Blog do Pablo Miyazawa

Arquivo : dezembro 2014

Em 2015, eu prometo…
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Pablo Miyazawa

…me dedicar mais ainda a qualquer coisa que eu decida fazer.

…procrastinar menos, produzir mais e saber a hora de parar de trabalhar.

…não esquecer das três refeições diárias.

…escutar mais música, e não apenas enquanto estiver trabalhando.

…prestar mais atenção às letras das músicas, e gastar menos tempo lendo sobre as vidas dos músicos.

…perder a vergonha de cantar e dançar em público.

…ir mais ao cinema, e não mais esperar os filmes chegarem ao Netflix.

…moderar o uso de recursos ilegais como PopCorn Time, torrents e afins.

…continuar lendo livros em papel e resistir ao máximo às tentações do Kindle.

…terminar de ler todos os livros que começarei.

…terminar de escrever todos os livros que prometi escrever.

…jogar mais videogames, mesmo que sejam jogos de três anos atrás.

…dar menos cliques e audiência para notícias inúteis sobre as celebridades e suas vidas privadas.

…voltar a me interessar por futebol e frequentar estádios.

…usar o carro o mínimo possível.

…justificar a existência das ciclofaixas.

…correr uma meia-maratona.

…me acostumar a acordar cedo para conseguir dormir mais cedo.

…reclamar menos no Twitter.

…dizer menos que “o Facebook já era” e fazer algo a respeito – ou seja, esquecer que isso existe.

…menos WhatsApps para os amigos, mais telefonemas para os amigos.

…menos selfies (e resistir à tentação de comprar um pau de selfie), menos fotos de comida e de cachorro.

…mais lembranças boas, menos previsões ruins.

…parar de sofrer por antecipação.

…prometer apenas o que sei que conseguirei cumprir.

Um feliz ano novo para todos nós.


2014 foi um grande ano para o rock – e essas 14 músicas são a prova disso
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Pablo Miyazawa

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St. Vincent, S. Malkmus, Sam Herring, Mac Demarco e Dylan Baldi cantaram no meu 2014 (Reprodução)

Dá tempo de mais uma retrospectiva?

Melhores músicas do ano. Confesso que o trabalho de recordar é algo bem mais fácil com os novos serviços de streaming disponíveis. É só começar janeiro acrescentando as faixas favoritas em uma playlist, repetir a dose todos os meses e conferir o resultado no fim do ano. Pelo repertório que acumulei, baseado apenas e somente no meu gosto pessoal, percebi que foi um ano interessante para o rock convencional de guitarras – mesmo que às vezes a banda nem precise da guitarra propriamente dita, como no caso do Future Islands e do Royal Blood.

Tentando decifrar isso que compreendo como “rock”, separei 14 entre as músicas estrangeiras que mais escutei esse ano. É uma lista idiossincrática e específica, com a intenção de mencionar artistas mais obscuros que mereciam atenção. Por isso mesmo não incluí nomes óbvios como U2, Black Keys, Coldplay, Pink Floyd, Foo Fighters, Weezer, Lana del Rey, Jack White e Beck. Não que alguns não merecessem ser citados, mas é porque você provavelmente já ouviu a maioria desses discos. A presença deles aqui atrapalharia o “fator novidade” da proposta.

Então aí estão, minhas 14 músicas internacionais favoritas de 2014, acompanhadas, quando for o caso, de seus respectivos videoclipes oficiais. Conecte um fone de ouvido e reserve uns bons 45 minutos para apreciá-las (de preferência fazendo a digestão da ceia ou após o almoço de Natal).

***

“14. Shelter Song” – Temples
Esses ingleses estilosos viajaram de 1966 para o tempo atual e perderam a passagem de volta. Essa música é de 2012 e também está no primeiro disco deles, “Sun Structures”, um dos melhores desse ano (e que ao vivo funciona muito bem).

“13. Pearly Gates” – The Men
The Men é o casamento perfeito entre o punk e o noise com o rock clássico norte-americano do início dos anos 1970. Esta apresentação dá mais pistas do que essa ótima banda do Brooklyn sabe fazer.

“12. Thought of Sound” – The Rentals
Barulhento, denso e deliciosamente pop, o Rentals de Matt Sharp é tudo o que o Weezer não consegue mais ser. E talvez a culpa disso seja mesmo a ausência de Sharp, baixista nos saudosos dois primeiros discos do Weezer.

“11. Check Your Bones” – My Goodness
Assim como o Royal Blood aí embaixo, o My Goodness é um duo – guitarra e bateria. Mas é de Seattle, então espere algo mais intenso do que o Black Keys.

“10. Figure it Out” – Royal Blood
Um baixo, uma bateria e nenhuma guitarra… bem, você provavelmente já conhece as credenciais dessa dupla dinâmica britânica que estourou em 2014.

“9. Let Her Go” – Mac Demarco
Do músico canadense mais chapado da cena indie, um tema de desapego que soaria bem em qualquer verão. “Salad Days”, o ótimo disco que Demarco lançou em 2014, é a mais pura alegria embriagada.

