do Real Estate em São Paulo.

Para quem não conhece, é um grupo formado em Nova Jersey que lançou um dos melhores (e mais tranquilos) discos de 2014, “Atlas”. Dá para chamar de indie, dream pop, jangle pop, do que quiser (eu pessoalmente detesto rótulos). Eu só consigo definir a música do Real Estate como fácil de agradar a qualquer um que aprecie melodias tranquilas, guitarras dedilhadas e  um clima etéreo e de constante calmaria. Sem dúvidas, é música para baixar a bola, e não para estimular a adrenalina.

Hoje, quatro dos cinco integrantes vivem no Brooklyn (Nova York), enquanto um deles vive em Los Angeles. Conversei exatamente com esse cara, Matt Mondanile, guitarrista e um dos fundadores do Real Estate. Transcrevo a seguir trechos da entrevista que fiz no último sábado, dias antes dos caras pousarem aqui para dois três shows no Brasil – além de São Paulo (hoje, no Beco 203), tocam também na sexta (21) em Porto Alegre (Beco 203) e no domingo (23) no Rio de Janeiro (Circo Voador). (o show do Rio foi cancelado, desculpe a falha). Corra, que ainda tem ingressos.

***

“Atlas” é um dos discos mais celebrados de 2014. É interessante a naturalidade com que ele soa, traz uma sensação de amplitude, de disco ao vivo. Como funcionou o processo de composição?
Matt Mondanile: Bom, começamos a gravá-lo no começo do ano passado. Martin [Courtney], o vocalista, escreveu a maioria das músicas, e aí eu inventei as partes de guitarra pra elas, e o baixista [Alex Bleeker] veio e fez as dele. Nós ensaiamos muito até chegar ao ponto em que começamos a tocar com a banda toda, com o teclado e a bateria. Quando chegou a hora de entrar no estúdio, estávamos muito preparados e foi mais fácil de gravá-las. E sim, gravamos tudo ao vivo, e essa é a razão para o disco soar tão natural, o que é legal.

Quando vocês gravavam, chegaram a pensar: “Esse disco está saindo bom”? Ou não dava para saber o que esperar?
Um pouco dos dois. Algumas músicas, a gente não sabia no que ia dar. Mas você vai lá e faz o melhor que pode. Acho que todo mundo estava bem empolgado durante as gravações. Não dava para saber como sairia pelo menos até o finalzinho, então…

Algumas músicas são mais curtas do que deveriam ser. Aliás, o disco como um todo é muito curto, nem chega a 40 minutos.
Eu acho que só queríamos soar concisos. Se você nos assistir ao vivo, verá versões mais longas das músicas, com improvisos. Mas no disco nós fizemos uma versão concisa. Decidimos isso enquanto gravávamos: não queríamos que as coisas durassem muito ao ponto de ficar chato.

Você vive na Costa Oeste e o resto da banda vive do outro lado do país. Como funciona essa dinâmica para você? Não dá para ter uma vida lá muito normal.
É muito verdade. É super difícil ter uma vida normal estando na banda. Acho que mudar para a Costa Oeste foi bom para mim, porque eu queria muito morar aqui. E quando pego o avião para encontrar o grupo, a gente se junta na mesma cidade em que vamos tocar, já que não precisamos mais ensaiar. Então, é frenético – viajar quase toda semana, vivendo para voar. Mas gosto de viver em Los Angeles porque o clima é ótimo e o custo de vida é bem mais em conta para mim.

O Real Estate apresentou todas as faixas de “Atlas” em Nova York, em março passado. Veja o vídeo abaixo:

Você tem outro projeto, o Ducktails. Como faz para conciliar o Real Estate com seus negócios próprios? É difícil fazer algo seu enquanto se está viajando tanto com a banda principal?
É interessante, porque notei que é difícil mesmo balancear as duas coisas. Eu comecei a trabalhar em umas músicas no fim do ano passado, quando me mudei pra L.A., e só agora estou as terminando porque ando viajando muito. Então leva bem mais tempo do que antes, e faz você pensar: “Putz, o que estou fazendo não é bom.“ Eu percebi que não é bem assim – é difícil mesmo. E só agora estou conseguindo terminar umas faixas no estúdio. A ideia é finalizar o disco até o fim do ano ou começo do ano que vem e lançá-lo em maio. Mas é muito bom quando enfim se consegue equilibrar as coisas.

