Blog do Pablo Miyazawa

O post final que vale por duas mensagens: “Muito obrigado” e “até breve”
Comentários Comente

Pablo Miyazawa

Tudo o que é bom um dia acaba.

No caso deste blog, hoje é este dia. Este é o último post que publicarei neste espaço.

Foram pouco mais de 100 dias (109 para ser exato) em que consegui fazer algo que me era raro como jornalista: escrever sem muito critério, sem prazos, seguindo meu próprio ritmo. Escolhia meus temas como escolhia a camiseta que vestiria no dia: baseado no meu humor, na minha vontade e nos acontecimentos ao meu redor. Gastei muito mais tempo com essa missão do que eu imaginava ser possível. Se disser que escrevi mais nesses últimos quatro meses do que nos últimos quatro anos, não é exagero. Fazer um blog é tão ou mais difícil quanto me disseram que seria. Talvez até um pouco mais.

Encerro este trabalho para começar imediatamente um novo desafio profissional. A questão é que cedo ou tarde o novo trabalho acabaria conflitando com o meu trabalho neste blog no UOL. Mas mesmo que fosse viável profissionalmente, não sei se conseguiria manter um ritmo adequado de escrita ao mesmo tempo em que coloco o novo projeto em pé. Dizem que quem faz um blog muito bom é porque não está fazendo direito o trabalho “principal”. No meu caso, o blog foi durante um bom tempo o principal merecedor de minha atenção. A partir de agora, não poderá ser mais. Então me dou ao direito de parar de jogar enquanto ainda me sinto vencedor. Deixo meus posts que fiz aqui para a posteridade, para serem reencontrados e lidos por quem puder se interessar. Em um âmbito mais pessoal, esses textos servem como um retrato de uma fase bem específica e interessante da minha vida da qual vou adorar me recordar no futuro.

Estou avisando no meu Twitter (@pablomiyazawa) sobre minhas novas andanças profissionais. Por enquanto, deixo aqui um até breve (breve mesmo) e um muito obrigado por tantas gentilezas – as visitas, as leituras, os compartilhamentos, os comentários e críticas. Foi divertido e valeu a pena cada segundo. Chegou a hora de eu me divertir de um jeito diferente. E eu espero te ver por lá.

Um forte abraço,
Pablo Miyazawa


“Whiplash” é uma chicotada que fará você perder a vontade de ser músico
Comentários Comente

Pablo Miyazawa

Whiplash-5547.cr2

Andrew (Miles Teller) espanca e é espancado por Fletcher (J.K. Simmons). Foto: Divulgação

“Whiplash”, do diretor novato Damien Chazelle, foi indicado a cinco prêmios Oscar, incluindo Melhor Filme. Não vai levar esse (está entre “Boyhood”, “Birdman” e, correndo por fora, “O Grande Hotel Budapeste”). Mas pode muito bem abocanhar o de Melhor Roteiro Adaptado (do próprio Chazelle, que não foi indicado a Melhor Diretor). Já o de troféu de Melhor Ator Coadjuvante para J.K. Simmons é praticamente uma barbada.

Você deve conhecê-lo como o J.J.Jameson da primeira trilogia “Homem-Aranha”. O público norte-americano o conhece melhor ainda como o garoto-propaganda de uma companhia de seguros, a Farmers Insurance. De qualquer maneira, Simmons é um ator performático e enérgico, que parece sempre desempenhar o papel do homem durão que lá no fundo tem um coração mole. Não é o caso do Terence Fletcher que ele criou em “Whiplash” – pelo menos a parte do coração mole.

Miles Teller (de “Divergente”) interpreta o protagonista, Andrew, um estudante de música antissocial e obcecado pela ideia de se tornar o maior baterista de jazz do mundo. Em filmes que giram em torno de músicos e suas performances, é normal ver atores se esforçando para fingir que dominam os instrumentos. Não é o caso de Teller, que realmente toca bateria desde os 15 anos. O detalhe é importante e sem dúvidas ajuda a trazer mais autenticidade ao personagem.