“8. I Don’t Know You Anymore” – Bob Mould
O patrono do rock indie não tem mais nada a provar, mas nem por isso ele perde a mão. Na verdade, Mould fica melhor e mais pesado a cada novo disco – no caso, o excelente “Beauty & Ruin”, que o ex-líder do Hüsker Dü e Sugar lançou esse ano.

“7. Budapest” – George Ezra
Quando funcionam, baladas com vozeirão e violão grudam na cabeça que é uma beleza. Se era esse o objetivo desse cantor/compositor britânico boa-praça de apenas 21 anos, então deu certo.

“6. Had to Hear” – Real Estate
Uma canção de fossa conformada, mas com pique de recomeço e esperança – ela abre muito bem e dá o clima do terceiro disco desse quinteto do Brooklyn, “Atlas”, um dos melhores de 2014.

“5. Red Eyes” – The War On Drugs
Se o clipe nonsense o distrair do clima pesado e magnético dessa música (algo como uma mistura certeira de Bruce Springsteen, Dire Straits e Arcade Fire), tente apreciar essa banda incrível ao vivo aqui.

4. “Lariat” – Stephen Malkmus & the Jicks
O charmoso clipe não tem a ver com a letra, mas… do que se trata a letra, afinal de contas? Importa? Desde os tempos que conduzia o Pavement, Malkmus nunca fez muita questão de ser compreendido.

“3. Prince Johnny” – St. Vincent
Annie Clark, que quando está no palco prefere ser chamada de St. Vincent, é hoje a mulher mais interessante do rock (Já  viu ela tocando guitarra? Deveria). Seja lá qual for o caminho que ela seguirá no futuro, só uma coisa é certa: o reinado está apenas começando.

2. “I’m Not Part of Me” – Cloud Nothings
Se o Cloud Nothings de Dylan Baldi é uma das melhores bandas a surgir nos últimos anos, muito é por causa de músicas como essa. E se o vídeo bizarro abaixo te impedir de prestar atenção à música, veja o trio tocá-la em um show.

1. “Seasons (Waiting on You”) – Future Islands
Tente não se emocionar com esta que para mim é sem dúvidas a melhor música de 2014. Em seguida, veja aqui porque Samuel Herring é um dos frontman mais improváveis e autênticos do rock atual.


Joe Cocker tornou os nossos “anos incríveis” ainda mais memoráveis
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Pablo Miyazawa

Joe Cocker morreu.

O cantor britânico de rock e blues se foi hoje, aos 70 anos, vítima de um câncer no pulmão. A notícia foi confirmada pelo empresário dele.

Dono de uma voz gutural inconfundível (que muitos cantores de karaokê adoram tentar imitar) e uma performance de palco energética, sempre à flor da pele, John Robert Cocker brilhou principalmente entre o fim dos anos 60 e a década de 1980, com suas interpretações apaixonadas e covers emblemáticos – muitas vezes obtendo mais sucesso do que as versões originais. No Brasil, inclusive, talvez ele seja mais conhecido por cantar o tema da série “Anos Incríveis” (“Wonder Years”), que passou aqui durante anos na TV Cultura. Dá até para dizer que “With a Little Help From My Friends” é mais famosa hoje com o timbre emocionado de Cocker do que recitada por Ringo Star na versão original do quarteto de Liverpool.

Por causa de entraves no licenciamento, a música cantada por Cocker ficou de fora da versão de “Anos Incríveis” que está disponível em home video e serviços de streaming. Hoje, é impossível encontrar a abertura original no YouTube, mas essa vídeo-montagem acima estimulará a sua memória. Eu desafio você a se lembrar de Kevin Arnold, Winnie Copper e Paul Pfeifer sem também escutar o cantor sussurrando ao fundo, meio embriagado, como que pedindo desculpas: “What would you do if I sang out of tune…?”. Pode tentar, é impossível. Se hoje temos tanta memória afetiva em relação a “Anos Incríveis”, muito é porque a voz rasgada de Joe Cocker continua a ecoar e embalar nossas lembranças televisivas.

Mas, para muitos brasileiros de gerações anteriores a “Wonder Years”, a primeira vez que Joe Cocker surgiu e marcou foi décadas antes: no filme “Woodstock – Três Dias de Paz, Amor e Música”, documentário sobre o mítico festival que passou nos cinemas em 1970. Logo nos minutos iniciais, Cocker foi o responsável por uma das sequências mais memoráveis, despedaçando com toda emoção “With a Little Help…”, que meses antes tinha alcançado o topo da parada norte-americana. Meu pai me contou que assistiu ao filme na época, e que o trecho que mais o marcou foram os sete minutos catárticos oferecidos por aquele cantor enlouquecido de costeletas e camiseta tie-dye. Se o Brasil até então ignorava o que acontecia no remoto universo da contracultura, tudo mudou logo após a exibição de “Woodstock” – e Joe Cocker veio junto nessa bagagem lisérgica.

Cocker cantou no Brasil em 1977, mas a aparição de que todo mundo se lembra foi em 1991, como a primeira atração internacional do primeiro dia de Rock in Rio II. Foi um show curto, mas que quem assistiu, ao vivo ou pela TV, não esquece. A performance impressionante dele de camisa colorida, botões abertos, todo suado e botando os bichos para fora, foi considerada um dos momentos do festival. O baladão “Up Where We Belong” (tema do filme “A Força do Destino”) foi um ponto alto da noite. Depois disso, ele só voltou para uma turnê de quatro shows em 2012.

