Blog do Pablo Miyazawa

Relembrando aquele tempo em que as novelas eram mais divertidas
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Pablo Miyazawa

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Os vampiros de “Vamp”: bom exemplo do tempo em que o bizarro era o padrão das novelas (Divulgação)

Tenho uma confissão para fazer: quando era criança, eu assistia novelas.

Em meu favor, lembro a você que era um tempo sem internet, sem videogames incríveis (lembra de quando sua mãe dizia que o Atari “estragava a TV?”), sem MTV ou TV a cabo. Lembrando também que para quem era criança nos anos 80, não havia muitas opções de lazer quando a noite chegava. O hábito se foi com o tempo, mas jamais me esqueci das minhas favoritas.

E foram muitas as que acompanhei, de “Guerra dos Sexos” a “O Salvador da Pátria”, de “Ti Ti Ti” a “Selva de Pedra”. Especulei na escola (errado) sobre quem matou Odete Roitman em “Vale Tudo”. Imitava igualzinho o Dom Lázaro Venturini em “Meu Bem, Meu Mal” (“Eu prefiro melão!”). Também colecionei e completei os álbuns de figurinhas de “Roque Santeiro”, “Bebê a Bordo” e “Que Rei Sou Eu?”. Sim, naquele tempo havia álbuns de figurinhas dedicados às novelas e ninguém achava esquisito.

Ou será que eu via novelas porque elas realmente eram mais interessantes antigamente? Prefiro acreditar que era por isso mesmo. Nunca mais consegui acompanhar uma que fosse, mesmo essas unânimes como “Laços de Família”, “Avenida Brasil” e “Salve Jorge”. Se vi três capítulos de cada, foi muito.

Pensei em todas essas coisas enquanto escrevia esta reportagem sobre trilhas sonoras de novelas para o UOL Televisão. A ideia da pauta veio com o lançamento de “Teletema”, livro recém-lançado dos jornalistas Guilherme Bryan e Vincent Villari. É um belíssimo trabalho de 500 páginas que disseca a relação entre músicas e novelas em um período de 25 anos. E esse é apenas o volume 1 – o livro 2, que engloba de 1990 até os dias de hoje, deve sair lá por 2017. Para quem também achava que as novelas eram mais legais antigamente, este é um belo presente para se dar no Natal.

Aproveitando a nostalgia, indico a seguir sete aberturas de novelas globais bizarras que mais marcaram a minha infância e que você deve se lembrar. E se não se lembra, é ou porque nasceu depois dos anos 1980, ou porque está mentindo.

***

1. Roda de Fogo (1986-87)
“Pra Começar” de Marina (Lima) até é um rock de respeito, e a abertura cheia de efeitos especiais, belo exemplar do estilo Hans Donner, era impressionante na época. Mas essa novela é ainda mais memorável por ter inspirado a sátira “Fogo no Rabo”, do ainda mais saudoso TV Pirata.

2. Um Sonho a Mais (1985)
A música-título, que deu o nome a essa novela absurda, deve ser uma das canções que mais toca em formaturas e festinhas oitentistas até hoje. E repare na participação especial do Roupa Nova fazendo o papel de… Roupa Velha.

3. O Dono do Mundo (1991)
Tom Jobim + Charlie Chaplin em “O Grande Ditador” = tudo para dar errado, certo? Mas não é que aqui ficou interessante? Pena que a novela acabou sendo bem meia-boca, apesar de ter começado bem e caprichado na polêmica.

4. O Outro (1987)
“Flores em Você” do Ira! marcou essa novela, mas eu me lembro mais de um comentário inocente que ouvi de alguém sobre a abertura abaixo: “Então as pessoas andam rápido assim na cidade grande?”

5. A Gata Comeu (1985)
O tema tocado pela banda Magazine era um favorito da molecada, mas hoje isso não é o que marca essa vinheta: repare na violência gratuita contra a pobre gatinha de estimação? (Não encontrei o vídeo com a original, apenas essa versão “remake”).

6. Rainha da Sucata (1991)
“Sidney Magal?”, você me pergunta. Sim, e tente ficar parado (ou sem dar risada) com essa abertura esdrúxula que mistura o ritmo da lambada com ficção-científica.

7. Vamp (1991-92)
Não era muito comum a protagonista da novela (no caso, Claudia Ohana) aparecer no vídeo de abertura, mas aqui esse recurso só colaborou para aumentar o clima cômico de desenho animado. Vale a pena ouvir de novo “Noite Preta”, maior (e único) sucesso da saudosa Vange Leonel.

Menção Desonrosa: Barriga de Aluguel (1990-91)
Nem vou entrar no mérito de que a letra da música nada tem a ver com o enredo. Quanto mau gosto pode existir em uma sequência de pouco mais de um minuto? Barrigas desfilam soltas pelo espaço até que uma mulher abre as pernas… e dá a luz ao logotipo da novela. Histórico.

***

E agora que já teve sua sessão nostalgia, leia a reportagem completa aqui.


Há 50 anos, Sam Cooke pedia por mudanças. E elas ainda não aconteceram
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Pablo Miyazawa

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Cooke compôs o verdadeiro hino dos direitos civis dos EUA, “A Change is Gonna Come” (Foto: Divulgação)

Há exatos 50 anos morria Sam Cooke.

O cantor norte-americano partiu em 11 de dezembro de 1964, aos 33 anos, em circunstâncias trágicas – foi baleado no peito durante uma briga com a gerente do hotel em que estava hospedado em Los Angeles. Ela foi declarada inocente, alegando ter agido em legitima defesa. A história jamais foi totalmente esclarecida. E a música perdeu um artista genial no auge de seu talento.

É uma pena que hoje em dia pouca gente se lembre de Sam Cooke. Mas escutar sua obra é um atestado de que ele se foi cedo demais. Com a voz aveludada, interpretações românticas (mas sem jamais ser vulgar) e um apreço por belas baladas, ele praticamente foi o criador do que chamamos de soul music – não foi coincidência ele ter começado a carreira como cantor gospel na adolescência. A música pop só se tornou sua vocação em 1956, com o sucesso “You Send Me”, composta por ele próprio. Aliás, Cooke escreveu a maioria das músicas que gravou.