Fletcher é professor em um conservatório e enxerga algum talento em Andrew. Para levar o rapaz a um novo patamar técnico, o mestre dá início a uma sessão de assédio moral difícil de se imaginar na vida real. Quem já sofreu com abusos de autoridade certamente vai se identificar: é uma verdadeira tortura psicológica, com direito a gritos, insultos gratuitos, humilhações públicas, cadeiras arremessadas e tapas na cara. Fletcher não deixa Andrew em paz, e fica difícil dizer se faz isso por prazer sádico ou se realmente acha que o bullying ajudará o garoto a chegar longe. É deprimente de se ver, mas é impossível tirar os olhos. Não dá para revelar mais sem estragar a história, mas basta dizer que as porradas que Andrew leva de Fletcher acabam gerando efeitos diversos e consequências tragicômicas. A propósito, “Whiplash” não é só o nome de uma música que toca constantemente no filme – o “chicote” em questão representa também a escravidão a que o mestre submete o aluno.

Na parte musical, o filme capricha… nas imprecisões técnicas. Críticos reclamaram do modo equivocado e competitivo com que “Whiplash” apresenta o jazz, e também a maneira agressiva e quase autopunitiva com que Andrew pratica a bateria, como se o fato de sangrar tocando o fizesse ser um músico melhor (ele também jamais utiliza um metrônomo em seus treinos, uma ousadia que um estudante dedicado jamais faria). Também há incongruências históricas no roteiro, como o caso (relatado no filme) em que o mítico saxofonista Charlie “Bird” Parker quase foi golpeado na cabeça por um prato arremessado pelo baterista Jo Jones (na verdade, o objeto acertou-lhe o pé, e nem foi de modo tão agressivo assim).

Também é questionável o fato de o ídolo de Andrew no filme ser o controverso jazzista Buddy Rich, conhecido pelo temperamento difícil e pela maneira animalesca com que tirava sons do instrumento. Não por coincidência, Rich chegou a participar do programa dos Muppets e até participou de um duelo de bateria com o Animal.

Fletcher maltrata Andrew para que ele supostamente se torne um músico melhor. Na prática, porém, não funciona. O que o baterista menos faz a longo do filme é tocar música. Ele maltrata a bateria até as mãos sangrarem, com um empenho tão mecânico que extingue qualquer lampejo de feeling. Andrew não interpreta as canções, mas as reproduz amargamente, carregado de tensão, sem esboçar nenhum prazer. A exceção só se dá no momento em que ele se permite improvisar – mas até ali o caminho foi longo e dolorido. Essa é a lição mais importantes que “Whiplash” oferece aos músicos e pretendentes: sem prazer e diversão, sobra sofrimento. E é aí que a música perde o propósito.


Quando uma imagem vale mais do que mil tiros
Comentários Comente

Pablo Miyazawa

 

 

charliehebdo

Cartunistas de todo o mundo prestaram homenagens aos mortos no atentado à revista de humor Charlie Hebdo, hoje, em Paris. Doze pessoas foram assassinadas, entre elas os cartunistas Charb, Cabou, Tignous, além de Georges Wolinski, gênio veterano que influenciou todo artista que se aventurou pelos quadrinhos de humor – e, consequentemente, todo mundo que leu quadrinhos de humor.

Estilos diferentes à parte, é possível sentir uma linha condutora comum nas ilustrações abaixo: todas reforçam o absurdo desproporcional de se confrontar a liberdade de expressão com o uso da violência sangrenta. Até quando? Que ano é hoje mesmo?

arnaldobranco
Arnaldo Branco

erlich
Bernardo Erlich

geluck
Phillipe Geluck

 

davepope
David Pope

 

jeanjullien
Jean Jullien

 

Vagelis
Vagelis Papavasiliou

 

Ruben
Ruben Oppenheimer

 

ixene
Ixène

 

davebrown2
Dave Brown

 

ann
Ann Telnaes

 

Na!
Na! Dessinateur

 

ygreck
Ygreck

 

garyvarvel
Gary Varvel


Você precisa conhecer Portland, a cidade onde jovens vão para se aposentar
Comentários Comente

Pablo Miyazawa

Portlandia1

Carrie Brownstein e Fred Armisen curtem a vida louca em Portland – ou Portlândia. (Divulgação)

Na próxima quinta, 8 de janeiro, estreia a quinta temporada da série “Portlandia”.

Ela ainda é inédita na TV brasileira, mas atualmente isso não faz diferença alguma. É fácil de assistir por meio de programas de streaming ou mesmo via download (ilegal, é verdade).