E se foi nas trilhas sonoras que Joe Cocker brilhou tanto, como esquecer a versão dele para “You Can Leave Your Hat On” (de Randy Newman)? Favorita absoluta das casas de strip-tease, a faixa ficou famosa por embalar a cena mais polêmica do soft porn “Nove Semanas e Meia de Amor” (veja abaixo por sua conta). Só lembrando que Kim Basinger inspirou muita gente com sua performance “dançante”, mas é claro que a voz de Cocker deu uma bela ajuda ao clima.

E para citar outra de minhas favoritas, destaco por último “Unchain My Heart”, de Ray Charles. Na interpretação intensa de Cocker, é inevitável não se sentir arrebatado pelo grito de liberdade que a letra propõe.

Seja lembrando os bons tempos que não voltam, dançando sensualmente ou libertando o coração, hoje é dia de celebrar o vozeirão eterno e confortável de Joe Cocker. Coloque o volume no máximo, que é assim que ele preferia ser escutado.


Seis artistas que você não escutou em 2014 e poderia ouvir agora mesmo
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Pablo Miyazawa

Fim do ano é a hora de repensar sobre tudo o que passou. Mas também dá tempo de ouvir toda música que você não conseguiu durante 2014.

Ainda no clima insistente de retrospectiva, apresento a seguir seis artistas brasileiros bem interessantes que lançaram novas músicas, vídeos ou discos nos últimos meses. Se você não conhece alguns deles, aqui está a sua chance. Pode confiar.

Moxine
O Moxine é o projeto solo da guitarrista/compositora Mônica Agena, de Santos (SP), personagem antiga da cena indie e que até já gravou discos com o Natiruts. Na novíssima “Drive Me Somewhere”, ela canta um rock envolvente e carregado de climões (veja o vídeo aqui).

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Orange Disaster
A banda de São Paulo já existe faz tempo e agora lança um disco, “Enemy Gospel”, após uma turnê pela Europa e uma troca de integrantes. Não tem muita banda fazendo um som tão agressivo, gutural e esquisito quanto os laranjas. O lançamento do álbum foi nessa semana, e dá para ouvi-lo na íntegra no link abaixo.

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A cantora paulistana já se dedica a um trabalho autoral há anos, sempre caprichando no apelo visual de seus videoclipes (veja o vídeo de “Segredinho” aqui). O plano dela é lançar o disco aos poucos, com um vídeo para cada nova faixa.

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China
Para muita gente, ele ainda é o eterno vocalista do Sheik Tosado. Para outros, é o VJ da MTV que batalhou pela cena independente. China faz de tudo e compõe que é uma beleza. O novo disco do pernambucano, “Telemática”, pode ser baixado aqui.

Pessoal da Nasa
Os cariocas lançaram um EP há dois anos, mas só recentemente produziram um vídeo para o single “Amigos e Fantasmas”, tão alegre, psicodélico e colorido quanto a sonoridade da banda.

The Soundscapes
A banda lançou o EP “A LIfetime A Minute” em outubro (ouça abaixo) pelo selo Balaclava Records. Formada em Nova York e hoje radicada em São Paulo, tem feito shows interessantes, como o de abertura para Stephen Malkmus e Sebadoh em Maringá. É em inglês, mas com guitarras melodiosas e belas harmonias, isso nem faz diferença.

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O 2014 dos shows internacionais foi atípico, mas rendeu grandes momentos
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Pablo Miyazawa

Qual foi seu show internacional favorito de 2014?

Esse foi um ano esquisito em se tratando de shows gringos no Brasil. Começou normalmente bem, com atrações de peso: Elton John, Metallica, Guns N’ Roses. Daí veio o Lollapalooza e vários shows extras durante o fim de semana do festival. Maio trouxe Megadeth, Eddie Vedder e o festival Sub Pop, além do One Direction e o The Afghan Whigs. Teve para todos os gostos.

Aí chegou junho, e tudo parou. Claro que foi por causa da Copa do Mundo (aquela que quase ganhamos se não fosse por sete mínimos detalhes). O ritmo só retornou no final de agosto, e ainda assim não parecia tão normal. As eleições para presidente também deixaram as coisas um tanto congeladas. Tanto que o tradicional festival Planeta Terra não deu as caras dessa vez (mas o Circuito Banco do Brasil acabou compensando, de certa forma). Atrapalhou um pouco também o fato do Rock in Rio ter dado uma pausa para só voltar em 2015. De “típico” mesmo, o segundo semestre só teve a miniturnê de Paul McCartney e mais uns bons shows esporádicos, como o Queens of the Stone Age e o Arctic Monkeys. E também rolou o festival Popload (com o Tame Impala) e os indies do Real Estate. Pensando bem, será que foi assim tão ruim?

Essa semana, fiz uma reportagem para o UOL Música fazendo um balanço sobre o ano dos shows internacionais no Brasil. Conversei com algumas das produtoras e ouvi os problemas, reclamações e também as poucas comemorações. Todos culparam a Copa e as eleições como os principais fatores do ano com shows grandes mais raros, investimento reduzido e menos gente gastando dinheiro com ingresso. Leia aqui e entenda o drama.