A partir de então, colecionou hits na parada norte-americana – foram 30 músicas que chegaram ao Top 40, entre elas a já citada “You Send Me” e as eternas “Wonderful World” e “Cupid”. O último álbum dele foi lançado em março de 1964, e por pura ironia do destino, se chamava “Ain't That Good News”. Como se sabe, as notícias não foram nada boas nove meses depois. Mas o legado de Sam Cooke se estabeleceu e inspirou muitos artistas negros que brilharam mais tarde, de Marvin Gaye a Michael Jackson, de Stevie Wonder a Tupac Shakur, de Al Green a Ottis Redding (cuja morte, aliás, completou ontem 47 anos). O título de “Rei do Soul” lhe cai bem até hoje, assim como sua presença bem colocada em listas de “maiores cantores de todos os tempos”.

A música mais emblemática de Cooke, “A Change is Gonna Come”, é póstuma – foi lançada como single alguns dias após sua morte. A inspiração surgiu de um episódio constrangedor que o cantor experimentou em 1963, quando teve acesso negado a um hotel só para brancos. Após ouvir “Blowin' in the Wind”, de Bob Dylan, pela primeira vez, Cooke decidiu ele próprio escrever uma canção que discutisse o racismo e as evoluções necessárias que seu país deveria sofrer. Com um arranjo épico orquestrado, lindos versos de poesia simples e uma interpretação emocionante que beira o espiritual, “A Change is Gonna Come” se tornou uma espécie de hino dos direitos civis nos Estados Unidos. Quando Barack Obama foi eleito presidente em 2008, ele citou os versos de Cooke no discurso.

Nesse momento de grande efervescência nas discussões sobre desigualdade racial nos Estados Unidos (e por que não, no Brasil e no mundo), não será estranho se “A Change is Gonna Come” voltar a repercutir com toda força. Sem nunca deixar de soar atual, a canção não é apenas um apelo indignado que clama por mudanças; é também um brado cheio de esperança por dias melhores que ainda virão.

''There been times that I thought I couldn't last for long/
But now I think I'm able to carry on/
It's been a long, a long time coming,/
but I know a change gonna come, oh yes it will''


O Senhor dos Anéis e Star Wars: quem vence a batalha das sagas fantásticas?
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Pablo Miyazawa

Com a estreia de “O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos” nesta quinta-feira (11), a saga cinematográfica de Peter Jackson finalmente irá alcançar “Star Wars” – pelo menos na quantidade de filmes. São seis para cada lado, sendo que os longas produzidos George Lucas saíram em um espaço de 28 anos (o primeiro, em 1977; o sexto, só em 2005). Já Jackson foi mais eficiente: dirigiu a trilogia “O Senhor dos Anéis” de 2001 a 2003; e os três longas de “O Hobbit” entre 2012 e 2014.

Se bem que essa comparação já será superada no final do ano que vem, quando sairá o “Episódio VII” de “Star Wars”. Dessa vez, George Lucas não está mais envolvido, já que vendeu os direitos de sua criação para o conglomerado Disney. Mas sendo bastante frio e calculista, entendo que a presença de Lucas já não é mais tão importante para o andamento da saga. A mitologia já está escrita e consagrada; os personagens já existem no imaginário popular. Tudo o que os próximos envolvidos precisam é seguir à risca esses mandamentos, sem inventar muita moda. Milhões de fãs ansiosos não querem se decepcionar.

E o que será de “O Senhor dos Anéis”? Esse infelizmente não tem mais como ser explorado no cinema. Ainda resta “O Silmarillion”, o outro livro que J.R.R. Tolkien escreveu, mas não finalizou em vida. Mas essa obra provavelmente jamais se tornará um projeto em Hollywood. Os direitos estão nas mãos dos herdeiros de Tolkien, e a relação deles com os filmes existentes (e com a Warner, e com Peter Jackson) é péssima, para não dizer outra coisa (esta entrevista do filho e herdeiro do autor, Christopher, explica bem o caso). Então, não deve acontecer.

Em 2003, com o desfecho da trilogia em “O Retorno do Rei”, pouca gente sonharia com um filme de “O Hobbit”. E a realidade atual foi muito mais longe do que os fãs mais otimistas poderiam esperar. Não esqueça que trata-se de um livro infantil de pouco mais de 300 páginas que se tornou 500 minutos de filme (fora os minutos extras que um dia verão a luz do dia na versão home video completa). E também vale reforçar que a versão completa e estendida da trilogia “O Senhor dos Anéis” possui… 726 minutos!

Ou seja, se somarmos os 424 minutos dos três filmes “O Hobbit”, o resultado total é 1200 minutos, ou VINTE horas. Para efeito de comparação, os seis filmes “Star Wars” somados resultam em quase 800 minutos, pouco mais de 13 horas. Se comparados aos conflitos Jedi X Sith, são sete horas a mais de peripécias da família Bolseiro pela Terra-Média (“A Batalha dos Cinco Exércitos” é o mais curto da série, com “apenas” 144 minutos). E quem é fã de verdade certamente vai querer encarar os seis longas de uma tacada só, provavelmente na ordem cronológica “correta” – a trilogia “O Hobbit” antes, e a trinca de “Anéis” depois. Que é o que todo mundo que conheço fez com os filmes “Star Wars”.

Comparações matemáticas à parte, realmente não dá para equiparar as jornadas cinematográficas de “Star Wars” e “O Senhor dos Anéis”. É injusto para ambos os lados. “Star Wars” possui esse caráter duradouro, de poder ser repensado infinitamente, já que é uma saga em contínua expansão. No caso dos livros de J.R.R. Tolkien, eles são produtos fechados que já foram espremidos até o fim. Não rendem mais suco, e as frutas que ainda existem (no caso, “O Silmarillion”) são impossíveis de se alcançar.

Reclame do que quiser dos filmes “O Hobbit” e “O Senhor dos Anéis” – que são arrastados e longos demais, que tomam muitas liberdades com o texto original, que abusam de efeitos especiais. Mas esses 1200 minutos produzidos por Peter Jackson possuem um mérito fabuloso, algo que os filmes “Star Wars” jamais terão: eles conseguem fazer parte de um conjunto coeso e consistente, um universo ficcional vivo e dinâmico que parece mesmo ter sido idealizado e realizado por uma mesma equipe. Dificilmente veremos no futuro uma série cinematográfica tão volumosa e sólida quanto essa. Também é preciso se valorizar a qualidade da fonte original: histórias fantásticas existem aos montes, mas jamais Hollywood terá à disposição uma obra tão completa e original como a escrita por Tolkien.