Provavelmente, é uma das melhores comédias em atividade da TV norte-americana. Só que é tão surreal e tão dependente de piadas internas que não é o tipo de produto que a agrada a qualquer telespectador. Está longe de ser uma sitcom glamurosa e “amigável” como “Friends” ou “How I Met Your Mother”. Também não é o tipo de comédia surrealista ao estilo “Parks & Recreation” e “Arrested Development”, com personagens fixos e uma trama persistente. Está mais para a sátira do absurdo do “Saturday Night Live”, ou ainda, para os vídeos independentes de humor que andam pipocando pelo YouTube. “Portlandia” basicamente é uma coletânea de esquetes bizarros com a cidade de Portland como pano de fundo. Na verdade, Portland é a principal protagonista do programa.

O slogan que a série concedeu à cidade define muito bem a vibração local: “A cidade onde os jovens vão para se aposentar”. O slogan “oficial” é diferente, ainda que complementar: “Keep Portland weird”, ou “mantenha Portland esquisita”. Somadas as duas frases, o resultado não poderia ser mais adequado. Portland é mesmo esquisita e diferente do que se entende tipicamente como uma cidade norte-americana. É relativamente silenciosa e tranquila, é apinhada de freaks de todas as espécies e cultiva uma vibe riponga-alternativa que vai do apreço por alimentos orgânicos ao desprezo por meios de transporte motorizados.

Portland também é a melhor cidade dos Estados Unidos para não se fazer nada com muita classe. São vários os adjetivos possíveis – a capital nacional das bicicletas, a capital das microcervejarias, a capital do food truck, a capital do donut decorado com tiras de bacon, a capital das lojas de discos de vinil, a capital da chuva, a cidade que parou nos anos 90. Parece até que o termo “hipster” foi criado para homenagear o personagem médio de Portland. Comer e beber bem é uma obsessão local, assim como a liberdade de expressão por meio de roupas, penteados e atitudes – passear de bike sem roupa é mais comum do que se imagina. Outro detalhe interessante é que o estado do Oregon, do qual Portland é a maior cidade, não cobra impostos de circulação de mercadorias. A taxa de desemprego é alta para os padrões do país, o que não impede muitos habitantes de grandes metrópoles se mudarem para lá com o objetivo de mudar de vida – ou de não fazer mais nada da vida.

portlandia2

Carrie e Fred são Toni e Candace, as donas da Livraria Feminista de Portlândia. (Divulgação)

É nesse cenário fantástico que “Portlandia” circula e tira sua inspiração para historinhas que devem ter sido inspiradas pela obra do cineasta surrealista Luis Buñuel. Às vezes a série tenta manter os pés no chão para tirar sarro do estilo de vida local de um jeito inteligente e descolado. Mesmo assim, está muito mais para zoeira do que para crítica social. Na maioria das vezes a coisa descamba para o nonsense, e é aí que o programa brilha. Todos os personagens são interpretados por esses dois da foto acima: Carrie Brownstein, também conhecida como uma das guitarristas do extinto trio Sleater-Kinney (que acabou de voltar à atividade); e Fred Armisen, que por anos fez parte do elenco do “Saturday Night Live”. A química da dupla é perfeita, principalmente quando interpretam versões dementes deles mesmos. E quando criam personagens, muitos recorrentes, eles parecem se divertir muito com o processo.

Passei quatro dias em Portland no ano passado. Já assistia à série, mas a visita turística teve sabor de primeira vez. Admito que o lugar que conheci não tinha muito daquele absurdo colorido e histérico exibido em “Portlandia”. Na verdade parecia até normal demais, com um centro comercial agitado, muita gente de bicicleta (mas muitos carros nas ruas) e caras de terno e gravata transitando ao lado de mendigos, hippies, roqueiros e vítimas da moda. E, estranhamente, sem um único dia de chuva (lá chove em nove meses do ano). A vibração remete a de uma cidade pequena, ainda que isso esteja mudando aos poucos: o sucesso de “Portlandia” deu início a um incômodo processo de “gentrificação” da cidade.

Mas as semelhanças com “Portlandia” existem, e estão em tudo o que faz da Portland real “weird” – e é isso também o que a torna tão divertida e aconchegante. É o lugar perfeito para quem gosta apenas de passear sem pressa e sem obrigações turísticas. Dá vontade de subir em uma bicicleta e circular o dia inteiro pelas lojas de discos abarrotadas, cafés descolados, praças de food trucks, cervejarias artesanais, livrarias gigantescas, parques esvaziados e clubes de música ao vivo. Há tanto o que se ver e fazer que é até injusto dizer que quem vive ali não faz nada. E sim, aquele donut com bacon do Voodoo Doughnuts é algo grotesco – mas é realmente imperdível.

A ideia de ir para Portland para se aposentar? Ela até que faz sentido.