E aproveitando a onda de retrospectivas que já assola a sua vida nesse fim de ano, cá estão os meus 14 shows internacionais favoritos de 2014 no Brasil, cada um acompanhado de um único adjetivo definidor (porque afinal, reviews longos não estão com nada):

1º Arcade Fire (Citibank Hall/RJ – 4 de abril) – “Comovente”

2º Queens of the Stone Age (Espaço das Américas/SP – 25 de set.) – “Preciso”

3º Paul McCartney (Allianz Parque – 25 de novembro) – “Eterno”

4º Tame Impala (Festival Popload/SP – 28 de novembro) – “Chapado”

5º Sebadoh (Red Bull Station/SP – 29 de abril) – “Improvisado”

6º Mudhoney (Festival Sub Pop/SP – 15 de maio) – “Barulhento”

7º Soundgarden (Lollapalooza 2014/SP – 6 de abril) – “Nostálgico”

8º Real Estate (Beco 203/SP – 20 de novembro) – “Harmonioso”

9º Fucked Up (Converse Rubber Tracks/SP – 2 de agosto) – “Arruaceiro”

10º The Afghan Whigs (Audio Club/SP – 22 de maio) – “Sombrio”

11º Metallica (Estádio do Morumbi/SP – 22 de março) – “Potente”

12 º Spiritualized (Audio Club/SP – 28 de agosto) – “Religioso”

13º Arctic Monkeys (Arena Anhembi/SP – 14 de novembro) – “Estiloso”

14 º Vampire Weekend (Lollapalooza 2014 – 6 de abril) – “Ensolarado”

Menção honrosa:
Arcade Fire (Lollapalooza 2014/SP – 6 de abril) – “Comovente (a céu aberto)”

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E para você? Quais foram os melhores shows internacionais do ano? E qual mais gostaria de conferir em 2015?


Discoteca Básica: meus 10 discos favoritos (de acordo com um certo livro)
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Pablo Miyazawa

discos

E se alguém te perguntasse agora “quais são seus 10 discos favoritos da vida?”. Quanto tempo você demoraria para responder?

Foi essa a questão apresentada aos participantes do livro “Discoteca Básica: 100 Personalidades e Seus 10 Discos Favoritos”, lançado ontem pela Edições Ideal. O projeto foi organizado pelo jornalista e meu amigo Zé Antonio Algodoal, que já fez de tudo um pouco na vida. Ele tocou guitarra na clássica banda Pin-Ups; trabalhou na MTV, onde dirigiu vários programas; foi o curador da exposição “Let’s Rock”, que ocupou a Oca no Parque Ibirapuera em 2012; e, recentemente, dirigiu o programa “Breakout Brasil” no canal Sony. Daí, no ano passado ele teve a ideia de elaborar um volume com as listas de 10 discos favoritos de 100 pessoas escolhidas a dedo. E lá foi ele atrás dos top 10, um por um, ao longo de vários meses.

livrodiscotecaTenho certeza de que você conhece boa parte das “personalidades” incluídas em “Discoteca Básica”. Entre os músicos, tem gente brasileira da velha guarda (Andreas Kisser, Edgard Scandurra, Arnaldo Baptista, Dinho Ouro Preto, Nando Reis, João Gordo, Supla, Clemente, Ritchie) e da nova guarda (Lucas Silveira, Helio Flanders, Adriano Cintra, China, Chuck Hipolitho, Leela, Rappin’ Hood, os caras do Cachorro Grande). Mas também tem integrantes de bandas gringas, como Superchunk, Teenage Fanclub e Stooges, além de VJs, jornalistas, fotógrafos, atores e atrizes, apresentadores, desenhistas, produtores e locutores. E, gentilmente, o Zé me convidou a participar também.

Aliás, peço licença a ele para postar aqui a minha lista, idêntica à publicada no livro. Tenho certeza de que isso não prejudicará em nada as vendas. Aliás, você tem mais 99 bons motivos para ir atrás de “Discoteca Básica”. Compre um para você, um para seu melhor amigo e aproveite e dê outro no amigo secreto na firma.

E reforço que a lista abaixo foi feita assim de repente, no calor do momento, sem pensar muito. Se eu fosse fazê-la novamente hoje, provavelmente seria bastante diferente. E tenho certeza de que a sua seria mutante também…

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Meu Top 10 de todos os tempos, por Pablo Miyazawa
São os favoritos, mas não os necessariamente melhores. Provavelmente são os que trazem mais sensações boas.

(Para ouvir os discos, clique no título de cada um para acessar a Rádio UOL, quando estiver disponível, ou pelos vídeos do YouTube)

The Beach Boys – “Pet Sounds” (1967)  O mais perfeito e eterno conjunto de canções já costurado em uma sequência lógica e intocável.

Miles Davis – “Kind of Blue” (1959)  A trilha sonora para voar, se esquecer da vida e pensar na vida, tudo ao mesmo tempo.

The Beatles – “Revolver” (1966) Não apenas uma das provas da genialidade dos Beatles, mas o melhor apanhado de canções pop em um só pacote.

The Ramones – “Rocket to Russia” (1977)  Não há tédio, cansaço ou tristeza que esse disco não cure.

