O Senhor dos Anéis e Star Wars: quem vence a batalha das sagas fantásticas?
Pablo Miyazawa
Com a estreia de “O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos” nesta quinta-feira (11), a saga cinematográfica de Peter Jackson finalmente irá alcançar “Star Wars” – pelo menos na quantidade de filmes. São seis para cada lado, sendo que os longas produzidos George Lucas saíram em um espaço de 28 anos (o primeiro, em 1977; o sexto, só em 2005). Já Jackson foi mais eficiente: dirigiu a trilogia “O Senhor dos Anéis” de 2001 a 2003; e os três longas de “O Hobbit” entre 2012 e 2014.
Se bem que essa comparação já será superada no final do ano que vem, quando sairá o “Episódio VII” de “Star Wars”. Dessa vez, George Lucas não está mais envolvido, já que vendeu os direitos de sua criação para o conglomerado Disney. Mas sendo bastante frio e calculista, entendo que a presença de Lucas já não é mais tão importante para o andamento da saga. A mitologia já está escrita e consagrada; os personagens já existem no imaginário popular. Tudo o que os próximos envolvidos precisam é seguir à risca esses mandamentos, sem inventar muita moda. Milhões de fãs ansiosos não querem se decepcionar.
E o que será de “O Senhor dos Anéis”? Esse infelizmente não tem mais como ser explorado no cinema. Ainda resta “O Silmarillion”, o outro livro que J.R.R. Tolkien escreveu, mas não finalizou em vida. Mas essa obra provavelmente jamais se tornará um projeto em Hollywood. Os direitos estão nas mãos dos herdeiros de Tolkien, e a relação deles com os filmes existentes (e com a Warner, e com Peter Jackson) é péssima, para não dizer outra coisa (esta entrevista do filho e herdeiro do autor, Christopher, explica bem o caso). Então, não deve acontecer.
Em 2003, com o desfecho da trilogia em “O Retorno do Rei”, pouca gente sonharia com um filme de “O Hobbit”. E a realidade atual foi muito mais longe do que os fãs mais otimistas poderiam esperar. Não esqueça que trata-se de um livro infantil de pouco mais de 300 páginas que se tornou 500 minutos de filme (fora os minutos extras que um dia verão a luz do dia na versão home video completa). E também vale reforçar que a versão completa e estendida da trilogia “O Senhor dos Anéis” possui… 726 minutos!
Ou seja, se somarmos os 424 minutos dos três filmes “O Hobbit”, o resultado total é 1200 minutos, ou VINTE horas. Para efeito de comparação, os seis filmes “Star Wars” somados resultam em quase 800 minutos, pouco mais de 13 horas. Se comparados aos conflitos Jedi X Sith, são sete horas a mais de peripécias da família Bolseiro pela Terra-Média (“A Batalha dos Cinco Exércitos” é o mais curto da série, com “apenas” 144 minutos). E quem é fã de verdade certamente vai querer encarar os seis longas de uma tacada só, provavelmente na ordem cronológica “correta” – a trilogia “O Hobbit” antes, e a trinca de “Anéis” depois. Que é o que todo mundo que conheço fez com os filmes “Star Wars”.
Comparações matemáticas à parte, realmente não dá para equiparar as jornadas cinematográficas de “Star Wars” e “O Senhor dos Anéis”. É injusto para ambos os lados. “Star Wars” possui esse caráter duradouro, de poder ser repensado infinitamente, já que é uma saga em contínua expansão. No caso dos livros de J.R.R. Tolkien, eles são produtos fechados que já foram espremidos até o fim. Não rendem mais suco, e as frutas que ainda existem (no caso, “O Silmarillion”) são impossíveis de se alcançar.
Reclame do que quiser dos filmes “O Hobbit” e “O Senhor dos Anéis” – que são arrastados e longos demais, que tomam muitas liberdades com o texto original, que abusam de efeitos especiais. Mas esses 1200 minutos produzidos por Peter Jackson possuem um mérito fabuloso, algo que os filmes “Star Wars” jamais terão: eles conseguem fazer parte de um conjunto coeso e consistente, um universo ficcional vivo e dinâmico que parece mesmo ter sido idealizado e realizado por uma mesma equipe. Dificilmente veremos no futuro uma série cinematográfica tão volumosa e sólida quanto essa. Também é preciso se valorizar a qualidade da fonte original: histórias fantásticas existem aos montes, mas jamais Hollywood terá à disposição uma obra tão completa e original como a escrita por Tolkien.
Com o fim de “O Hobbit”, o público dos filmes de fantasia só terá olhos para “Star Wars” e sua tão aguardada continuidade nos próximos Natais. Tudo indica que a série está recuperando aquele status que carregou durante a década de 80 e posteriormente, na virada do século 21. Ainda é a maior franquia da história do cinema, a que mais rendeu dinheiro, e é a que tem os fãs mais apaixonados e dedicados. Mas “O Hobbit” e “O Senhor dos Anéis” conseguiram abalar toda essa “Força”. Vieram para ficar e jamais serão esquecidos.