Em 2015, eu prometo…
Comentários Comente

Pablo Miyazawa

…me dedicar mais ainda a qualquer coisa que eu decida fazer.

…procrastinar menos, produzir mais e saber a hora de parar de trabalhar.

…não esquecer das três refeições diárias.

…escutar mais música, e não apenas enquanto estiver trabalhando.

…prestar mais atenção às letras das músicas, e gastar menos tempo lendo sobre as vidas dos músicos.

…perder a vergonha de cantar e dançar em público.

…ir mais ao cinema, e não mais esperar os filmes chegarem ao Netflix.

…moderar o uso de recursos ilegais como PopCorn Time, torrents e afins.

…continuar lendo livros em papel e resistir ao máximo às tentações do Kindle.

…terminar de ler todos os livros que começarei.

…terminar de escrever todos os livros que prometi escrever.

…jogar mais videogames, mesmo que sejam jogos de três anos atrás.

…dar menos cliques e audiência para notícias inúteis sobre as celebridades e suas vidas privadas.

…voltar a me interessar por futebol e frequentar estádios.

…usar o carro o mínimo possível.

…justificar a existência das ciclofaixas.

…correr uma meia-maratona.

…me acostumar a acordar cedo para conseguir dormir mais cedo.

…reclamar menos no Twitter.

…dizer menos que “o Facebook já era” e fazer algo a respeito – ou seja, esquecer que isso existe.

…menos WhatsApps para os amigos, mais telefonemas para os amigos.

…menos selfies (e resistir à tentação de comprar um pau de selfie), menos fotos de comida e de cachorro.

…mais lembranças boas, menos previsões ruins.

…parar de sofrer por antecipação.

…prometer apenas o que sei que conseguirei cumprir.

Um feliz ano novo para todos nós.


2014 foi um grande ano para o rock – e essas 14 músicas são a prova disso
Comentários Comente

Pablo Miyazawa

best of

St. Vincent, S. Malkmus, Sam Herring, Mac Demarco e Dylan Baldi cantaram no meu 2014 (Reprodução)

Dá tempo de mais uma retrospectiva?

Melhores músicas do ano. Confesso que o trabalho de recordar é algo bem mais fácil com os novos serviços de streaming disponíveis. É só começar janeiro acrescentando as faixas favoritas em uma playlist, repetir a dose todos os meses e conferir o resultado no fim do ano. Pelo repertório que acumulei, baseado apenas e somente no meu gosto pessoal, percebi que foi um ano interessante para o rock convencional de guitarras – mesmo que às vezes a banda nem precise da guitarra propriamente dita, como no caso do Future Islands e do Royal Blood.

Tentando decifrar isso que compreendo como “rock”, separei 14 entre as músicas estrangeiras que mais escutei esse ano. É uma lista idiossincrática e específica, com a intenção de mencionar artistas mais obscuros que mereciam atenção. Por isso mesmo não incluí nomes óbvios como U2, Black Keys, Coldplay, Pink Floyd, Foo Fighters, Weezer, Lana del Rey, Jack White e Beck. Não que alguns não merecessem ser citados, mas é porque você provavelmente já ouviu a maioria desses discos. A presença deles aqui atrapalharia o “fator novidade” da proposta.

Então aí estão, minhas 14 músicas internacionais favoritas de 2014, acompanhadas, quando for o caso, de seus respectivos videoclipes oficiais. Conecte um fone de ouvido e reserve uns bons 45 minutos para apreciá-las (de preferência fazendo a digestão da ceia ou após o almoço de Natal).

***

“14. Shelter Song” – Temples
Esses ingleses estilosos viajaram de 1966 para o tempo atual e perderam a passagem de volta. Essa música é de 2012 e também está no primeiro disco deles, “Sun Structures”, um dos melhores desse ano (e que ao vivo funciona muito bem).

“13. Pearly Gates” – The Men
The Men é o casamento perfeito entre o punk e o noise com o rock clássico norte-americano do início dos anos 1970. Esta apresentação dá mais pistas do que essa ótima banda do Brooklyn sabe fazer.

“12. Thought of Sound” – The Rentals
Barulhento, denso e deliciosamente pop, o Rentals de Matt Sharp é tudo o que o Weezer não consegue mais ser. E talvez a culpa disso seja mesmo a ausência de Sharp, baixista nos saudosos dois primeiros discos do Weezer.