Big Star – “#1 Record” (1972)  O melhor álbum de rock que quase ninguém ouviu, da banda mais subestimada de todos os tempos.

Nick Drake – “Pink Moon” (1972)  Uma profunda e dolorida experiência solitária, tal como uma conversa franca consigo mesmo.

Black Sabbath – “Paranoid” (1970)  É o disco que me apresentou a guitarra para eu nunca mais largá-la.

Pavement – “Crooked Rain, Crooked Rain” (1994)  Pureza melódica embrulhada em sujeira sônica, virtuosismo pop e irretocável senso de humor.

Weezer –  “Weezer” (1994)  Meu “guilty pleasure” favorito me soa como uma história de uma vida breve e feliz, com começo, meio e fim.

Creedence Clearwater Revival –  “Chronicle” (1976)  O bom e o melhor da maior banda norte-americana de rock por excelência.

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Quer ganhar um “Discoteca Básica”? Darei um exemplar de presente ao leitor que postar um top 10 pessoal de discos da vida mais interessante (na minha opinião, é claro), com suas respectivas justificativas. Escreva sua lista nos comentários abaixo. O resultado sai antes do final do ano, aqui mesmo no blog. Não esqueça de colocar seu nome verdadeiro para eu conseguir entrar em contato depois.


Relembrando aquele tempo em que as novelas eram mais divertidas
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Pablo Miyazawa

vamp

Os vampiros de “Vamp”: bom exemplo do tempo em que o bizarro era o padrão das novelas (Divulgação)

Tenho uma confissão para fazer: quando era criança, eu assistia novelas.

Em meu favor, lembro a você que era um tempo sem internet, sem videogames incríveis (lembra de quando sua mãe dizia que o Atari “estragava a TV?”), sem MTV ou TV a cabo. Lembrando também que para quem era criança nos anos 80, não havia muitas opções de lazer quando a noite chegava. O hábito se foi com o tempo, mas jamais me esqueci das minhas favoritas.

E foram muitas as que acompanhei, de “Guerra dos Sexos” a “O Salvador da Pátria”, de “Ti Ti Ti” a “Selva de Pedra”. Especulei na escola (errado) sobre quem matou Odete Roitman em “Vale Tudo”. Imitava igualzinho o Dom Lázaro Venturini em “Meu Bem, Meu Mal” (“Eu prefiro melão!”). Também colecionei e completei os álbuns de figurinhas de “Roque Santeiro”, “Bebê a Bordo” e “Que Rei Sou Eu?”. Sim, naquele tempo havia álbuns de figurinhas dedicados às novelas e ninguém achava esquisito.

Ou será que eu via novelas porque elas realmente eram mais interessantes antigamente? Prefiro acreditar que era por isso mesmo. Nunca mais consegui acompanhar uma que fosse, mesmo essas unânimes como “Laços de Família”, “Avenida Brasil” e “Salve Jorge”. Se vi três capítulos de cada, foi muito.

Pensei em todas essas coisas enquanto escrevia esta reportagem sobre trilhas sonoras de novelas para o UOL Televisão. A ideia da pauta veio com o lançamento de “Teletema”, livro recém-lançado dos jornalistas Guilherme Bryan e Vincent Villari. É um belíssimo trabalho de 500 páginas que disseca a relação entre músicas e novelas em um período de 25 anos. E esse é apenas o volume 1 – o livro 2, que engloba de 1990 até os dias de hoje, deve sair lá por 2017. Para quem também achava que as novelas eram mais legais antigamente, este é um belo presente para se dar no Natal.

Aproveitando a nostalgia, indico a seguir sete aberturas de novelas globais bizarras que mais marcaram a minha infância e que você deve se lembrar. E se não se lembra, é ou porque nasceu depois dos anos 1980, ou porque está mentindo.

***

1. Roda de Fogo (1986-87)
“Pra Começar” de Marina (Lima) até é um rock de respeito, e a abertura cheia de efeitos especiais, belo exemplar do estilo Hans Donner, era impressionante na época. Mas essa novela é ainda mais memorável por ter inspirado a sátira “Fogo no Rabo”, do ainda mais saudoso TV Pirata.

2. Um Sonho a Mais (1985)
A música-título, que deu o nome a essa novela absurda, deve ser uma das canções que mais toca em formaturas e festinhas oitentistas até hoje. E repare na participação especial do Roupa Nova fazendo o papel de… Roupa Velha.

3. O Dono do Mundo (1991)
Tom Jobim + Charlie Chaplin em “O Grande Ditador” = tudo para dar errado, certo? Mas não é que aqui ficou interessante? Pena que a novela acabou sendo bem meia-boca, apesar de ter começado bem e caprichado na polêmica.

4. O Outro (1987)
“Flores em Você” do Ira! marcou essa novela, mas eu me lembro mais de um comentário inocente que ouvi de alguém sobre a abertura abaixo: “Então as pessoas andam rápido assim na cidade grande?”

5. A Gata Comeu (1985)
O tema tocado pela banda Magazine era um favorito da molecada, mas hoje isso não é o que marca essa vinheta: repare na violência gratuita contra a pobre gatinha de estimação? (Não encontrei o vídeo com a original, apenas essa versão “remake”).