Com o fim de “O Hobbit”, o público dos filmes de fantasia só terá olhos para “Star Wars” e sua tão aguardada continuidade nos próximos Natais. Tudo indica que a série está recuperando aquele status que carregou durante a década de 80 e posteriormente, na virada do século 21. Ainda é a maior franquia da história do cinema, a que mais rendeu dinheiro, e é a que tem os fãs mais apaixonados e dedicados. Mas “O Hobbit” e “O Senhor dos Anéis” conseguiram abalar toda essa “Força”. Vieram para ficar e jamais serão esquecidos.


O fã de cultura pop que vai à Comic Con Experience é um cara como eu e você
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Pablo Miyazawa

A Comic Con Experience está a todo vapor.

Passei a quinta e a sexta-feira inteiras andando pelo pavilhão do Centro de Exposições Imigrantes e gostei bastante do que vi. Para quem nunca foi a esse tipo de evento, é impressionante logo de cara. E mesmo para quem já é macaco velho nesses encontros de fãs (meu caso), também é algo notável. Está tudo bem organizado, os voluntários realmente ajudam e é fácil de se encontrar em meio a tantos estandes, ruídos e multidões. Há filas (que no sábado e domingo devem piorar), mas foi perfeitamente suportável.

Mas o que mais me chamou a atenção foi a diversidade do público. Havia de tudo por ali, não apenas o típico estereótipo de geek/nerd a que estamos acostumados – não vou descrevê-lo, você sabe do que estou falando. Em seu primeiro ano, o CCXP tem como maior mérito ser um encontro democrático que agrada a todo tipo de gente, não apenas os entusiastas mais apaixonados.

Talvez seja meramente uma impressão minha, mas notei um público diferente em relação aos encontros de fãs de anime/mangá que  já existem há anos no Brasil. Também não parecia ser o tipo de consumidor que frequenta eventos de videogame, como o recente Brasil Game Show. É claro que havia os caras vestindo camisetas de “Star Wars” e de super-heróis, os cosplayers (aliás, muito mais caprichados do que o normal – quase não vi “cospobres”) e os devotos colecionadores de histórias em quadrinhos.  Esse público, típico e esperado, estava lá em peso.

E reparei também em um exemplar mais recente, surgido com o advento dos novos filmes de super-herói  e das séries televisivas de apelo cinematográfico. É o fã “Bazinga”, como bem me definiu um amigo quadrinista que expunha seus trabalhos por ali. É o cara que se identifica com o universo nerd, sem preconceitos, mas que não é assim tão dedicado, e não necessariamente lê quadrinhos ou joga games. Adora “Os Vingadores” e “Breaking Bad” tanto quanto “Game of Thrones” e “O Hobbit” – e claro, “Big Bang Theory”.

Mas também vi muitos pais e mães de família com crianças pequenas a tiracolo (um grande número, surpreendente para o horário comercial de dias de semana). E grupos de pessoas mais velhas que estavam visitando por diversão, como uma atração turística qualquer. Encontrei até um amigo que conheci em Manaus, guia turístico na Amazônia, que aproveitou férias na cidade para passar o dia experimentando as novidades. Não faltaram fãs de heavy metal cabeludos e de camisetas pretas, nem um ou outro hipster de bigode, camisa de gola e óculos de aro grosso. Havia praticantes de luta medieval com espadas de espuma, devidamente paramentados. Jogadores profissionais de games uniformizados. Garotas de vestido e salto alto. E um monte de caras absolutamente normais, impossíveis de se rotular, tirando selfies, comprando miniaturas e encarando filas para os painéis com artistas. Havia de tudo um pouco. Seja lá de que tribo você for – ou de nenhuma –, não há como se sentir deslocado.

O que me leva a pensar que essa ideia de “público geek” (a quem o evento declaradamente se destina) é algo um tanto nebuloso. Se na teoria o Comic Con Experience é dedicado aos fãs de cultura pop, então na prática ele é adequado a todo mundo. Afinal, como falei aqui desde o primeiro dia, todo mundo gosta de cultura pop, nem que seja um pouquinho – e quem não aprecia cultura pop, bom sujeito não é.

Entendo a necessidade de se vender o Comic Con Experience como “a maior convenção geek”, pelo menos nesse primeiro ano. Mas gostaria de crer que tal definição não será mais necessária nas próximas edições. Em um mundo ideal, as pessoas cada vez mais se assumirão como interessadas em algum aspecto da cultura pop – seriados, filmes, super-heróis, jogos eletrônicos, e por aí vai –, de forma natural e sem para isso serem rotuladas como parte de uma “tribo”.

E mesmo já frequentando esses eventos há anos, sempre é possível absorver novidades. Em dois dias, posso dizer que aprendi algumas coisas, pelo menos do ponto de vista estético:

– “Star Wars” está forte como nunca – talvez mais do que estava em 2005, ano em que o último filme foi lançado. De longe, a franquia é a que mais aparece nas camisetas dos visitantes. E os cosplayers capricharam – vi várias Princesas Leia (em trajes do “Episódio IV” e como a escrava sexy de Jabba the Hutt), alguns Han Solo, um outro Luke Skywalker, soldados imperiais e até uma bem equipada soldada mandaloriana ao estilo Boba Fett. Se está assim agora, imagino como será na próxima CCXP, que ocorrerá de 3 a 6 de dezembro de 2015, dias antes do “Episódio VII” estrear nos cinemas.

– Outros cosplays muito bem cotados na CCXP: Doctor Who, Wolverine (e ocasionais Magnetos), Coringa, Robin, Homem-Aranha (sem máscara), Gandalf, Harry Potter, Chaves & Chapolin, Watchmen e muitos bonés de Mario e Luigi. E vi um Wally (Waldo), que dessa vez não estava nada escondido.

– Quase não vi: cosplays de figuras de animes como “Dragon Ball” , “Cavaleiros do Zodíaco” e “Naruto”. Mas vi alguns personagens de “Pokémon”. Heróis japoneses, aliás, foram mais raros nos primeiros dois dias. Será que os universos do pop japonês e das HQs ocidentais realmente não se misturam tanto?