“11. Check Your Bones” – My Goodness
Assim como o Royal Blood aí embaixo, o My Goodness é um duo – guitarra e bateria. Mas é de Seattle, então espere algo mais intenso do que o Black Keys.

“10. Figure it Out” – Royal Blood
Um baixo, uma bateria e nenhuma guitarra… bem, você provavelmente já conhece as credenciais dessa dupla dinâmica britânica que estourou em 2014.

“9. Let Her Go” – Mac Demarco
Do músico canadense mais chapado da cena indie, um tema de desapego que soaria bem em qualquer verão. “Salad Days”, o ótimo disco que Demarco lançou em 2014, é a mais pura alegria embriagada.

“8. I Don't Know You Anymore” – Bob Mould
O patrono do rock indie não tem mais nada a provar, mas nem por isso ele perde a mão. Na verdade, Mould fica melhor e mais pesado a cada novo disco – no caso, o excelente “Beauty & Ruin”, que o ex-líder do Hüsker Dü e Sugar lançou esse ano.

“7. Budapest” – George Ezra
Quando funcionam, baladas com vozeirão e violão grudam na cabeça que é uma beleza. Se era esse o objetivo desse cantor/compositor britânico boa-praça de apenas 21 anos, então deu certo.

“6. Had to Hear” – Real Estate
Uma canção de fossa conformada, mas com pique de recomeço e esperança – ela abre muito bem e dá o clima do terceiro disco desse quinteto do Brooklyn, “Atlas”, um dos melhores de 2014.

“5. Red Eyes” – The War On Drugs
Se o clipe nonsense o distrair do clima pesado e magnético dessa música (algo como uma mistura certeira de Bruce Springsteen, Dire Straits e Arcade Fire), tente apreciar essa banda incrível ao vivo aqui.

4. “Lariat” – Stephen Malkmus & the Jicks
O charmoso clipe não tem a ver com a letra, mas… do que se trata a letra, afinal de contas? Importa? Desde os tempos que conduzia o Pavement, Malkmus nunca fez muita questão de ser compreendido.

“3. Prince Johnny” – St. Vincent
Annie Clark, que quando está no palco prefere ser chamada de St. Vincent, é hoje a mulher mais interessante do rock (Já  viu ela tocando guitarra? Deveria). Seja lá qual for o caminho que ela seguirá no futuro, só uma coisa é certa: o reinado está apenas começando.

2. “I'm Not Part of Me” – Cloud Nothings
Se o Cloud Nothings de Dylan Baldi é uma das melhores bandas a surgir nos últimos anos, muito é por causa de músicas como essa. E se o vídeo bizarro abaixo te impedir de prestar atenção à música, veja o trio tocá-la em um show.

1. “Seasons (Waiting on You”) – Future Islands
Tente não se emocionar com esta que para mim é sem dúvidas a melhor música de 2014. Em seguida, veja aqui porque Samuel Herring é um dos frontman mais improváveis e autênticos do rock atual.


Joe Cocker tornou os nossos “anos incríveis” ainda mais memoráveis
Comentários Comente

Pablo Miyazawa

Joe Cocker morreu.

O cantor britânico de rock e blues se foi hoje, aos 70 anos, vítima de um câncer no pulmão. A notícia foi confirmada pelo empresário dele.

Dono de uma voz gutural inconfundível (que muitos cantores de karaokê adoram tentar imitar) e uma performance de palco energética, sempre à flor da pele, John Robert Cocker brilhou principalmente entre o fim dos anos 60 e a década de 1980, com suas interpretações apaixonadas e covers emblemáticos – muitas vezes obtendo mais sucesso do que as versões originais. No Brasil, inclusive, talvez ele seja mais conhecido por cantar o tema da série “Anos Incríveis” (“Wonder Years”), que passou aqui durante anos na TV Cultura. Dá até para dizer que “With a Little Help From My Friends” é mais famosa hoje com o timbre emocionado de Cocker do que recitada por Ringo Star na versão original do quarteto de Liverpool.

Por causa de entraves no licenciamento, a música cantada por Cocker ficou de fora da versão de “Anos Incríveis” que está disponível em home video e serviços de streaming. Hoje, é impossível encontrar a abertura original no YouTube, mas essa vídeo-montagem acima estimulará a sua memória. Eu desafio você a se lembrar de Kevin Arnold, Winnie Copper e Paul Pfeifer sem também escutar o cantor sussurrando ao fundo, meio embriagado, como que pedindo desculpas: “What would you do if I sang out of tune…?”. Pode tentar, é impossível. Se hoje temos tanta memória afetiva em relação a “Anos Incríveis”, muito é porque a voz rasgada de Joe Cocker continua a ecoar e embalar nossas lembranças televisivas.