6. Rainha da Sucata (1991)
“Sidney Magal?”, você me pergunta. Sim, e tente ficar parado (ou sem dar risada) com essa abertura esdrúxula que mistura o ritmo da lambada com ficção-científica.

7. Vamp (1991-92)
Não era muito comum a protagonista da novela (no caso, Claudia Ohana) aparecer no vídeo de abertura, mas aqui esse recurso só colaborou para aumentar o clima cômico de desenho animado. Vale a pena ouvir de novo “Noite Preta”, maior (e único) sucesso da saudosa Vange Leonel.

Menção Desonrosa: Barriga de Aluguel (1990-91)
Nem vou entrar no mérito de que a letra da música nada tem a ver com o enredo. Quanto mau gosto pode existir em uma sequência de pouco mais de um minuto? Barrigas desfilam soltas pelo espaço até que uma mulher abre as pernas… e dá a luz ao logotipo da novela. Histórico.

***

E agora que já teve sua sessão nostalgia, leia a reportagem completa aqui.


Há 50 anos, Sam Cooke pedia por mudanças. E elas ainda não aconteceram
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Pablo Miyazawa

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Cooke compôs o verdadeiro hino dos direitos civis dos EUA, “A Change is Gonna Come” (Foto: Divulgação)

Há exatos 50 anos morria Sam Cooke.

O cantor norte-americano partiu em 11 de dezembro de 1964, aos 33 anos, em circunstâncias trágicas – foi baleado no peito durante uma briga com a gerente do hotel em que estava hospedado em Los Angeles. Ela foi declarada inocente, alegando ter agido em legitima defesa. A história jamais foi totalmente esclarecida. E a música perdeu um artista genial no auge de seu talento.

É uma pena que hoje em dia pouca gente se lembre de Sam Cooke. Mas escutar sua obra é um atestado de que ele se foi cedo demais. Com a voz aveludada, interpretações românticas (mas sem jamais ser vulgar) e um apreço por belas baladas, ele praticamente foi o criador do que chamamos de soul music – não foi coincidência ele ter começado a carreira como cantor gospel na adolescência. A música pop só se tornou sua vocação em 1956, com o sucesso “You Send Me”, composta por ele próprio. Aliás, Cooke escreveu a maioria das músicas que gravou.

A partir de então, colecionou hits na parada norte-americana – foram 30 músicas que chegaram ao Top 40, entre elas a já citada “You Send Me” e as eternas “Wonderful World” e “Cupid”. O último álbum dele foi lançado em março de 1964, e por pura ironia do destino, se chamava “Ain’t That Good News”. Como se sabe, as notícias não foram nada boas nove meses depois. Mas o legado de Sam Cooke se estabeleceu e inspirou muitos artistas negros que brilharam mais tarde, de Marvin Gaye a Michael Jackson, de Stevie Wonder a Tupac Shakur, de Al Green a Ottis Redding (cuja morte, aliás, completou ontem 47 anos). O título de “Rei do Soul” lhe cai bem até hoje, assim como sua presença bem colocada em listas de “maiores cantores de todos os tempos”.

A música mais emblemática de Cooke, “A Change is Gonna Come”, é póstuma – foi lançada como single alguns dias após sua morte. A inspiração surgiu de um episódio constrangedor que o cantor experimentou em 1963, quando teve acesso negado a um hotel só para brancos. Após ouvir “Blowin’ in the Wind”, de Bob Dylan, pela primeira vez, Cooke decidiu ele próprio escrever uma canção que discutisse o racismo e as evoluções necessárias que seu país deveria sofrer. Com um arranjo épico orquestrado, lindos versos de poesia simples e uma interpretação emocionante que beira o espiritual, “A Change is Gonna Come” se tornou uma espécie de hino dos direitos civis nos Estados Unidos. Quando Barack Obama foi eleito presidente em 2008, ele citou os versos de Cooke no discurso.

Nesse momento de grande efervescência nas discussões sobre desigualdade racial nos Estados Unidos (e por que não, no Brasil e no mundo), não será estranho se “A Change is Gonna Come” voltar a repercutir com toda força. Sem nunca deixar de soar atual, a canção não é apenas um apelo indignado que clama por mudanças; é também um brado cheio de esperança por dias melhores que ainda virão.

“There been times that I thought I couldn’t last for long/
But now I think I’m able to carry on/
It’s been a long, a long time coming,/
but I know a change gonna come, oh yes it will”


O Senhor dos Anéis e Star Wars: quem vence a batalha das sagas fantásticas?
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Pablo Miyazawa

Com a estreia de “O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos” nesta quinta-feira (11), a saga cinematográfica de Peter Jackson finalmente irá alcançar “Star Wars” – pelo menos na quantidade de filmes. São seis para cada lado, sendo que os longas produzidos George Lucas saíram em um espaço de 28 anos (o primeiro, em 1977; o sexto, só em 2005). Já Jackson foi mais eficiente: dirigiu a trilogia “O Senhor dos Anéis” de 2001 a 2003; e os três longas de “O Hobbit” entre 2012 e 2014.