– Sobre as camisetas: nem Batman, nem Superman, muito menos Homem-Aranha. O símbolo de super-herói mais constante das estampas era o do Capitão América. Provavelmente ajudou o fato dos dois filmes estrelados por Steve Rogers serem muito bons, mas nem isso deveria justificar a enorme quantidade de escudos tricolores com a estrela branca no meio. Uma em cada cinco camisetas com logotipos de heróis era essa. Mas também vi muitos raios do The Flash, perdidos entre morcegos, aranhas e o “S” de Krypton.

E ainda tem dois dias de Comic Con Experience. Corra para lá porque vai lotar.


Entrevista: o ano perfeito do Boogarins (e o que 2015 promete para a banda)
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Pablo Miyazawa

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“Dinho” Almeida (à esq.) e Ynaiã Benthroldo, metade do Boogarins. (Foto: Mídia Ninja/Divulgação)

O Boogarins foi uma das unanimidades da música brasileira em 2014.

E não está errado quem acha que eles surgiram “do nada”. Há pouco mais de um ano, o grupo formado em Goiânia jamais tinha feito shows fora do próprio estado. Mas graças a um bem executado espírito de “do it yourself” potencializado pela internet, a banda conseguiu lançar seu primeiro disco nos Estados Unidos antes mesmo de ter qualquer registro oficial no Brasil.

O grupo começou as atividades em 2012, ainda como uma dupla. Sozinhos, os guitarristas Fernando ''Dinho'' Almeida e Benke Ferraz gravaram as dez faixas que formam o disco  ''As Plantas que Curam''. O título é uma homenagem à avó de Benke, adepta da medicina natural. Já o nome da banda veio de uma flor, o bogarim, da família do jasmim, que significa o “amor vivo e puro que existe dentro da pessoa”.

A repercussão positiva do disco rendeu à banda convites para se apresentar em festivais internacionais (foram mais de 100 shows fora do Brasil), boas críticas em grandes publicações e certo barulho na imprensa brasileira. No final de outubro, a banda venceu a categoria Artista Revelação do Prêmio Multishow, recebendo o prêmio das mãos de Ivete Sangalo. Semanas depois, apareceu na escalação do primeiro dia do festival Lollapalooza Brasil 2015. Para encerrar o ano perfeito, o quarteto foi uma das atrações do Popload Festival, que aconteceu na semana passada.

Escrevi uma reportagem sobre a trajetória do Boogarins para o UOL Música, que pode ser lida aqui. E abaixo, você confere mais trechos inéditos da entrevista com o guitarrista Benke Ferraz.

***

Ao longo de 2014, vocês fizeram muitos shows para plateias estrangeiras que desconheciam vocês. Daí, o “As Plantas que Curam” passou a repercutir e o público foi respondendo de modo diferente às músicas. Como vocês acompanharam a evolução da recepção ao trabalho da banda? 
Benke Ferraz: Nós tocamos muito pouco fora de Goiânia, antes da turnê internacional. Basicamente alguns shows pelo estado de São Paulo, em Recife e em Uberlândia. Em Goiânia, já tínhamos um publico cativo desde as primeiras apresentações, o que era a única coisa que esperávamos lançando as músicas antes de fazer shows. Após passar seis meses fora do país, tocando em todo canto, era de se imaginar que aumentaria a procura para que tocássemos em novos lugares aqui no Brasil e de certa forma, muita gente já conheceu as músicas. Mas o show é uma experiência totalmente diferente do disco, né? Nos Estados Unidos, pudemos tocar para platéias que nos desconheciam totalmente, caso dos shows de abertura pra atos maiores, como o Guided By Voices.
Mas, como o disco foi lançado oficialmente lá, também encontramos platéias bem familiarizadas com nossas músicas – mesmo que não cantando as letras por motivos óbvios [risos]. Ele esteve na lista dos 10 melhores de 2013 pelo “Chicago Tribune” e tocou bastante nas rádios de música alternativa de alguns estados. Coube a nós cumprir uma rota de turnê que, como diz o Raphael [Vaz, baixista], ''plantasse a sementinha'' em cidades que estivessem entre as cidades onde nós já tínhamos algum respaldo do público.

Você andam experimentando músicas novas nos shows recentes. Como o público está reagindo a elas? Chegaram a modificar as músicas antes de gravá-las para o disco, levando em consideração a recepção a elas ao vivo?
Para mim, é só maravilha [risos]. Tentamos sempre manter o primeiro disco como base do repertório, mas quando podemos fazer sets mais longos, gostamos de mostrar as coisas novas. Com certeza mudamos bastante coisa na hora de gravar. Tem coisa que funciona na energia do show, mas que gravado, com a pessoa podendo escutar aquilo nas mais diversas situações, não vai bater tão forte. Temos isso bem claro pra gente: palco e estúdio são ambientes diferentes, e como banda, procuramos coisas bem distintas em cada um. Mesmo que o disco tenha sido gravado ao vivo, não é pra ser um registro de como a banda soa ao vivo. É para ser qualquer coisa.

E o que você pode falar sobre o disco novo? Nome, faixas, estilo, influências, produtor… Tem previsão de lançamento?
Assim como o ''As Plantas que Curam'', vejo esse novo trabalho como um disco de canção. As influências são muito soltas em estilo e estética, mas tudo aquilo feito com fluidez e verdade acaba nos inspirando a criar e a elaborar, não importa se é lo-fi ou high definition [risos]. O disco foi produzido pela banda. Gravado pelo Jorge Explosión, no Circo Perrotti, em Gijon, na Espanha. A nossa expectativa é ter o disco lançado no primeiro semestre de 2015. Mas sem pressão [risos].

O Ynaiã Benthroldo, ex-Macaco Bong, entrou na banda com a saída do Hans Castro, baterista anterior, que virou pai. Ele é um integrante fixo agora? E no disco, quem tocou a bateria?
Já está rolando muito bem. Pouco mais de um mês tocando com o Ynaiã e temos a impressão de tocar juntos há tempos. O disco foi gravado pelo Hans. Ele ainda fez outros dois meses de turnê com a gente após isso. Praticamente não pôde acompanhar a gravidez. Foi um momento complicado pra gente, mas agora tudo está nos eixos, inclusive as nenês já vieram ao mundo.