Mas, para muitos brasileiros de gerações anteriores a “Wonder Years”, a primeira vez que Joe Cocker surgiu e marcou foi décadas antes: no filme “Woodstock – Três Dias de Paz, Amor e Música”, documentário sobre o mítico festival que passou nos cinemas em 1970. Logo nos minutos iniciais, Cocker foi o responsável por uma das sequências mais memoráveis, despedaçando com toda emoção “With a Little Help…”, que meses antes tinha alcançado o topo da parada norte-americana. Meu pai me contou que assistiu ao filme na época, e que o trecho que mais o marcou foram os sete minutos catárticos oferecidos por aquele cantor enlouquecido de costeletas e camiseta tie-dye. Se o Brasil até então ignorava o que acontecia no remoto universo da contracultura, tudo mudou logo após a exibição de “Woodstock” – e Joe Cocker veio junto nessa bagagem lisérgica.

Cocker cantou no Brasil em 1977, mas a aparição de que todo mundo se lembra foi em 1991, como a primeira atração internacional do primeiro dia de Rock in Rio II. Foi um show curto, mas que quem assistiu, ao vivo ou pela TV, não esquece. A performance impressionante dele de camisa colorida, botões abertos, todo suado e botando os bichos para fora, foi considerada um dos momentos do festival. O baladão “Up Where We Belong” (tema do filme “A Força do Destino”) foi um ponto alto da noite. Depois disso, ele só voltou para uma turnê de quatro shows em 2012.

E se foi nas trilhas sonoras que Joe Cocker brilhou tanto, como esquecer a versão dele para “You Can Leave Your Hat On” (de Randy Newman)? Favorita absoluta das casas de strip-tease, a faixa ficou famosa por embalar a cena mais polêmica do soft porn “Nove Semanas e Meia de Amor” (veja abaixo por sua conta). Só lembrando que Kim Basinger inspirou muita gente com sua performance “dançante”, mas é claro que a voz de Cocker deu uma bela ajuda ao clima.

E para citar outra de minhas favoritas, destaco por último “Unchain My Heart”, de Ray Charles. Na interpretação intensa de Cocker, é inevitável não se sentir arrebatado pelo grito de liberdade que a letra propõe.

Seja lembrando os bons tempos que não voltam, dançando sensualmente ou libertando o coração, hoje é dia de celebrar o vozeirão eterno e confortável de Joe Cocker. Coloque o volume no máximo, que é assim que ele preferia ser escutado.


Seis artistas que você não escutou em 2014 e poderia ouvir agora mesmo
Comentários Comente

Pablo Miyazawa

Fim do ano é a hora de repensar sobre tudo o que passou. Mas também dá tempo de ouvir toda música que você não conseguiu durante 2014.

Ainda no clima insistente de retrospectiva, apresento a seguir seis artistas brasileiros bem interessantes que lançaram novas músicas, vídeos ou discos nos últimos meses. Se você não conhece alguns deles, aqui está a sua chance. Pode confiar.

Moxine
O Moxine é o projeto solo da guitarrista/compositora Mônica Agena, de Santos (SP), personagem antiga da cena indie e que até já gravou discos com o Natiruts. Na novíssima “Drive Me Somewhere”, ela canta um rock envolvente e carregado de climões (veja o vídeo aqui).

moxine_1

Orange Disaster
A banda de São Paulo já existe faz tempo e agora lança um disco, “Enemy Gospel”, após uma turnê pela Europa e uma troca de integrantes. Não tem muita banda fazendo um som tão agressivo, gutural e esquisito quanto os laranjas. O lançamento do álbum foi nessa semana, e dá para ouvi-lo na íntegra no link abaixo.

orange


A cantora paulistana já se dedica a um trabalho autoral há anos, sempre caprichando no apelo visual de seus videoclipes (veja o vídeo de “Segredinho” aqui). O plano dela é lançar o disco aos poucos, com um vídeo para cada nova faixa.

za_1

China
Para muita gente, ele ainda é o eterno vocalista do Sheik Tosado. Para outros, é o VJ da MTV que batalhou pela cena independente. China faz de tudo e compõe que é uma beleza. O novo disco do pernambucano, “Telemática”, pode ser baixado aqui.