Se bem que essa comparação já será superada no final do ano que vem, quando sairá o “Episódio VII” de “Star Wars”. Dessa vez, George Lucas não está mais envolvido, já que vendeu os direitos de sua criação para o conglomerado Disney. Mas sendo bastante frio e calculista, entendo que a presença de Lucas já não é mais tão importante para o andamento da saga. A mitologia já está escrita e consagrada; os personagens já existem no imaginário popular. Tudo o que os próximos envolvidos precisam é seguir à risca esses mandamentos, sem inventar muita moda. Milhões de fãs ansiosos não querem se decepcionar.

E o que será de “O Senhor dos Anéis”? Esse infelizmente não tem mais como ser explorado no cinema. Ainda resta “O Silmarillion”, o outro livro que J.R.R. Tolkien escreveu, mas não finalizou em vida. Mas essa obra provavelmente jamais se tornará um projeto em Hollywood. Os direitos estão nas mãos dos herdeiros de Tolkien, e a relação deles com os filmes existentes (e com a Warner, e com Peter Jackson) é péssima, para não dizer outra coisa (esta entrevista do filho e herdeiro do autor, Christopher, explica bem o caso). Então, não deve acontecer.

Em 2003, com o desfecho da trilogia em “O Retorno do Rei”, pouca gente sonharia com um filme de “O Hobbit”. E a realidade atual foi muito mais longe do que os fãs mais otimistas poderiam esperar. Não esqueça que trata-se de um livro infantil de pouco mais de 300 páginas que se tornou 500 minutos de filme (fora os minutos extras que um dia verão a luz do dia na versão home video completa). E também vale reforçar que a versão completa e estendida da trilogia “O Senhor dos Anéis” possui… 726 minutos!

Ou seja, se somarmos os 424 minutos dos três filmes “O Hobbit”, o resultado total é 1200 minutos, ou VINTE horas. Para efeito de comparação, os seis filmes “Star Wars” somados resultam em quase 800 minutos, pouco mais de 13 horas. Se comparados aos conflitos Jedi X Sith, são sete horas a mais de peripécias da família Bolseiro pela Terra-Média (“A Batalha dos Cinco Exércitos” é o mais curto da série, com “apenas” 144 minutos). E quem é fã de verdade certamente vai querer encarar os seis longas de uma tacada só, provavelmente na ordem cronológica “correta” – a trilogia “O Hobbit” antes, e a trinca de “Anéis” depois. Que é o que todo mundo que conheço fez com os filmes “Star Wars”.

Comparações matemáticas à parte, realmente não dá para equiparar as jornadas cinematográficas de “Star Wars” e “O Senhor dos Anéis”. É injusto para ambos os lados. “Star Wars” possui esse caráter duradouro, de poder ser repensado infinitamente, já que é uma saga em contínua expansão. No caso dos livros de J.R.R. Tolkien, eles são produtos fechados que já foram espremidos até o fim. Não rendem mais suco, e as frutas que ainda existem (no caso, “O Silmarillion”) são impossíveis de se alcançar.

Reclame do que quiser dos filmes “O Hobbit” e “O Senhor dos Anéis” – que são arrastados e longos demais, que tomam muitas liberdades com o texto original, que abusam de efeitos especiais. Mas esses 1200 minutos produzidos por Peter Jackson possuem um mérito fabuloso, algo que os filmes “Star Wars” jamais terão: eles conseguem fazer parte de um conjunto coeso e consistente, um universo ficcional vivo e dinâmico que parece mesmo ter sido idealizado e realizado por uma mesma equipe. Dificilmente veremos no futuro uma série cinematográfica tão volumosa e sólida quanto essa. Também é preciso se valorizar a qualidade da fonte original: histórias fantásticas existem aos montes, mas jamais Hollywood terá à disposição uma obra tão completa e original como a escrita por Tolkien.

Com o fim de “O Hobbit”, o público dos filmes de fantasia só terá olhos para “Star Wars” e sua tão aguardada continuidade nos próximos Natais. Tudo indica que a série está recuperando aquele status que carregou durante a década de 80 e posteriormente, na virada do século 21. Ainda é a maior franquia da história do cinema, a que mais rendeu dinheiro, e é a que tem os fãs mais apaixonados e dedicados. Mas “O Hobbit” e “O Senhor dos Anéis” conseguiram abalar toda essa “Força”. Vieram para ficar e jamais serão esquecidos.


O fã de cultura pop que vai à Comic Con Experience é um cara como eu e você
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Pablo Miyazawa

A Comic Con Experience está a todo vapor.

Passei a quinta e a sexta-feira inteiras andando pelo pavilhão do Centro de Exposições Imigrantes e gostei bastante do que vi. Para quem nunca foi a esse tipo de evento, é impressionante logo de cara. E mesmo para quem já é macaco velho nesses encontros de fãs (meu caso), também é algo notável. Está tudo bem organizado, os voluntários realmente ajudam e é fácil de se encontrar em meio a tantos estandes, ruídos e multidões. Há filas (que no sábado e domingo devem piorar), mas foi perfeitamente suportável.

Mas o que mais me chamou a atenção foi a diversidade do público. Havia de tudo por ali, não apenas o típico estereótipo de geek/nerd a que estamos acostumados – não vou descrevê-lo, você sabe do que estou falando. Em seu primeiro ano, o CCXP tem como maior mérito ser um encontro democrático que agrada a todo tipo de gente, não apenas os entusiastas mais apaixonados.