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Raphael Vaz (baixo) e Benke Ferraz (guitarra) em ação. (Foto: Mídia Ninja/Divulgação)

Os últimos 12 meses foram intensos para o Boogarins. Vocês surgiram do nada e alcançaram muito em pouco tempo. Quem os vê no palco não imagina que a banda é tão recente, nem que vocês são tão novos (Benke tem 21 anos e Dinho, 22). Como estão fazendo para manter os pés no chão? Há pressões, internas ou externas?
As coisas mudaram demais nesse ano realmente. Por mais que o contato da Other Music [selo que lançou “As Plantas que Curam” nos EUA] tenha acontecido no inicio do ano passado, tudo ainda estava no campo das ideias, não sabíamos o que iria acontecer de verdade.
Acho que a pressão sempre foi muito mais interna por causa disso. A gente sempre quis fazer isso, tocar e tocar e tocar. Mas se ano passado nos falassem que faríamos quase 150 shows em um ano, provavelmente ficaríamos amedrontados [risos] Tendo vivenciado essa rotina aprendemos muito, muito mesmo. Acredito que isso nos fez fincar os pés no chão ainda mais. Esse é o jeito de se fazer as coisas. Ansiosidade, impaciência, vaidade, são tipos de coisas que não podem tomar espaço. O Dinho me ajuda muito nesse trabalho diário do ''despreocupar''.

Quais foram os melhores momentos desses últimos meses – viagens, prêmios, consagração? Alguma coisa que não deu certo, mas que vocês queriam que tivesse rolado?
Aconteceu muita coisa doida, né? Tocamos com muita gente massa, e com certeza não daria pra eu citar um momento em especial para a banda como um todo. Cada um dos meninos deve ter algo pra dizer. Eu fiquei muito feliz quando o Neil Halstead, do Slowdive, veio falar comigo após um show nosso em Oslo. Fiquei em choque. Sorte que uma norueguesa bonita se ofereceu pra tirar uma foto nossa, caso contrario nem teria como provar isso. Ver nosso disco e “Lucifernandis” na lista dos melhores de 2013 da “Rolling Stone” foi uma doideira também. Quando o Black Drawing Chalks conseguiu o primeiro lugar com “My Favorite Way” [em 2009], fiquei muito admirado. Estava no primeiro ano e começando a escrever canções com o Dinho e outros amigos e não via esse tipo de meta no horizonte [risos]. Engraçado como que no meio da correria a gente nem acaba comemorando tais conquistas, mas agora mesmo estou bem feliz.

E que tal a responsabilidade de ser uma das bandas nacionais no elenco do festival Lollapalooza 2015?
Acho demais. Gostamos mesmo de tocar em locais pequenos, mas sempre é legal ter a oportunidade de tocar pra tanta gente assim. O que esperamos é fazer quem assistir nosso show pela primeira vez no Lolla, voltar a nos assistir em algum evento mais intimista, onde podemos extrapolar mais e ter certeza de que o som está alto.

 


Há 20 anos a Sony lançava o PlayStation. E a “culpa” foi toda da Nintendo
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Pablo Miyazawa

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O PlayStation completa 20 anos de existência neste 3 de dezembro.

Eu mesmo não estava atento a essa data. Fui alertado por um repórter de um jornal, que me ligou pedindo uma opinião sobre o tema (e agradeço ao Gustavo Foster pela lembrança. Aqui está a reportagem dele para o “Zero Hora”). Para mim, a data certa da celebração de duas décadas seria em algum momento do ano que vem. Talvez porque o console, o primeiro fabricado pela Sony, tenha saído oficialmente no Ocidente somente no segundo semestre de 1995, e foi então que as coisas realmente começaram a mudar. De qualquer forma, 3 de dezembro de 1994 foi o dia em que as primeiras embalagens de PlayStation lotaram as prateleiras das lojas de eletrônicos e brinquedos no Japão.

É uma data marcante, porque nada mais foi como antes. Antes disso, o mercado de videogames era determinado pela disputa entre Nintendo e Sega, ambas japonesas e tradicionais fabricantes de jogos eletrônicos, que vinham brigando pelo público gamer há quase uma década – com o NES/Famicom e o Master System, respectivamente, depois com o Super Nintendo/Super Famicom e o Genesis/Mega Drive. Lembrando que a Sega ainda lançou o Saturn (também em 1994) e o Dreamcast (1998), para mais tarde encerrar sua carreira de fabricante de consoles.

Mas essa dinâmica mudou com a chegada do PlayStation. Ele marcou o início do fim da era dos cartuchos, mas mais do que isso. Os jogos deixavam de ter apenas duas dimensões para ganhar profundidade, gráficos animados, cutscenes e trilhas cinematográficas. Alguns dos principais parceiros da Nintendo – a Square e seus RPGs – abraçaram a causa da Sony e deixaram a Nintendo a ver navios. O Nintendo 64 saiu só em 1996, mas o estrago do PlayStation já estava feito. A Sony acabou se transformando em sinônimo de videogames mais rapidamente do que qualquer um poderia esperar.

E é irônico – para não dizer sensacional – que a Sony só tenha criado seu próprio console porque ficou magoada com a Nintendo. Essa história é impressionante e pouco comentada, mas determinou os rumos da indústria de uma maneira única.

Na metade dos anos 1980, a Nintendo firmou uma parceria com a Sony, então “apenas” uma poderosa fabricante de aparelhos eletrônicos e tecnologia. A ideia era que a empresa ajudasse a Nintendo a criar o chamado SNES-CD, um acessório para seus consoles com a capacidade de ler discos ópticos. Ao mesmo tempo em que desenvolvia o projeto, a Sony também tinha a intenção de produzir sua própria máquina de jogos, o “Play Station”, que além dos discos, também rodaria cartuchos de Super NES/SuperFamicom. Todo o projeto foi vislumbrado e comandado pelo habilidoso engenheiro Ken Kutaragi (que mais tarde ficou conhecido como “o pai do PlayStation”).