Você nasceu em 1985, então tem 29 anos. Que tipo de música você cresceu ouvindo? Deu tempo de escutar o Nirvana enquanto o Kurt Cobain ainda estava vivo?
Sim, eu cresci ouvindo essas bandas. As primeiras coisas de música que ouvi foram Ace of Base, Green Day, Beach Boys, Van Halen, eu era muito novo. Daí entrei no rock clássico, Led Zeppelin, coisas assim. Daí no ensino médio comecei a ouvir Weezer, Radiohead, Built to Spill, Modest Mouse, música indie. E no fim da escola eu só ouvia coisas experimentais e obscuras, noise, free jazz, John Cage, coisas esquisitas. Foi sair da escola para a voltar para o rock que eu gostava. Atualmente euouço todo tipo de música.

Você sente que, para a geração atual, os pré-adolescentes de hoje, as referências ainda são as bandas antigas dos anos 70 a 90? Não acha que as bandas de hoje não estão se tornando referências para a molecada?
Eu não acho. O que tenho visto recentemente é que, quando encontro gente nos shows do Real Estate, muitos garotos chegam e dizem: “Vocês são o motivo para eu ter começado a tocar guitarra”. Isso é muito legal e inspirador, e é o tipo de coisa que eu diria para, tipo, o Weezer, quando eu era mais novo. Às vezes você encontra uma banda que te faz querer fazer sua própria música. E essa é a única coisa que posso esperar dos fãs do Real Estate – inspirá-los a criar sua própria música. Com certeza ainda existem bandas de rock que inspiram a molecada.

Qual a idade média do público no show de vocês?
Acho que é uma gama diferente. Vai de 18 a 30 e poucos, até os 40 anos. Então temos um público bem diversificado. Outros artistas indie como o Mac Demarco tem um público mais jovem, mas nós temos todo tipo de gente.

É a sua primeira vez no Brasil, certo? Não sei se você imagina o que esperar daqui, o tipo de gente que vai ver, os lugares que irá conhecer. Qual é a sua ideia do país?
Não sei, não tenho nenhuma ideia. Nunca estive aí, mas quero ir. Estou empolgado para conhecer a América do Sul de um modo geral.

Como é ser o cara solteiro da banda? Os outros são casados, mas você não é, certo?
Não sou casado. Para falar a verdade, eu me mudei para Los Angeles para ficar com alguém, e nós terminamos recentemente. Ela é uma artista da [gravadora] Domino, a Julia Holter.

Desculpe, eu não sabia disso.
Sem problemas. Você pode publicar isso, é interessante. O negócio é que eu queria realmente estar num relacionamento com alguém que tivesse uma rotina parecida, que viajasse… Que tivesse um estilo de vida parecido com o meu. Mas aí você percebe que isso é mais difícil, porque você nunca vê a pessoa, já que estão os dois sempre viajando. Então é muito difícil estar em um relacionamento quando se viaja tanto.
Mas é legal ver que o Martin está numa relação há tanto tempo. Ele conheceu a esposa na época da escola, então já se conheceram antes de começarmos a fazer turnês com a banda. Eles passam muito tempo juntos e se entendem muito bem. É uma situação única. Agora que estou solteiro, está tudo bem. É divertido, eu gosto.

Você conhece seus parceiros de banda, Martin e Alex, desde a adolescência. Como está a relação de vocês hoje, que todos são crescidos, têm responsabilidades? Como a amizade evoluiu?
É ótima. Nós trabalhamos juntos, mas continuamos amigos. Eu gosto de viver em Los Angeles porque me dá a distância do lugar onde os caras vivem e de onde vivi a vida toda. A minha família é de Nova Jersey, então… É bom ter essa distância.

Então o fato de viver longe é bom para não se aborrecer com seus companheiros. Porque a vida na estrada pode ser um porre, não?
Pode ser um porre, mas na verdade é divertida se você fizer ela ficar divertida. Quando é um porre, fica difícil viajar. Mas é legal.

E como você a faz ficar divertida?
Você conversa com as pessoas, mantém o bom humor e não leva qualquer coisa para o lado pessoal. E tenta fazer a música o melhor que puder.

***

E veja aqui o Real Estate convidar Rivers Cuomo do Weezer ao palco de um festival em Los Angeles na terça-feira passada, para uma versão fiel até demais de “No Other One”, do clássico disco “Pinkerton”.

(Aliás, foi com esse cover que o Real Estate encerrou o show de hoje em São Paulo).


< Anterior | Voltar à página inicial | Próximo>