Talvez seja meramente uma impressão minha, mas notei um público diferente em relação aos encontros de fãs de anime/mangá que  já existem há anos no Brasil. Também não parecia ser o tipo de consumidor que frequenta eventos de videogame, como o recente Brasil Game Show. É claro que havia os caras vestindo camisetas de “Star Wars” e de super-heróis, os cosplayers (aliás, muito mais caprichados do que o normal – quase não vi “cospobres”) e os devotos colecionadores de histórias em quadrinhos.  Esse público, típico e esperado, estava lá em peso.

E reparei também em um exemplar mais recente, surgido com o advento dos novos filmes de super-herói  e das séries televisivas de apelo cinematográfico. É o fã “Bazinga”, como bem me definiu um amigo quadrinista que expunha seus trabalhos por ali. É o cara que se identifica com o universo nerd, sem preconceitos, mas que não é assim tão dedicado, e não necessariamente lê quadrinhos ou joga games. Adora “Os Vingadores” e “Breaking Bad” tanto quanto “Game of Thrones” e “O Hobbit” – e claro, “Big Bang Theory”.

Mas também vi muitos pais e mães de família com crianças pequenas a tiracolo (um grande número, surpreendente para o horário comercial de dias de semana). E grupos de pessoas mais velhas que estavam visitando por diversão, como uma atração turística qualquer. Encontrei até um amigo que conheci em Manaus, guia turístico na Amazônia, que aproveitou férias na cidade para passar o dia experimentando as novidades. Não faltaram fãs de heavy metal cabeludos e de camisetas pretas, nem um ou outro hipster de bigode, camisa de gola e óculos de aro grosso. Havia praticantes de luta medieval com espadas de espuma, devidamente paramentados. Jogadores profissionais de games uniformizados. Garotas de vestido e salto alto. E um monte de caras absolutamente normais, impossíveis de se rotular, tirando selfies, comprando miniaturas e encarando filas para os painéis com artistas. Havia de tudo um pouco. Seja lá de que tribo você for – ou de nenhuma –, não há como se sentir deslocado.

O que me leva a pensar que essa ideia de “público geek” (a quem o evento declaradamente se destina) é algo um tanto nebuloso. Se na teoria o Comic Con Experience é dedicado aos fãs de cultura pop, então na prática ele é adequado a todo mundo. Afinal, como falei aqui desde o primeiro dia, todo mundo gosta de cultura pop, nem que seja um pouquinho – e quem não aprecia cultura pop, bom sujeito não é.

Entendo a necessidade de se vender o Comic Con Experience como “a maior convenção geek”, pelo menos nesse primeiro ano. Mas gostaria de crer que tal definição não será mais necessária nas próximas edições. Em um mundo ideal, as pessoas cada vez mais se assumirão como interessadas em algum aspecto da cultura pop – seriados, filmes, super-heróis, jogos eletrônicos, e por aí vai –, de forma natural e sem para isso serem rotuladas como parte de uma “tribo”.

E mesmo já frequentando esses eventos há anos, sempre é possível absorver novidades. Em dois dias, posso dizer que aprendi algumas coisas, pelo menos do ponto de vista estético:

– “Star Wars” está forte como nunca – talvez mais do que estava em 2005, ano em que o último filme foi lançado. De longe, a franquia é a que mais aparece nas camisetas dos visitantes. E os cosplayers capricharam – vi várias Princesas Leia (em trajes do “Episódio IV” e como a escrava sexy de Jabba the Hutt), alguns Han Solo, um outro Luke Skywalker, soldados imperiais e até uma bem equipada soldada mandaloriana ao estilo Boba Fett. Se está assim agora, imagino como será na próxima CCXP, que ocorrerá de 3 a 6 de dezembro de 2015, dias antes do “Episódio VII” estrear nos cinemas.

– Outros cosplays muito bem cotados na CCXP: Doctor Who, Wolverine (e ocasionais Magnetos), Coringa, Robin, Homem-Aranha (sem máscara), Gandalf, Harry Potter, Chaves & Chapolin, Watchmen e muitos bonés de Mario e Luigi. E vi um Wally (Waldo), que dessa vez não estava nada escondido.

– Quase não vi: cosplays de figuras de animes como “Dragon Ball” , “Cavaleiros do Zodíaco” e “Naruto”. Mas vi alguns personagens de “Pokémon”. Heróis japoneses, aliás, foram mais raros nos primeiros dois dias. Será que os universos do pop japonês e das HQs ocidentais realmente não se misturam tanto?

– Sobre as camisetas: nem Batman, nem Superman, muito menos Homem-Aranha. O símbolo de super-herói mais constante das estampas era o do Capitão América. Provavelmente ajudou o fato dos dois filmes estrelados por Steve Rogers serem muito bons, mas nem isso deveria justificar a enorme quantidade de escudos tricolores com a estrela branca no meio. Uma em cada cinco camisetas com logotipos de heróis era essa. Mas também vi muitos raios do The Flash, perdidos entre morcegos, aranhas e o “S” de Krypton.

E ainda tem dois dias de Comic Con Experience. Corra para lá porque vai lotar.