Pessoal da Nasa
Os cariocas lançaram um EP há dois anos, mas só recentemente produziram um vídeo para o single “Amigos e Fantasmas”, tão alegre, psicodélico e colorido quanto a sonoridade da banda.

The Soundscapes
A banda lançou o EP “A LIfetime A Minute” em outubro (ouça abaixo) pelo selo Balaclava Records. Formada em Nova York e hoje radicada em São Paulo, tem feito shows interessantes, como o de abertura para Stephen Malkmus e Sebadoh em Maringá. É em inglês, mas com guitarras melodiosas e belas harmonias, isso nem faz diferença.

The_Soundscapes_2


O 2014 dos shows internacionais foi atípico, mas rendeu grandes momentos
Comentários Comente

Pablo Miyazawa

Qual foi seu show internacional favorito de 2014?

Esse foi um ano esquisito em se tratando de shows gringos no Brasil. Começou normalmente bem, com atrações de peso: Elton John, Metallica, Guns N' Roses. Daí veio o Lollapalooza e vários shows extras durante o fim de semana do festival. Maio trouxe Megadeth, Eddie Vedder e o festival Sub Pop, além do One Direction e o The Afghan Whigs. Teve para todos os gostos.

Aí chegou junho, e tudo parou. Claro que foi por causa da Copa do Mundo (aquela que quase ganhamos se não fosse por sete mínimos detalhes). O ritmo só retornou no final de agosto, e ainda assim não parecia tão normal. As eleições para presidente também deixaram as coisas um tanto congeladas. Tanto que o tradicional festival Planeta Terra não deu as caras dessa vez (mas o Circuito Banco do Brasil acabou compensando, de certa forma). Atrapalhou um pouco também o fato do Rock in Rio ter dado uma pausa para só voltar em 2015. De “típico” mesmo, o segundo semestre só teve a miniturnê de Paul McCartney e mais uns bons shows esporádicos, como o Queens of the Stone Age e o Arctic Monkeys. E também rolou o festival Popload (com o Tame Impala) e os indies do Real Estate. Pensando bem, será que foi assim tão ruim?

Essa semana, fiz uma reportagem para o UOL Música fazendo um balanço sobre o ano dos shows internacionais no Brasil. Conversei com algumas das produtoras e ouvi os problemas, reclamações e também as poucas comemorações. Todos culparam a Copa e as eleições como os principais fatores do ano com shows grandes mais raros, investimento reduzido e menos gente gastando dinheiro com ingresso. Leia aqui e entenda o drama.

E aproveitando a onda de retrospectivas que já assola a sua vida nesse fim de ano, cá estão os meus 14 shows internacionais favoritos de 2014 no Brasil, cada um acompanhado de um único adjetivo definidor (porque afinal, reviews longos não estão com nada):

1º Arcade Fire (Citibank Hall/RJ – 4 de abril) – “Comovente”

2º Queens of the Stone Age (Espaço das Américas/SP – 25 de set.) – “Preciso”

3º Paul McCartney (Allianz Parque – 25 de novembro) – “Eterno”

4º Tame Impala (Festival Popload/SP – 28 de novembro) – “Chapado”

5º Sebadoh (Red Bull Station/SP – 29 de abril) – “Improvisado”

6º Mudhoney (Festival Sub Pop/SP – 15 de maio) – “Barulhento”

7º Soundgarden (Lollapalooza 2014/SP – 6 de abril) – “Nostálgico”

8º Real Estate (Beco 203/SP – 20 de novembro) – “Harmonioso”

9º Fucked Up (Converse Rubber Tracks/SP – 2 de agosto) – “Arruaceiro”

10º The Afghan Whigs (Audio Club/SP – 22 de maio) – “Sombrio”

11º Metallica (Estádio do Morumbi/SP – 22 de março) – “Potente”

12 º Spiritualized (Audio Club/SP – 28 de agosto) – “Religioso”

13º Arctic Monkeys (Arena Anhembi/SP – 14 de novembro) – “Estiloso”

14 º Vampire Weekend (Lollapalooza 2014 – 6 de abril) – “Ensolarado”

Menção honrosa:
Arcade Fire (Lollapalooza 2014/SP – 6 de abril) – “Comovente (a céu aberto)”

***

E para você? Quais foram os melhores shows internacionais do ano? E qual mais gostaria de conferir em 2015?


Discoteca Básica: meus 10 discos favoritos (de acordo com um certo livro)
Comentários Comente

Pablo Miyazawa

discos

E se alguém te perguntasse agora “quais são seus 10 discos favoritos da vida?”. Quanto tempo você demoraria para responder?