Só que as empresas nunca se entenderam bem em relação ao lado financeiro do negócio – resumindo, “quem ficará com os lucros?”. O contrato entre ambas não era claro e continha várias brechas. Após muito bate-boca nos bastidores e idas e vindas (a história é tão complexa que é impossível saber quem estava certo e quem estava errado), a Nintendo cancelou sua parte do acordo e foi fazer parceria com a Phillips (e como bem sabemos, isso não resultou em qualquer produto relevante). A parceria com a Sony, porém, rendeu um detalhe importante à arquitetura do Super Nintendo: o chip de som do console, criado também por Kutaragi.

As diferenças entre as empresas acabaram se resolvendo, mas não o suficiente para deixar a Sony satisfeita. A humilhação havia sido grande e o orgulho da fabricante ficou ferido (não se mexe com o orgulho de uma empresa japonesa e se sai impune). Mesmo contrariando as vontades de parte dos executivos da velha guarda da empresa, a Sony resolveu apostar na indústria dos videogames. Pegou o projeto do Play Station e investiu pesado no desenvolvimento. Um belo dia, revelou ao mundo que lançaria sua própria máquina de jogos independente. E no final de 1994, colocou no mercado japonês o Sony PlayStation (agora com uma palavra só). No ano seguinte, o produto desembarcou nos Estados Unidos e na Europa.

O resto, como dizem, é história. A Sony se tornou sinônimo de videogames para uma enorme parcela do novo público e jamais abandonou o papel de protagonista da indústria, mesmo com dificuldades financeiras causadas pelo alto custo de desenvolvimento de suas máquinas futuras. A Nintendo, por sua vez, amargou um baque do qual demorou a se recuperar – só voltou a ter grande sucesso com consoles quando se afastou completamente da briga, que agora além da Sony, contava também com a presença da Microsoft e o Xbox. O Wii (de 2006) foi uma volta às origens, e só recolocou a Nintendo novamente no topo das vendas porque ela já não competia mais de igual para igual com as rivais, tecnicamente falando: a empresa do Super Mario voltou a vencer pelas boas ideias e pelos personagens, e não pelo avanço tecnológico e os gráficos proporcionados por sua máquina.

A única certeza é a de que uma parceria consolidada entre Nintendo e Sony daria um rumo totalmente diferente à indústria dos games como hoje a conhecemos. Será que a Microsoft teria enfim entrado na jogada, ou será que outros fabricantes em atividade na época, como Sega, NEC e Atari, continuariam a ter papéis de destaque? Também é impossível não questionar: será que a Nintendo se arrependeu amargamente de ter rompido o acordo com a Sony?

De qualquer modo, é interessante constatar como uma indústria de games completamente diferente foi determinada a partir dos destroços de uma parceria esfacelada. O velho ditado diz que para algo novo surgir, é preciso que alguma coisa seja destruída antes. No caso dos consoles de videogames, foi exatamente isso o que aconteceu.


Assistimos a “Chaves” e “Chapolin” com culpa, mas para rir de nós mesmos
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Pablo Miyazawa

Nenhum programa de televisão no Brasil resume melhor a expressão “guilty pleasure” (prazer secreto) do que “Chaves”. E “Chapolin Colorado”. Porque, no fundo, ambos são a mesma coisa: mesmo elenco, mesmas piadas, mesmos cenários, mesmo criador: Roberto Gómes Bolaños, o “Chespirito”, ator mexicano que morreu hoje, aos 85 anos.

Toda criança brasileira que nasceu após a metade dos anos 1970 e assistiu à TV na infância teve contato com “Chaves” e “Chapolin”, nem que só um pouquinho ou por acidente. Desde 1984, ele foi quase onipresente na programação do SBT. Os horários mudam, mas ambos programas continuam na grade da emissora, salvo algumas interrupções (como ocorreu em 2013). Silvio Santos, sábio, sempre enxergou no produto a sua mina de ouro mais durável. Ainda hoje, “Chaves” conquista uma audiência impressionante no horário das 18h30.

Para o “Patrão”, “Chaves” sempre foi o coringa para salvar a emissora em situações críticas. Mas para o público, o seriado representava aquele alívio cômico inocente e extravasador para todas as horas. Nenhum programa do canal ficou tanto tempo no ar dependendo apenas de infinitas reprises. Poucos episódios inéditos surgiram com o passar dos anos, mas a impressão é a de que sempre assistíamos aos mesmos de sempre. “Chaves” dura pouco e não demora a se repetir. E é por isso mesmo que todo mundo acha graça (mesmo que não admita).

Estamos aqui lamentando a morte de Bolaños nas redes sociais porque não queríamos que o Chaves sofresse. Coitado, ele sempre teve uma vida bem complicada, dormindo dentro de um barril, apanhando por falar bobagens, alimentando-se de sanduíche de presunto e vivendo de esmolas e da bondade dos vizinhos. Bolaños já estava doente há tempos e não produzia material novo desses personagens desde os anos 1990. A maioria do que assistimos foi produzido ao longo da década de 1970. E, mesmo assim, é como se o criador continuasse lá em atividade. Assistimos –e rimos– daqueles episódios toscos como se tivessem sido filmados ontem.

É interessante essas sensações causadas por “Chaves” e “Chapolin”. Eles nos fazem voltar no tempo. Cada episódio traz uma sensação nostálgica indiscutível, e por motivos diferentes para cada pessoa. Em princípio, é um retorno ao passado porque tem aparência e cheiro de coisa velha, aquelas piadas gastas, as risadas enlatadas, aqueles cenários e figurinos toscos, a qualidade já sofrida das imagens e do áudio. Mas também é assistir a qualquer episódio e se lembrar de momentos da infância, quando nossas únicas preocupações eram a lição de casa e acordar cedo para fazer prova no dia seguinte. Bons tempos que não voltam mais. E cada novo contato com “Chaves” e “Chapolin” continua a representar um sopro de nostalgia a nos balançar os cabelos. Tente assistir sem encontrar alguma lembrança, ou sem dar uma risada que seja – ainda que por achar tudo muito ruim.

Fico pensando se tal fenômeno poderia ter ocorrido com uma série nacional, como “Os Trapalhões”, por exemplo. A Globo jamais apostou na longevidade e não investiu na eternização dos episódios antigos da turma de Didi, Dedé, Mussum e Zacarias. Pelo menos não da mesma forma que Silvio Santos, que explorou “Chaves” até a última gota. É importante notar que o apelo persistente dessas séries não ocorrem só porque são transmitidas há 30 anos. A “culpa” é dos valores humorísticos ali retratados, eternos, universais e que felizmente não saem de moda.

Cada episódio traz um pacote humorístico completo feito para agradar a todos, sem restrições: a graça circense da piada física, o estilo pastelão dos palhaços clássicos (com direito a tapas na cara e croques na cabeça), as brincadeiras estúpidas de trocadilhos que todo mundo já fez no meio de uma aula de matemática. Quem se identifica com aqueles personagens é porque enxerga neles seres humanos verossímeis e autênticos. Era como se aquelas figuras absurdas existissem na vida real, na vizinhança, nas ruas, no pátio da escola. E isso é o que há de mais encantador no surrealismo narrativo criado por Bolaños: ele soube enxergar e resumir o melhor e o pior do comportamento humano em suas criações.

Nunca fui fã devoto de “Chaves” e “Chapolin”, admito. Quando a mania começou, eu já me considerava em outra. Só assistia sem querer, quando ia almoçar na casa dos amigos após a aula. Preferia desenhos animados e a “Sessão Comédia” da Globo. Mas era impossível ver até o fim sem absorver as piadas, os bordões e toda aquela mitologia esquisita. E assim foi com o passar dos anos. Hoje, compreendo a importância. Ainda mais quando percebi que a minha geração se identifica mais com o mexicano “Chaves” do que com os brasileiríssimos “Trapalhões”. Tem que haver algum mérito nisso.

Roberto Bolaños pode ter partido, mas Chaves e Chapolin jamais sairão de moda. Continuarão vivendo na TV, na internet, nas ruas, nas brincadeiras no fundo da classe. Permanecerão moleques para sempre.


O novo Star Wars ganhou um trailer, mas trouxe mais perguntas que respostas
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Pablo Miyazawa

J.J.Abrams levou ao pé da letra a ideia do “teaser” (provocação): esse novíssimo vídeo promocional de “Star Wars: The Force Awakens” – no Brasil, “O Despertar da Força” – não refrescou em nada qualquer dúvida. Pior, só serviu para gerar todo um pacote de novas perguntas aos fãs ansiosos.

Você já deve ter visto o teaser uma, duas, vinte vezes na última hora. Então se é fã, deve ter indagações parecidas com as minhas. Enumero a seguir as dez questões que mais estão me incomodando. Quem puder ajudar, é só escrever as opiniões nos comentários lá embaixo.

1. Começamos ouvindo um narrador misterioso, com forte sotaque estrangeiro (ou sou eu que não estou entendendo direito?). “There has been an awakening. Have you felt it?” (Houve um despertar. Você sentiu?). Pelo tom macabro, só pode ser um vilão. E se esse é um vilão falando, então parece certo que ele se refere ao despertar de alguma força maléfica. O lado negro?

2. Parece não haver dúvidas de que a primeira cena se passa no deserto de Tatooine, terra natal de Anakin Skywalker. Ou será que não? De repente, aos 22 segundos, bú!, o primeiro susto, para combinar com o tal “despertar”. Quem seria o soldado vestido de branco que se levanta de repente, aparentemente perdido e desesperado? Aquilo não está parecendo um uniforme de stormtrooper – e eles fizeram questão de nos provar isso mostrando as costas da armadura. A não ser que o design da armadura tenha mudado…

storm

3. Em seguida, um robô – uma versão turbinada das unidades R2 – desliza pelas ruas de Mos Eisley, o porto espacial de Tatooine. Dá para ver pelas sucatas de pod racer ao fundo. Mas por que tanta pressa?

r2

4. Em um trecho sombrio, enxerga-se um exército de stormtroopers estilo old school fortemente armados e desembarcando em algum local indefinido. Quem os juntou e os armou, e de onde vieram, se todas as tropas do Império explodiram junto com a segunda Estrela da Morte em “O Retorno de Jedi”? Daqui alguns segundos, teremos mais certeza de que o antigo arsenal do Imperador não foi inteiramente destruído. E perceba como o design dos capacetes é diferente daquele que conhecemos na primeira trilogia.

troops

5. A garota misteriosa a partir do momento 0:37 certamente está em Tatooine, e assim como o droid arredondado, está com bastante pressa. Mas o veículo que ela comanda é bem mais interessante que aquela carroça pilotada por Luke Skywalker no filme de 1977.

tatooine

6. Aos 0:45, enfim vemos os mocinhos – um grupo de X-wings sobrevoando um planeta esfumaçado e aparentemente gelado (uma referência à Hoth de “O Império Contra-Ataca”?). Vale notar que certos hábitos não mudam: o piloto traz o símbolo da Aliança Rebelde no capacete e ainda usa macacão cor-de-laranja. O que não deu para ver: será que as naves ainda utilizam unidades R2 acopladas?

piloto

xwings

7. Nos 0:50, o trecho mais intrigante do teaser. Alguém encapuzado – de quem só enxergamos as costas – vaga de maneira decidida por uma floresta sombria, até mostrar que não está para brincadeira, sacando um sabre de luz vermelho com duas “lâminas” horizontais extras (brincadeiras sobre a natureza fálica da espada em 3, 2, 1…). Em princípio tendo a arriscar que aquele seria Luke Skywalker, que de acordo com as teorias de fãs, estaria desaparecido há muito tempo. O fato de a voz misteriosa dizer “the dark side… and the light” (mas que sotaque alemão é esse?) só aumenta minhas dúvidas. Estaria o narrador se referindo a alguém dividido entre os dois lados da Força?

sabretriplo

8. Agora sim, a cena que fez os fãs de carteirinha se arrepiarem. A Millenium Falcon, espaçonave mais adorada da saga, surge apressada, dá rasantes por um deserto (novamente, Tatooine?) e encara dois caças TIE-Fighter, as tradicionais naves de combate corpo-a-corpo do Império. Se restava alguma dúvida sobre o retorno do antigo Império Galáctico (ou de sua engenharia) em “The Force Awakens”, esta cena resolve a questão. Ou será que não? Outra dúvida: quem será que está pilotando a Falcon com tanta destreza? Han Solo? Eu espero que sim.

tie fighter

9. Bem no finalzinho, no trecho 1:25, escutamos o característico som de um sabre de luz sendo acionado. Qual a necessidade disso?