Foi essa a questão apresentada aos participantes do livro “Discoteca Básica: 100 Personalidades e Seus 10 Discos Favoritos”, lançado ontem pela Edições Ideal. O projeto foi organizado pelo jornalista e meu amigo Zé Antonio Algodoal, que já fez de tudo um pouco na vida. Ele tocou guitarra na clássica banda Pin-Ups; trabalhou na MTV, onde dirigiu vários programas; foi o curador da exposição “Let's Rock”, que ocupou a Oca no Parque Ibirapuera em 2012; e, recentemente, dirigiu o programa “Breakout Brasil” no canal Sony. Daí, no ano passado ele teve a ideia de elaborar um volume com as listas de 10 discos favoritos de 100 pessoas escolhidas a dedo. E lá foi ele atrás dos top 10, um por um, ao longo de vários meses.

livrodiscotecaTenho certeza de que você conhece boa parte das “personalidades” incluídas em “Discoteca Básica”. Entre os músicos, tem gente brasileira da velha guarda (Andreas Kisser, Edgard Scandurra, Arnaldo Baptista, Dinho Ouro Preto, Nando Reis, João Gordo, Supla, Clemente, Ritchie) e da nova guarda (Lucas Silveira, Helio Flanders, Adriano Cintra, China, Chuck Hipolitho, Leela, Rappin' Hood, os caras do Cachorro Grande). Mas também tem integrantes de bandas gringas, como Superchunk, Teenage Fanclub e Stooges, além de VJs, jornalistas, fotógrafos, atores e atrizes, apresentadores, desenhistas, produtores e locutores. E, gentilmente, o Zé me convidou a participar também.

Aliás, peço licença a ele para postar aqui a minha lista, idêntica à publicada no livro. Tenho certeza de que isso não prejudicará em nada as vendas. Aliás, você tem mais 99 bons motivos para ir atrás de “Discoteca Básica”. Compre um para você, um para seu melhor amigo e aproveite e dê outro no amigo secreto na firma.

E reforço que a lista abaixo foi feita assim de repente, no calor do momento, sem pensar muito. Se eu fosse fazê-la novamente hoje, provavelmente seria bastante diferente. E tenho certeza de que a sua seria mutante também…

***

Meu Top 10 de todos os tempos, por Pablo Miyazawa
São os favoritos, mas não os necessariamente melhores. Provavelmente são os que trazem mais sensações boas.

(Para ouvir os discos, clique no título de cada um para acessar a Rádio UOL, quando estiver disponível, ou pelos vídeos do YouTube)

The Beach Boys – “Pet Sounds” (1967)  O mais perfeito e eterno conjunto de canções já costurado em uma sequência lógica e intocável.

Miles Davis – “Kind of Blue” (1959)  A trilha sonora para voar, se esquecer da vida e pensar na vida, tudo ao mesmo tempo.

The Beatles – “Revolver” (1966) Não apenas uma das provas da genialidade dos Beatles, mas o melhor apanhado de canções pop em um só pacote.

The Ramones – “Rocket to Russia” (1977)  Não há tédio, cansaço ou tristeza que esse disco não cure.

Big Star – “#1 Record” (1972)  O melhor álbum de rock que quase ninguém ouviu, da banda mais subestimada de todos os tempos.

Nick Drake – “Pink Moon” (1972)  Uma profunda e dolorida experiência solitária, tal como uma conversa franca consigo mesmo.

Black Sabbath – “Paranoid” (1970)  É o disco que me apresentou a guitarra para eu nunca mais largá-la.

Pavement – “Crooked Rain, Crooked Rain” (1994)  Pureza melódica embrulhada em sujeira sônica, virtuosismo pop e irretocável senso de humor.

Weezer –  “Weezer” (1994)  Meu “guilty pleasure” favorito me soa como uma história de uma vida breve e feliz, com começo, meio e fim.

Creedence Clearwater Revival –  “Chronicle” (1976)  O bom e o melhor da maior banda norte-americana de rock por excelência.

***

Quer ganhar um “Discoteca Básica”? Darei um exemplar de presente ao leitor que postar um top 10 pessoal de discos da vida mais interessante (na minha opinião, é claro), com suas respectivas justificativas. Escreva sua lista nos comentários abaixo. O resultado sai antes do final do ano, aqui mesmo no blog. Não esqueça de colocar seu nome verdadeiro para eu conseguir entrar em contato depois.