10. Falta muito para 17 de dezembro de 2015?


Batman encarando Darth Vader com um sabre de luz? Esse filme eu queria ver
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Pablo Miyazawa

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Quem diria que o Batman carrega um sabre de luz no bat-cinto de utilidades? (Foto: Reprodução)

Quem gostaria de assistir a um crossover entre o universo ”DC“ – de Batman e Superman – e a mitologia “Star Wars” no cinema? Confesso que sim, eu gostaria.

Em se tratando da indústria do entretenimento, não dá para duvidar de mais nada hoje em dia. Qualquer mistura é possível quando o objetivo é renovar séries decadentes, movimentar rios de dinheiro e angariar plateias. Mas graças à internet e à criatividade de artistas independentes, essas ideias malucas podem sair do campo da teoria. E melhor ainda, atiçando a imaginação dos fãs sem irritá-los e sem forçação de barra.

O vídeo ali abaixo mostra o que aconteceria se o Batman e o Darth Vader se encarassem em uma batalha mortal com sabres de luz. Mais do que isso não dá para contar. Só o que você precisa saber é que é um filme não-oficial, ou seja, foi produzido por uma produtora independente norte-americana chamada Bat in the Sun, liderada pelo cineasta amador Aaron Schoenke, de 30 anos.

Nerds até a medula, apaixonados por detalhes e absurdamente talentosos, os caras da Bat in the Sun produzem de tempos em tempos a webserie “Super Power Beat Down”, curtas de live-action em que misturam heróis de universos distintos em quebra-quebras mortais. Se as interpretações não são lá essas coisas, chama a atenção a altíssima qualidade dos efeitos especiais, que quase em nada ficam devendo às produções hollywoodianas de alguns anos atrás.

Eles já colocaram o Batman contra o Wolverine. O Wolverine contra o Predador. O Gandalf contra Darth Vader. O Master Chief contra o Capitão América. E agora é a hora do Homem-Morcego e o Lord Negro dos Sith.

Confira, vale a pena. E torça para o próximo filme “Star Wars” (que aliás tem um teaser novo divulgado hoje) ter uma vibração no mínimo parecida.


Ele vendeu pulseirinhas por Paul McCartney. E conheceu o ídolo em pessoa
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Pablo Miyazawa

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Acenando, Paul mostra a pulseirinha de Matheus no punho esquerdo. (Foto: Marcos Hermes/Divulgação)


O menino Matheus Bustamante Battiato conseguiu tudo o que sonhava – e mais.

O começo da história você leu antes aqui: o garoto paulistano de 10 anos produziu pulseirinhas de plástico e as vendeu pela internet para levantar dinheiro para ir ao show de Paul McCartney. Após arrecadar a verba e comprar os ingressos, Matheus foi mais longe ainda. Conheceu Paul McCartney e entregou pessoalmente ao beatle uma das pulseirinhas. Para fechar a história surreal com chave de ouro, Paul usou o enfeite verde e amarelo no punho esquerdo durante todo o show de quarta (26), o último da turnê no Brasil.

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A inconfundível mão de Paul (Marcos Hermes)

A saga de Matheus teve final feliz graças à persistência da tia dele, Danila Bustamante. Utilizando uma rede de contatos e um tanto de insistência, ela conseguiu que a campanha do sobrinho chegasse aos ouvidos da equipe de produção dos shows. Minutos antes da apresentação, Paul recebeu a dupla empreendedora no camarim. Matheus presenteou o músico com uma de suas pulseirinhas. O ídolo já os esperava e agradeceu, os abraçou e conversou com o jovem fã por cinco minutos. Após o show, Danila me fez um relato exclusivo de todo o acontecimento, que publico abaixo:

“É engraçado que falávamos de conhecê-lo, como seria, o que podíamos dizer de legal, mas sempre foi um sonho. Quando surgiu a possibilidade através da produção dele no Brasil e dele de fora, nós congelamos. Não pensamos direito como seria, o que falaríamos, como reagir.

Esperamos super umas duas horas, e quando faltavam 15 minutos para o show começar, o produtor veio e disse: “You are a lucky boy!” e falou que entregaríamos as pulseirinhas em mãos. Fomos levados para uma salinha no backstage, estavam lá o fotógrafo oficial e a equipe. Todos disseram: 'Calma que ele é calmo'. Num piscar, ele chegou e disse: 'Hum, Matheus, you are the bracelet boy! And you?'. Eu disse: 'I´m the aunt'. E ele: 'The super aunt!'. Emoção total!

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Danila e Matheus, antes do show e do encontro com Paul. (Foto: Carolina Bustamante)

Paul parabenizou o Matheus pela iniciativa, e eu falei que ele trabalhou duro para conseguir produzi-las e vendê-las. Paul disse: 'Very smart, very intelligent. Continue fazendo e não pare, não podemos parar'. Entregamos as pulseirinhas, ele escolheu a verde-amarela e colocou na hora. Perguntei se cabia no braço dele, e ele, super tranquilo: 'Ah, super cabe'. Conversamos mais e o Matheus disse: 'I love you, Paul'. Eles se abraçaram, fizeram um 'joinha' para a foto [que foi tirada pelo fotógrafo oficial MJ Kim e que gostaríamos muito de ter] e desejamos 'good luck' para o show. Ele agradeceu e disse pra gente mandar bala sempre!

Ele sabia de tudo antes de chegarmos. Sabia que nós tínhamos vendido muitas pulseirinhas e que tínhamos trabalhado muito, que o Matheus tinha aparecido em vários veículos. Ele se sensibilizou porque disse que é preciso trabalhar muito pra se conseguir o que quer. O plus foi ele ter usado a pulseirinha o show inteiro! Ele foi um lord, com certeza. Poderia ter deixado de lado o presente, ter dado pra produção.. Mas ele colocou na hora e fez o show todo com ela.”

E emocionado como não poderia deixar de estar, Matheus declarou em seguida que foi “o momento mais incrível da minha vida”. Realizar uma proeza dessas não é mesmo algo que acontece todos os dias quando se tem 10 anos de idade…